Ibrahim, de leve eu
chego lá (Gente fina é outra coisa)
Justificativa:
Falar sobre Ibrahim Sued não é novidade.
Admirado por uns, criticado por outros, ele continua sendo notícia
ao produzir notícia. Com sua visão, sua maneira de dizer as coisas, criou fama que
extrapalou a barreira do society, invadiu a periferia tornando-se
incoerentemente “popular”. E como em sociedade tudo se sabe, são ditos são usados,
indiscriminadamente, por pobres e ricos. Todo mundo o conhece,
amando-o ou desprezando-º Não é apenas uma figura da elite, mas um
destaque da vida carioca na paisagem brasileira. Não há como ignorar
Ibrahim Sued. Quem sacou esta jogada, há mais de vinte anos atrás, foi o grande
Billy Blanc com aquele genial samba de breque “Doutor de anedotas e
de champanhotas / Estou acontecendo no café society / etc...,
gravado por Jorge Veiga. Foi também personagem de peça teatral,
título de filme, tema da marchinha “Bomba, Bomba, Bomba” de João
Alberto Kelly. Ibrahim é uma figura polêmica que está sempre em evidência, dando
seus palpites muitas vezes discutíveis – sobre todos os assuntos. Se
ele está certo ou não, é outro departamento. O que importante é
ressaltar que ele é o mais famoso e autêntico colunista brasileiro.
Renovador, deixou de lado o colunismo puramente social para um
colunismo geral e abrangente. Os cães ladraram, mas a caravana
passou e ele continua, firme e forte, com a notícia na boa, nas
bocas da notícia. E porque pobre também gosta de luxo, nem que seja o luxo fugaz do
carnaval, Ibrahim hoje é tema de enredo de Escola de Samba.
Diga-se, de passagem, que essa notícia se espalhou como “Bomba!
Bomba!” na cidade. Foi um Deus nos acuda! Ibrahim, enredo de Escola
de Samba??? Muitos sorrisos, muitas críticas... Mas, e por que não?
Que o digam as Velhas-Guardas das grandes escolas de sambas, que o
admiram e entre as quais possui grandes amigos. E por acaso, uma das
grandes homenagens feitas ao colunista, na festa dos Trinta Anos de
Reportagem, não foi a apresentação da Velha-Guarda de uma Escola de
Samba? Qual a razão, então, pelo espanto quando essa mesma pessoa é
homenageada por uma escola em ascensão? Vale acrescentar também que foi Ibrahim quem primeiro levou, há
muitos anos atrás, uma ala de baianas para se apresentar no
exterior. Em razão disso, a Escola desfilará com duas alas de
baianas em sua homenagem. Dizendo “IBRAHIM, DE LEVE EU CHEGO LÁ”, o G.R.E.S. Acadêmicos de
Santa Cruz pretende “entrar” no fechado society das grandes escolas
de samba, ser uma delas, ser notícia, ser “su” (sucesso), pois gente
fina é outra coisa. E ninguém entende mais de sucesso e de gente
fina do que Ibrahim Sued. Na grande ilusão do carnaval, vamos sair da periferia, nos cobrir de
beleza e, escondidos na falsa riqueza, brincar de príncipes e
princesas, recriando a alegria e refazendo o amor. E depois... Fale de mim quem quiser!
Sinopse:
Este enredo é uma viagem no tempo. Fatos marcantes e personalidades
que pontilharam a vida e a coluna de Ibrahim estão aqui registrados.
Dizem que ventos de mudança sopram forte no Brasil. Dentro dessa
nova consciência brasileira, nem os cães vão ladrar quando a
caravana do G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz vier surgindo na
Avenida, de leve... mas chegando lá... feito espuma de champanhota,
rendada em plumas, vindo para ficar... E no cintilar dos paetês, a criadagem se ilumina, pois hoje o pobre
é gente fina, misturada a uma multidão de colunáveis. “Ibrahim, de leve eu chego lá”, é a exaltação da vida e obra de
Ibrahim, onde todos os “EZAS” reunidos – pobreza, riqueza e beleza –
trazem delírios de nobreza, misto de cachaça e caviar. De “turco” a Cavaleiro da Legion d’Honneur é o resumo da grande
escalada de Ibrahim, até o momento apoteótico de dizer:
- Sorry, Passarela do Samba, cheguei aqui... De leve.
