Candeia

 

            CANDEIA 1. (Do lat. Candela, ‘vela de sebo ou de cera’.) S.f. 1. Pequeno aparelho de iluminação, que se suspende por um prego, com recipiente de folha-de-flandres, barro ou outro material, abastecido com óleo, no qual se embebe uma torcida, e de uso em casas pobres; candela, candil: “Leva a candeia e vê se os alumia.” (Domingos Carvalho da Silva, Liberdade embora tarde, p. 34).
            CANDEIA 2. Adj. 2 g. Bras. Elegante, casquilho.
(Holanda, Aurélio B.  Novo Dicionário da Língua Portuguesa.  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 2ª ed. revista e ampliada)

            Há algo de misterioso em torno da luz: sem ela o homem jamais imergiria das sombras - luz e sabedoria ultrapassam os limites da simples metáfora.
            A candeia ilumina e aquece, é fogo-luz.  Em sua construção, o ar, a terra, o fogo, o líquido.  Quatro elementos, quatro forças da natureza.  Coisa de gente pobre.
            Quem terá sido Candeia, o negro compositor-aguerrido-valente-oprimido-policial-lírico-político-nostálgico-revolucionário?  As biografias podem se encarregar de lhe dar o perfil.  Mas o que representou Candeia?  Isso, de fato, nos interessa.
            A luz aponta a direção, encaminha navegantes, desbrava caminhos.  Em essência guia, de fato conduziu a sua gente, esse negro crescido junto aos batuques de família.  E aqui, família não é só um fator de consangüinidade; indica, sobretudo, convivência, identificação, laços feitos com outros nós.  Coisa de gente pobre.
            Consciente da importância da preservação das referências culturais, também soube ser pioneiro, contestador.  Sua alma sempre revelou o traço dos grandes homens: a força dos líderes e a generosidade dos poetas.
            Impregnado de Portela até a medula.  Cantador de sua amada.  Só os amantes sabem a dor de amar e sofrer pelos arrítmicos descaminhos do amor.  Juras, saudades, traições, longas noites de prazer, orgias, embriaguez.  Poemas, melodias, canções: a musa se exalta e se lamenta.  Coisa de gente pobre.
            Deixou sambas, deixou lutas, exemplos, lições.  E deixou seguidores, amantes, amigos, fãs.  Compositor de sambas de quadra, de partidos altos, de sambas de enredo.  Portelense das artes negras:  Quilombo. 
            Candeia habita entre nós, porque o coração de um portelense tem a luz de Candeia.
            Axé!!!

Rogério Rodrigues Santos
(Pesquisador e autor de conteúdo da HP da GRES Portela)

 

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