Esquentando os tamborins

 

Contos da Mula Manca

          Não existe escapatória – você tenha ou não tenha medo, como diria o velho e bom Caetano, o carnaval chegou. Litros e litros de silicone depois, recauchutadas pelas plásticas e lipos e sei mais o quê, as modelos-atrizes e ex- Big Brother novamente invadem a avenida, a Globeleza a tela da Globo, as multidões as praias e os mais animados os salões e os sambódromos. A galera mais pé no chão se contenta com o bloco da esquina, esses que saem de qualquer boteco e alguns escolhem esse período para fazer atividades que no mínimo deixariam os foliões de cabelo em pé.
          Tenho uma amiga que vai aproveitar para fazer um retiro de yoga. Ok que carnaval não chega a ser exatamente o programa que mais me atiça no mundo, mas a simples idéia de passar os quatro dias no Unidos do Mantra Om me dá vontade de sair correndo, apesar de gostar muito de yoga. Em um outro extremo, conheço um cidadão que vai todo ano para Olinda tocar sax para puxar seu bloco, um bando de marmanjos que se veste de mulher. Como ele tem pavor de avião, cruza bela parte do país de ônibus. Perto de enfrentar dias a fio nas estradas brasileiras para se vestir de mulher, o bloco do Om me parece até boa pedida.
          E por falar em Olinda, tenho um casal de amigos, desses animadérrimos, que escolheram justamente o carnaval para se casar lá mesmo, em Olinda – a moça é pernambucana e o marido de São Paulo. Tiveram de suar a camisa, literalmente, para encontrar um padre que topasse fazer a cerimônia durante a fuzarca. Parece que Momo abençoou a união, que continua firme e sendo festejada, todos os anos, com os dois se acabando no frevo local, agora com a trupe aumentada em duas filhinhas.
          Uma outra que faz jóias quer passar esses dias andando por São Paulo olhando para o chão, ao invés de levantar os braços para o céu e se deixar levar pelo ritmo do samba. É que ela trabalha com pedras que recolhe e como vários lugares ficam bem vazios, é mais fácil sair por aí literalmente tropeçando nas pedras. Nem a Mula, que manca, mas raramente tropeça, topa uma atividade dessas. Como para variar deixei tudo pra última hora, de hoje para amanhã escolho meu destino. Até a volta, amados e escassos leitores, e bom Carnaval!

Ruth Barros
Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro “Os florais perversos de Madame de Sade” (Editora Rocco).
(Publicado originalmente no site Comunique-se em 1º de fevereiro de 2008)

 

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