O Homem
Filho de imigrantes libaneses, o “turco” Ibrahim teve infância e
adolescência pobres, vivendo na zona norte da cidade. Órfão de mãe,
foi criado pela avó, até perde-la também. Depois, foi ficando por
aí... Estudou no Liceu de Artes e Ofício e se diplomou com méritos nas
faculdades da vida. A sua vivência não tem preço. Calado e tímido foi ganhando o mundo a pedradas. Calado para
aprender tudo o que não sabia, tímido por causa dos complexos,
principalmente o sapato furado. Ainda na condição humilde, morou em pensões nas ruas da Alfândega,
Riachuelo e Santo Amaro até chegar a Copacabana. O sapato tinha sola
furada e, enquanto usava um terno, a calça do outro ficava esticada
embaixo do colchão para não perder o vinco. Comia sanduíche barato e
filava chope dos amigos. Engolindo cobras e lagartos, superou complexos e humilhações.
Aprendeu a divulgar apenas as suas qualidades, porque os defeitos
ficam sempre por conta dos inimigos. Deu a volta por cima e na sociedade onde foi barrado hoje é rei e
dita regras. E porque veio de baixo, por ter sido pobre de verdade, sem esconder
isso de ninguém, por ter vencido na vida, por ser espontâneo e
autêntico, mereceu a simpatia do povão porque sua escalada
representa o sonho realizado de milhares de pessoas. Os Acadêmicos de Santa Cruz trazem em seu desfile uma luxuosa tenda
árabe, camelos e diversas fantasias, caracterizando a origem
libanesa de Ibrahim Sued.
O grupo de cafajestes
Alegres, imprevisíveis, agitados e irreverentes. Assim eram os
cafajestes. Rapazes de boa família, bem situados na vida que não
levavam nada a sério e encaravam as coisas com muita alegria.
Divertindo-se com tudo, esperavam sempre dispostos a aventuras
perigosas. O importante era amar, brincar e brigar. Uma grande
fanfarra! Desse grupo faziam parte: Edu (o líder), Carlos Peixoto, Mariozinho
de Oliveira, o Prícipe Dom João de Orleans e Bragança, Baby
Pignatari, Waldemar Bombonatti, Carlos Niemeyer, Alberto Sued, Mario
Saladini, Fábio de Andrade (Procurador de República), Carlos
Lacerda, Paulo Andrade Lima, Ernesto Garcez Filho (Tetito),
Francisco Guize, Celmar Padilha, Carlos Roberto de Aguiar Moreira (
Secretário particular do Presidente Dutra), o craque Heleno de
Freitas, Oldar e Darcy Fróes da Cruz, Cássio França e, mais tarde,
Paulo Soledade. Numa das festas promovidas por esse grupo, Ibrahim teve uma
experiência que marcou o início de sua escalada. Com a célebre frase “Quem te convidou?” o famoso playboy Pignatari
barrou Ibrahim na entrada da festa. O problema foi contornado com a
chegada providencial de Carlos Peixoto e Mariozinho de Oliveira.
E assim Ibrahim entrou na festa. Por dentro, humilhação e raiva e o
orgulho ferido jurando para si mesmo que nunca mais ninguém ousaria
barrá-lo em festa nenhuma. Muito pelo contrário, as pessoas haveriam
de se sentir honradas com sua presença. Os cafajestes promoviam rebus fantásticos com mocinhas de família
que acabavam na base do salve-se quem puder. Reunidos no Bar Alvear, dali partiam para as festas, sempre
predispostos a “fechar”. Assim, quando alguma provocação resultava
em pancadaria, a coisa só acabava com a chegada dos carros-choque da
Polícia Especial, sempre dispostas a baixar o porrete. “E como
disposição era o que não faltava do lado de cá, às vezes as coisas
se prolongavam e as contusões aumentavam”. A entrada de Ibrahim no grupo foi facilitada porque seu irmão,
Alberto Sued, era fundador. Durante muito tempo andaram juntos, com
Alberto querendo arranjar emprego público para Ibrahim.
