FICHA TÉCNICA 2007

 

Carnavalesco     Gio Salles, Renata Caulliraux e Alexandre Devecchi
Diretor de Carnaval     Comissão de Carnaval
Diretor de Harmonia     Jorge Justino
Diretor de Evolução     Jorge Justino
Diretor de Bateria     Daniel Carvalho
Puxador de Samba Enredo     Lico Monteiro
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Rogério Martins da Silva e Munike Namour Claudia Vicente
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Wallace Dias Pessoa e Umbyaciara Maria Mendes
Resp. Comissão de Frente     Helder Lúcio
Resp. Ala das Baianas     Gilda José
Resp. Ala das Crianças     Comissão de Carnaval
Resp. Galeria da Velha Guarda     Sérgio de Oliveira

 

SINOPSE 2007

Sou Abolição, sou forte e hoje estou com a sorte

Justificativa:

          A curiosidade do homem é tão antiga quanto à humanidade. Desde os primórdios a busca por explicações concedia a fenômenos da natureza condição de deuses, e mesmo depois da ciência moderna algumas buscas ainda continuam mesmo porque a ciência nada mais é do que o senso comum refinado e disciplinado. Um perfeito exemplo disso é a sorte; ela pode ser boa, apenas uma proteção ou o próprio destino - pode ser manipulada, comprada e até mesmo estudada para ser prevista. Pode ser ruim sendo evitada ao máximo - surgem então as superstições. A Acadêmicos da Abolição vai contar no seu desfile toda essa história. Mais do que uma força que determina ou regula fatos cuja causa atribui-se ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação, deuses, símbolos, gurus, ciganos, yalorixás vão tornar mais concreto o que nos parece tão alheio mais que no fundo está tão próximo de nós.
          Jogos de sorte e de azar vão mostrar como a sorte é importante para quem aposta e também quanto é essencial quando buscada com esperança de dias melhores em um país com um povo tão sofrido como o Brasil. Por que a sorte? A resposta é simples: Não importa a raça, não importa o credo - todos querem ter sorte na vida!

Introdução:

          É noite e hoje a minha escola está com a Sorte: Ares, o filho de Zeus vem fazer girar a roda do destino ao nosso favor! O grande homem já ofertou sua virilidade à Deusa Fortuna, que nos rega com toda a sua dádiva! E vem pela voz do Babalaô a mensagem de que Ifá nos cobre com seu manto e nos conduz a um bom destino!
          Ciganos e Gurus se espantam quando revelados de quanta sorte está presente em minha escola!
          A sorte está até nos símbolos! Então, vamos apostar e entrar nesse jogo!
          Mas minha escola segue atenta, de olhos abertos para não passar por baixo de nenhuma escada – ainda bem que o desfile não é numa sexta-feira treze!
          Os diretores de harmonia tiram os gatos pretos do caminho para minha escola passar com a sorte, muita sorte!
          Até porque, para se viver aqui no Brasil, tem-se que ter sorte: têm alguns com a cueca e as malas cheias de dinheiro, enquanto muitos não têm nem o que vestir e o que comer, carregando em suas malas sem alça a bagagem de luta, fé e esperança!
          Mas vou acreditar e vou realizar meu sonho! Vou seguir meu caminho sem olhar pra trás, sem pestanejar! Sei que sou feliz, tenho meu lugar ao sol. Vou brindar a vida com a certeza dos aplausos da sorte!

Sinopse:

          É noite e hoje a nossa escola está com a sorte! Ares, o filho de Zeus faz girar a roda do destino em nosso favor!
          .... Eu apaguei pois está igual!! ......

A sorte, seus símbolos e sua simbologia!

