Carmen Miranda - 2

 
          Josué de Barros, dono de enorme faro e muito amigo das duas irmãs, Carmen e Aurora, vislumbra-lhes o sucesso. Aurora Miranda é quem conta: “Josué ficou encantado com Carmen, achando-a maravilhosa. Ele conheceu a família e, com muito jeito após conseguir o apoio da família dela, portuguesa e severa, começou a integrar Carmen Miranda no meio musical. Nesse tempo tudo era amadorístico, e, não, propriamente profissional”. Seu primeiro disco foi Triste Jandaia e Dona Balbina, duas músicas do próprio Josué, exímio violonista. Em seguida, Taí (de Joubert de Carvalho), o grande sucesso que a lançou no Brasil. Com sua voz aguda e alegre, Carmen imortalizou essa linda canção da música popular brasileira. Na época, Taí vendeu cerca de 35.000 discos, uma enormidade. Sucesso no carnaval.
          Em um ano ela estava famosa em todo o Brasil. A RCA Victor rivalizava com a Odeon – a Odeon tinha no Francisco Alves o seu principal ídolo, e a RCA Victor, a Carmem Miranda.
          
Em 31, Carmem viaja para a Argentina ao lado de Mário Reis e Francisco Alves, fazendo grande sucesso em Buenos Aires. Voltou algum tempo depois, já com O Bando da Lua. Era um período especialmente exitoso. Além do samba, havia a dança. O Vadeco, do Bando da Lua, dançava com Carmen e assim o show terminava com infalível sucesso.
          O estouro nos anos 30 coincide com o crescimento do rádio. Vargas autoriza os comerciais de rádio, que, assim se expandiu, ganhou recursos e meios de expressão, criou o cantor e o artista de rádio. E, no outro lado, gerou o fã. Décio Pignatari diz que “Carmen inovou porque ela fez a fala cantada e usou o microfone tal qual o Mário Reis. Não mais havia a necessidade do vozeirão, que também existiu e acompanhou este momento.” Caymmi diz que entrou para este rol, da noite para o dia. José Lino Grünewald, outro estudioso que cedo partiu, registra ter Carmen gravado praticamente todos os grandes compositores da época, acompanhada pelo grupo montado por Pixinguinha.
          
O carnaval com os corsos, os carros alegóricos, o carnaval de rua, as marchinhas, as rádios a reverberar os sucessos populares – foi um período glorioso de um Rio mais feliz e também da música popular brasileira.
Há muito mais a contar sobre Carmen Miranda. Mas sobre sua passagem bela e vibrante pelo Carnaval Carioca, acho que já toquei no essencial. Ademais, o espaço acabou.

Artur da Távola
(Publicado originalmente no jornal O Dia em10 de fevereiro de 2005)

 

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