Nessa ocasião, Ibrahim travou conhecimento com os principais líderes
do PSD, se engajando na campanha eleitoral de Cristiano Machado,
candidato à Presidência da República, que acabou sendo derrotado por
Getúlio Vargas. Essa participação política lhe permitiu conhecer o
casal Ernani do Amaral Peixoto, Juscelino Kubitschek, Negrão de
Lima, Antonio Balbino, Israel Pinheiro, José Maria Alkimim, Oswaldo
Penido, Augusto Amaral Peixoto, Horácio Carvalho, Senado Irineu
Bornhausen. O Grupo dos Cafajestes acabou se dissolvendo naturalmente com o
desaparecimento, num desastre aéreo, do líder do grupo – EDU –
Comandante da Panair, a quem foi dedicada a marchinha carnavalesca
“Zum, Zum, Zum, Zum, Zum, Zum, Zum, Zum, ta faltando um!” – gravação
de Dalva de Oliveira. “O fato de que o Grupo dos Cafajestes foi o caminho por onde
ingressei no convívio com a sociedade carioca teve para mim um
significado muito especial. É que, por serem eles rapazes d ótima
formação, mas que riam das convenções, eu sempre encarei com
espírito leve, com bom humor e descontração os rituais mais
rigorosos do “café society”, não dando bola para os preconceitos e
sobretudo avesso à idéia de imitar qualquer coisa, pois na verdade
sou muito zeloso da minha autenticidade em qualquer plano, seja na
vida profissional seja na particular”. E com este espírito de descontração e muito humor, os cafajestes,
fantasiados, estarão na Avenida, juntos com uma legião de amigos,
para prestigiar Ibrahim Sued.
Caju Amigo
Gente alegre, que gosta de se divertir, está sempre bolando mil
coisas. E assim, e por isso, as curtições vão nascendo.
Com esse espírito, Ibrahim, junto com Carlos Niemeyer, inventou o
Baile “Caju Amigo” que se transformou numa das festas mais alegres
do carnaval carioca. Tratava-se de um baile pré-carnavalesco, cheio de humor e safadeza,
no qual a principal bebida consumida era uma brasileiríssima batida
de cachaça diretamente no caju, e a fruta, aparentemente limpa e
inocente, acabava realizando uma verdadeira explosão na boca dos
incautos. No Caju Amigo, realizado no “Au Bom Gourmet”, acontecia de tudo. Uma
grande farra onde não faltavam as cenas mais pitorescas.
Conta-se que a atriz Jane Mansfield, no auge do baile, dançou
completamente nua (um escândalo naquela época) em cima da mesa,
estimulada pelas virtudes insuspeitadas da estranha e inebriante
fruta brasileira.
Baile do Vestido Branco
Existia no Rio uma festa chamada “Baile das Debutantes” que era
realizado pela revista “Sombra” de Walter Quadros. Após sua morte,
Ibrahim deu continuidade ao evento, organizando o “Baile do Vestido
Branco”, onde, a cada ano, novas cocadinhas eram apresentadas à
sociedade e passavam a freqüentá-la. Era um grande acontecimento social que primava pela beleza, bom
gosto e, sobretudo, pelo lirismo que envolvia a graciosidade das
meninas se abrindo em flor. Trajando lindos vestidos brancos, cheias
de sonhos e esbanjando encanto, elas entravam no luxuoso salão do
Copa, divididas em duas alas para dar início ao momento máximo da
festa. Para o último “Baile do Vestido Branco”, realizado em 1961, Ibrahim
trouxe dos States uma orquestra especializada em festas de famílias
milionárias americanas como os Rickeffelle. Ao som desses músicos já
havia debutado, entre outras, Jacqueline Lee Bouvier, que se tornou
mais tarde Sra. Kennedy e depois Sra. Onassis. As debutantes entraram no salão divididas em duas alas, uma
brasileira, aberta pela Princesa Melly, filha da Princesa D. Fátima,
que ingressou no salão pelo braço do Príncipe D. João de Orleans e
Bragança; a outra ala, americana, tinha à frente a milionária Agnes
Ryan, conduzida pelo Príncipe Felipe Tasso Saxe – Coburgo de
Bragança. A eles seguiam-se as debutantes Ana Maria de Abreu Sodré,
Beatriz Camargo Junqueira, Carmem Silvia de Castro Marchese, Celina
Vargas do Amaral Peixoto (hoje Sra. Wellington Franco), Diana Pádua
Lopes, Edith Maria Vargas da Costa Gama, Elizabeth de Niemeyer
Wrigth, Ellen Bond, Jacqueline Beaeyens, Lúcia de Meira Lima, Maria
Celina Sabóia Gomes, Maria Cristina de Lamare, Maria Eliza Ortenblad,
Maria Letícia Souza Campos, Maria Lourdes Campos da Silva, Maria
Rita de Oliveira Sampaio, Maria do Rosário Thomaz Lopes e Sandra
Munhoz da Rocha. Este tipo de festa marcou época em todo o Brasil. Acontecia não só
na alta sociedade, mas em todos os clubes freqüentados pela classe
média brasileira. Foi bonito enquanto durou – uma inesquecível lembrança – e marcou o
fim de uma era. Estava começando uma nova era de valores, muitos tabus caindo e o
Brasil se transformando. Houve a renúncia de Jânio Quadros, os anos
agitados de João Goulart, a Revolução. Diante desse panorama diferente, já não havia clima para
acontecimentos desse gênero. Para recordar esse acontecimento social, os Acadêmicos de Santa Cruz
retrocedem no tempo e trazem uma alegoria representando o “Baile do
Vestido Branco”, onde estão presentes beleza, luxo, debutantes,
orquestra – todo cenário daquela festa maravilhosa.