          Sorte é um quase-sinônimo de destino, com a principal diferença de admitir uma divisão entre "boa sorte" e "má sorte" (quando se fala em destino, essa divisão é inadmissível). No entanto, imaginar que existe uma sorte é algo que exige admitir a idéia de predestinação, ou seja, de que algo ocorreu por fatalidade, programação ou desígnio imposto por forças maiores, sejam estas cosmogônicas, metafísicas ou teológicas.
          A concepção de sorte é profundamente enraizada no imaginário popular. Na cultura popular, imagina-se que a sorte possa ser obtida através de artifícios "mágicos", como ferraduras de cavalo, trevos-de-quatro-folhas, etc. A principal questão imposta por esta idéia é: porquê a sorte ora é boa, ora é má ?
          Diversas figuras do imaginário popular representam e buscam explicar a sorte. Ao longo dos milênios, o homem descobriu e tem comprovado que, de alguma forma há como manipular as forças da natureza, desviando as energias negativas para longe de si (de preferência para seus inimigos), canalizando as energias positivas para si.
          Descobriu também que algumas plantas (como a arruda), os incensos e os defumadores, rituais, algumas pedras e símbolos como o trevo-de-quatro-folhas têm poderes curativos e protetores contra forças negativas, conhecidas como "azar". E assim essa superstição ou contraponto de sorte e azar se fixou na cultura e na mente das pessoas: mesmo aquele que não acredita em má sorte evita passar por baixo de uma escada,   cruzar no caminho com um gato preto na sexta-feira treze, quebrar um espelho (por que traz sete anos de azar), colocar a bolsa no chão (que faz o dinheiro acabar) e por aí vai... O que não se sabe na verdade, é se são os símbolos que exercem o poder ou se é a força colocada neles por cada um que os possui que os fazem ter esses poderes "mágicos". O que se sabe é que todo ser humano tende a querer dominar tudo, e que o desconhecido o faz sentir medo. Por isso existe na maioria das pessoas o desejo de conhecer, desvendar e mudar o seu destino ou a sua sorte, utilizando-se de amuletos, talismãs, palavras e rezas, símbolos, oráculos, rituais e até mesmo o antigo e tão saudoso realejo.
          A palavra sorte vem do Latim e quer dizer "destino". Na visão grega, a sorte é simbolizada pela "roda do destino", uma espécie de tear no qual   três mulheres conhecidas como Moiras (em grego significa "reguladoras") tecem o fio da vida: a primeira, conhecida como Cloto – em grego "fiar" – segura o fuso e puxa o fio. Láquesis – "sortear" – enrola o fio e sorteia a duração, penitências e glórias aos seres humanos. E Átropos – de "não voltar", "ser inflexível" – corta o fio da vida, determinando a hora da morte de cada um.
          Eram filhas da Deusa Nyx (Noite), sendo temidas até por Zeus, que não tinha controle sobre suas ações no destino.
          Ares, o Deus da Guerra era filho de Zeus e de Hera, sendo representado com couraça, capacete, lança e escudo. Era um dos mais belos deuses, muito vaidoso e temido por seu caráter cruel, agressivo, desbravador e guerreiro. Pregava o derramamento de sangue e possuía um grito de guerra assustador! Por esse motivo, foi o único Deus que conseguiu interferir n a ação das moiras sobre o destino.

"O Ofertor e a deusa fortuna"

          O conceito de sorte está presente na vida dos seres humanos há muito tempo e em várias culturas. Na cultura romana, a sorte é representada pela Deusa Fortuna, uma bela mulher, com encanto e jeito sedutor. Diferente das Moiras da cultura grega, a Fortuna é uma mulher disposta a conceder favores. Essa Deusa apenas se lisonjeia com a virilidade dos homens ou com um homem que venha possuí-la, domá-la. Essa é a única forma de conseguir os benefícios da Deusa Fortuna.

Ifá, o senhor do destino

          Ifá na cultura africana é o Deus do Destino, da adivinhação. A forma mais usada para se consultar a sabedoria de Ifá é o "jogo de búzios" – o opelê Ifá.
          O jogo de búzios é considerado um oráculo de Ifá, que usa essas conchas como instrumentos divinos da comunicação espiritual "falada" pelos deuses africanos e transmitida aos homens através dos 16 Odus básicos, que se subdividem em vários outros, que são passados através do jogo de búzios para os Babalaôs, Babalorixás e Yalorixás.
          Odus são como signos africanos e simbolizam o destino de cada um e querem dizer Caminho/Destino. Regem ou causam certa influência na vida de cada um dos seres humanos.
          Ifá não é magia: é o transmissor, o sábio dos deuses. A sua arte é considerada esotérica com codificações da vida, do dia-a dia.
          Olorum criou os quatros elementos: a terra, a água, o fogo e o ar . Destes foram gerados os elementos que geraram todas as coisas vivas sobre o planeta. Foram atribuídos a cada um destes elementos quatros Odus, ou seja, quatro signos interligados dos destinos:

  • Terra: Odus Irosun, Egi Laxeborá, Ika Ori e Obará. Representam o caminho da tranqüilidade à riqueza;

  • Água: Odus Egi Okô, Ossá, Egi Ologbo e Oxé. Representam o caminho da dúvida ao triunfo;

  • Ar: Odus Egi Onilé, Ofun, Obé Ogunda e Alafia. Representam o caminho da indecisão até à paz;

  • Fogo: Odus Okaran, Odi, Owarin e Eta Ogundá. Representam o caminho da insubordinação até à guerra.

