“Olha esse
ponteado, Donga!” – A exclamação com que Almirante incentivava o violão
solista do Grupo da Guarda Velha – entre eles Pixinguinha e João da
Baiana – está perpetuada em um dos discos mais famosos da história da
música popular brasileira, gravado por importantes músicos e compositores
da fase de sedimentação do samba no Rio de Janeiro.
Esse Donga, que provocava tanta admiração no severo Almirante, nasceu
Ernesto Joaquim Maria dos Santos, no Rio de Janeiro, a 5 de abril de
1889, filho de pai pedreiro e tocador de bombardino, com a famosa Tia
Amélia, do grupo das baianas da Cidade Nova, cantadeira de modinhas,
festeira e mãe-de-santo.
Desde menino freqüentava a casa de Tia Sadata, no bairro da Saúde, onde
desfilou no Rancho Dois de Ouro como “porta-machado”, figurante que
abria o desfile brandindo um pequeno machado, em uma dança parecida
com a capoeira. Passou a infância entre ex-escravos e negros baianos,
dos quais aprendeu o jongo, o afoxé e outras danças populares que serviriam
de base para sua carreira musical. Começou a tocar cavaquinho, de ouvido,
e passou para o violão em 1917, tomando aulas com o grande Quincas Laranjeiras.
Iniciou-se na composição – Olhar de Santa e Teus Olhos Dizem
Tudo (que anos depois teria letra de David Nasser) são dessa época
– quando já era freqüentador das reuniões na casa de Tia Ciata. ao lado
de Bucy Moreira, João da Baiana, Pixinguinha, Sinhô, Caninha e outros.
Em tais reuniões nasce Pelo Telefone. que Donga registra como
seu na Biblioteca Nacional, contestado pelo grupo que considerava a
criação de caráter coletivo, por ser oriunda de partido-alto. em que
todos improvisavam versos. Influenciado por João Pernambuco, Donga faz
parte do Grupo de Caxangá com o nome de guerra de Zé Vicente e. em 1919,
convidado por Pixinguinha, integra o conjunto Oito Batutas, de importância
fundamental na história da música brasileira, estreando na sala de espera
do cinema Palais. Em janeiro de 1922 os Batutas se apresentam durante
seis meses em Paris com o nome de “Les Batutas”. Ao retornar, o grupo
atua ainda na Argentina, onde grava uma série de discos na Victor daquele
país, antes de dissolver-se.
Donga passa a tocar violão-banjo, influência trazida da Europa. e em
1926 integra o grupo Carlito Jazz para acompanhar a companhia francesa
de revistas Ba-Ta-Clan. que se exibia no Rio de Janeiro. Com esse conjunto
viaja outra vez à Europa e voltando em 1928 cria com Pixinguinha a Orquestra
Típica Pixinguinha-Donga, eminentemente dançante. responsável por gravações
no selo Parlophon, da Odeon. Em 1932 atua nos grupos Guarda Velha e
Diabos do Céu, formados por Pixinguinha para gravações. Nesse mesmo
ano casa-se com a cantora Zaíra Cavallcanti, com quem viveu até a morte
desta em 1951. Em 1940 participa com composições suas da famosa gravação
a bordo do navio Uruguai, feita por Leopold Stokowski, que colhia músicas
sul-americanas para uma série de discos lançados nos Estados Unidos
pela Columbia. Suas criações mais conhecidas — além de Pelo Telefone
— são Passarinho Bateu Asas, Bambo-Bambu, Cantiga de Festa, Macumba
de Oxóssi, Macumba de Iansã, Seu Mané Luís e Ranchinho Desfeito.
Casou novamente em 1953 e morreu em 1974, no bairro de Aldeia Campista,
para onde se retirou como oficial de Justiça aposentado.
(Fonte
História do Samba - Volume 1 - Editora Globo - 1998)
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