A doce ilusão do carnaval

 
          O carnaval está bem próximo e com uma notícia aqui e outra acolá, já é bem possível ver o que acontecerá na avenida.
          Uma grande bolha com pessoas dentro, alegoria que dança com 11 movimentos, outra que se transforma, um exército de cartas de Alice no país das maravilhas...
          Gravação de novela em pleno desfile, aula de balé para mestre-sala e porta-bandeira, acrobacias na bateria, engolidores de fogo, reciclagem de gente e mais, muito mais.
          Até os personagens do filme "Planeta dos macacos" estarão lá, sem esquecer que Jesus Cristo vem no último desfile.
          Estamos falando de Escolas de Samba?
          É isto mesmo. As previsões estavam certas - "É fantástico, virou Hollywood isso aqui...". São 14 agremiações que farão inveja até nos produtores de Hollywood.
Depois das reedições de 2004, uma tentativa de aumentar a qualidade das produções de samba-enredo, é a vez do inédito. Unidos da Tijuca engrossou o caldo ao apresentar no último ano a alegoria do DNA humano e uma comissão de frente formada por robôs.
          O que era tendência virou modismo, fortalecido pela idéia do ponto extra (0,1 para escola que apresentar algo novo, vem como teste em 2005).
          Começam os questionamentos e exigências: E a Portela, a Porto da Pedra, a Vila Isabel, a Tradição, a Caprichosos... o que trarão para avenida?
          Temos que aguardar, é como esperar que uma caixa mágica se abra e dali saia muita coisas novas. Tão diferentes quanto nunca se viu. Mais coreografias, mais brilhos, mais luxo...
          E o samba, quem levou?
          Parece ter ficado por conta de desfiles com menos visibilidade, menos requinte e mais tradicionais...
          Pode ser visto no sábado ou na terça-feira de carnaval, ou em algum outro lugar fora da Marquês de Sapucaí.
          Veio o luxo, a profissionalização, o patrocínio, a correria - que fez o sambódromo parecer mesmo um autódromo, agora a valorização do novo.
          E a avenida deve ser ampliada para receber mais pessoas nos próximos anos. O povo? Ah! O povo assiste do viaduto ou vai nos ensaios que antecedem a festa.
          O samba a gente aguarda ansioso, numa escola conservadora ou numa reedição - se é que elas sobreviverão daqui pra frente. Esse carnaval tem investimento, patrocínio, muito dinheiro sustentando tudo.
          Mas, mesmo assim, a gente cruza os dedos, torce e sofre, embora o formato seja tão diferente. Defendemos nossa escola, mesmo que outra venha mais bela. A nossa é a melhor, ainda com aquele buraco que só os jurados viram...
          Assistimos todas as agremiações na Marquês ou pela TV, damos nossas próprias notas e acordamos na quarta-feira com um refrão na cabeça.
          Apuração!
          Frio na barriga, quem sobe e quem desce. A campeã realmente mereceu o título?
          Acabou? Claro que não! Tem o desfile das campeãs no outro sábado, mas a campeã do acesso não desfila (Que incoerência, outra coisa da "política"!Deixa pra lá!).
          "Vai passar..."
          E nós, verdadeiros amantes, atravessamos noites, durante anos, acordados para ver o Rio e o maior espetáculo da terra.
          Cada qual de seu modo, no sofá, na arquibancada ou na frisa. Camarote? Talvez!
          Cada um, brasileiro de coração, que corre pra ver uma vinheta no televisor, que ouve samba-enredo nos outros 11 meses do ano, que se encanta, arrepia e emociona ao ver uma escola passar. Que espera que a valorização do samba e a ocupação de seu verdadeiro espaço aconteçam.
          Assim seguimos, vivendo das ilusões e do prazer oferecidos.
          E como já dito por um grande pesquisador leopoldinense:
          Sonhamos e aguardamos, ano após ano, que a avenida seja coberta de azul e branco e a Portela finalmente vença o carnaval. Mesmo tendo outra escola no coração!

Alessandro Ostelino
(Relações Públicas e Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior)

 

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