Os ciganos e os Gurús - "O misticismo está no ar!"

          Desde muito tempo até os dias de hoje, os Ciganos e o Gurus, de uma certa forma têm sido muito respeitados e considerados devido o seu poder de adivinhação e por possuírem segredos de magia, encantamentos e símbolos que trazem sorte, além de conseguirem prever tanto a boa quanto a má-sorte. Muitos acreditam nas suas poções, amuletos, talismãs, ritos, deuses, oráculos, simbologia, mandalas, nos seus poderes de adivinhação e nas suas tradições que solucionam problemas, afastam ou transmutam a má em boa-sorte, e que de maneira geral têm o "poder de interferir" no destino/sorte de cada um.

"Jogos de sorte e azar"

          A questão da boa sorte em jogos de azar serviu de inspiração para a Matemática: conta-se que durante a França do século XV, um certo jogador profissional chamado De Mére indagou a um de seus amigos, o matemático francês Blaise Pascal sobre como prever racionalmente os resultados de uma partida de cartas ou de dados. De posse das questões do jogador, Pascal iniciou uma vasta troca de correspondências com outros colegas de estudos e profissão. Os resultados desse debate evoluiriam posteriormente para uma bem-ordenada "Teoria da probabilidade".
          A sorte pode ser aquela mudança brusca para melhorar o seu destino. Essa mudança pode se produzir ao acaso, nos chamados golpes de sorte. É o caso dos jogadores e apostadores que algumas vezes mudam para melhor a sua condição financeira através dos acertos em apostas. E podem também, em outras horas acabar perdendo todos os bens que possuem por causa dos erros.

"Para viver no Brasil, é preciso ter sorte!"

          A superstição é um traço marcante da nossa cultura e sempre fez parte da vida de todos os brasileiros.
          Até pouco tempo, muitas simpatias permaneciam ocultas, protegidas por segredos invioláveis. Algumas dessas mais poderosas simpatias, rezas e benzeduras foram repetidas durante séculos pelo interior do Brasil e transmitidas de geração à geração. Para que dêem certo e surtam-se os efeitos desejados, precisamos nos conscientizar da força que possuem e desenvolvê-las, para o nosso próprio progresso e de toda a humanidade.
          Alguns dos traços mais fortes dessa cultura tradicional (baseada na cultura dos antepassados e que há séculos vem se ampliando e sendo transmitida de geração à geração) são a superstição e a crendice, típicas das populações rurais mas que convivem muito bem com a modernidade e com os valores contemporâneos, mesmo nos grandes centros urbanos.
          E é amparado por essa superstição e pela crença de que um dia a sorte irá chegar até todos os filhos deste chão, que o povo brasileiro continua resistindo, lutando. Não apenas vivendo, e sim sobrevivendo à toda essa violência e à desonestidade dos governantes, que ao declararem que seu dinheiro foi ganho de forma honesta, já estão sendo desonestos. E não se contentando apenas em roubar, eles vão além e anulam qualquer resquício de possibilidade de grande parte da população ter "sorte na vida". Uma gente que muitas vezes não sabe nem como será o dia de amanhã, que dirá o seu destino, o seu futuro ou sua sorte.

"A realização de um sonho" - "um brinde a sorte!"

          Uma das coisas que se destacam nos seres humanos, principalmente no povo brasileiro é a esperança de que um dia tudo melhore, tudo mude! A esperança em ter a sorte de conquistar a pessoa amada, a sorte de poder ser curado de alguma doença ou de não ser contagiado por uma. A esperança de ser bem sucedido na vida e de que tudo dê certo no final. O desejo de possuir um lugar ao sol, de ter a sorte ao seu lado. A sorte do sonho realizado!
          Agora que a sorte chegou e tudo mudou, só nos resta brindar!

Gio Salles e Renata Caulliraux

Organograma do desfile:

  • Comissão de Frente: - O deus Ares e seus guerreiros – (nove componentes; Ares e oito guerreiros) - Aquele que consegue tecer o fio da vida, do destino e seus ajudantes.

Setor 1

  • Abre Alas: Deuses e Símbolos - A primeira alegoria vem com os símbolos da sorte mais importantes que vão permear por todo o primeiro setor, além de personagens primordiais como a Moira que tece o fio do destino (sorte na Grécia antiga) e a mãe de Ares, Nyx.
    1° destaque: Deusa Nyx (deusa da noite),
    2° destaque: Moira; duas composições representando os símbolos da sorte)

  • Ala 1: Os símbolos da sorte - trevos, ferraduras, os símbolos mais conhecidos da sorte estão aqui representados assim como o realejo, uma antiga forma de adivinhação, e o n° 13, que para alguns significa sorte, para outros azar.

  • Ala 2: As yalorixás (baianas) - As baianas estão representando as mães de santo; aquelas que através dos búzios podem consultar a sabedoria de Ifá.

  • Ala 3: Fitas bentas de santos católicos - Amuletos também inspiram sorte e as fitas bentas são talismãs tradicionais além de protegerem quem as utiliza.

  • Primeiro casal de mestre sala e porta bandeira

  • Ala 4: Os gurus - Através da sua bola de cristal o guru é capa/ de prever passado, presente e futuro....

  • Ala 5: Os ciganos - É milenar a tradição de adivinhação dos ciganos; o taro cigano é consultado para todos os tipos de incertezas....

  • Ala 6: A superstição - Alguns dizem que não acreditam... Mas quem é que passa debaixo de uma escada? Ou deixa um gato preto cruzar o seu caminho? Essa ala representa a superstição que todos nós, no fundo, temos.

Setor 2

  • Alegoria 2: A sorte está lançada - Roleta, dados, cartas.... os jogos de sorte e de az.ar presentes por toda a alegoria.
    destaque: Rainha do Cassino
    duas composições: os jogos

  • Ala 7: A sorte e a matemática - A vontade de ganhar jogos leva o homem a desenvolver cientificamente uma equação matemática: a teoria da probabilidade é a tentativa racional de dominar a sorte!

  • Ala 8: Os curingas (bateria) - Principal carta do baralho - pode substituir qualquer outra ou mudar o valor de uma sequência, levando o jogador a uma vantagem decisiva na hora de ganhar ou virar o jogo!

  • Ala 9: Os naipes do baralho (passistas) - Vermelhos e pretos, ouros, copas espadas e paus.... A ala representa os naipes do baralho.

  • Ala 10: A sorte questionada - Por que alguns têm mais sorte do que outros? Será que a sorte não é manipulada? Essa ala deixa essa dúvida e faz essa reflexão.

Setor 3

  • Alegoria 3: O duende político da sorte e a realização de um sonho - A crítica aos políticos corruptos; a felicidade do povo brasileiro apesar da luta e das privações; a elite e os pobres.
    destaques:  O duende político da sorte e a dama da vitória
    duas composições - as bolas de ouro dos sorteios das loterias

  • Ala 11: Sorte na vida - Dinheiro, felicidade, amor.... símbolos de vitória na vida estão representados nessa ala.

  • Ala 12: Passistas mirins

  • Segundo casal de mestre sala e porta bandeira

  • Ala 13: A esperança do Brasil (crianças) - A esperança do nosso país sempre vem de uma nova geração e nada melhor do que as crianças para representá-la.

  • Ala 14: Velha Guarda

 

SAMBA ENREDO                                                2007
Enredo     Sou Abolição, sou forte e hoje estou com a sorte
Compositores     Waguinho Olá Coração, Zilmar Conde, Marcelo Poesia, Dudu e Carlinhos Maciel
Abolição sacode essa avenida
Girando a roleta dessa vida
Se existe azar na estrada do destino
A sorte grande é o caminho do divino
No  universo da magia
O grão de fé germina e brota a oração
Mistério é a flor da esperança
Que exala na bonança
A essência da adivinhação
De um bom futuro ou desilusão

Orixá no infinito deu a luz à criação
E o segredo está escrito
Na palma da minha mão

Meu país é palco de uma loteria
O cenário... Paraíso financeiro
No teatro dessa tal democracia
Só tem artista com “jeitinho brasileiro”
E o povo vai vivendo por um triz
Levando um patuá prá ser feliz
Na orelha o galho de arruda
Para ver se a coisa muda
Talismã no coração
No bolso o sonho de fascinação

Faço figa... levo trevo
O incenso espanta o mal
Pé-de-coelho é meu  carnaval