Dama de Preto e o Conde de Watterman
Ibrahim sempre teve a sua disposição um conjunto de personalidades
notáveis pela elegância, luxo, talento, etc., como também outros
tipos “notáveis” por razões contrárias. Entretanto, esta facilidade
não impediu que sua criatividade e senso de humor aflorasse.
Como curtição inventou dois mitos, dois fantasmas aos qual “deu
vida” colocando seus nomes freqüentemente na coluna social, como
participantes de festas e acontecimentos. Eram a Dama de Preto e o
Duque de Watterman. Na época da censura à imprensa, Ibrahim terminava a coluna dizendo –
“Não me mandem canetas” – como protesto ao censor que riscava suas
melhores notícias. Nem todo mundo entendeu o seu significado e a
fábrica Parker acabou pedindo para suspender a frase (coincidência
ou não, o mercado de canetas caiu aqui no Rio). O poeta Augusto Frederico Schimidt, por brincadeira, sugeriu a
Ibrahim que lançasse, no lugar da frase, o personagem Duque de
Watterman (nome do inventor da caneta). Por esta razão, Schimidt e Ibrahim se divertiram pra valer com o que
causou essa pessoa inexistente. Muita gente, para se posicionar bem, dizia ter recebido o Duque em
casa; houve até colunista que incluiu o tal nome na relação das
pessoas presentes no Sacha’s ou Golden Room. Como se vê, em sociedade nem todo mundo sabe... (só quem tem
talento).
Dama de Preto
A
Dama de Preto deu o que falar! Foi criada pra designar aquele tipo de mulher antipática, ou talvez
de mau gosto, que Ibrahim encontrava aqui e ali. A curiosidade criou alguns problemas porque todo mundo queria saber
quem era a tal mulher a quem Ibrahim se referia com sarcasmo e
alguma agressividade. Muitas mulheres famosas apontadas como a própria, chegaram a cortar
relações com Ibrahim. E ao mesmo tempo, o modismo do preto invadia as festas. Não faltava
gente querendo “aparecer”, mesmo por má imagem.
Carlinhos Niemeyer, com grande sucesso, deu vida a este personagem,
comparecendo ao Baile do Caju Amigo fantasiado de DAMA DE PRETO. Foi
a primeira e única DAMA DE PRETO que existiu. Em carne e osso, ela também estará presente no desfile, através do
seu “personificador” – Carlinhos Niemeyer.
Glamour Girl
O baile da “Glamour
Girl” já existia quando foi assumido por
Ibrahim. Era um concurso de elegância, charme e beleza que já vinha
entrando numa fase decadência. Com uma nova concepção, Ibrahim transformou o concurso num dos
principais acontecimentos do Rio de Janeiro e do Brasil, já que se
espalhou por São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e
Salvador. Tal como acontecia na lista dos Mais Elegantes, Ibrahim recebia uma
série de pressões e tentações quando organizava a lista das
candidatas a “glamour girl”. Ilde Garavaglia foi a primeira “Glamour Girl” e no último baile
realizado um jovem cantor se apresentou de graça. Seu nome – Roberto
Carlos. Nessa época, Ibrahim fazia um colunismo puramente social.
Desfile Bangu
Quando Ibrahim iniciou sua coluna os Silveira – da Fábrica Bangu –
estavam empenhados em ampliar os negócios, inclusive exportar seus
tecidos para a Europa. Os desfiles Bangu desempenhavam essa promoção da fábrica e Ibrahim
participou com grande entusiasmo pela amizade que o unia aos
Silveira, pessoas muito importantes nos destinos de sua coluna
social. Ainda não era famoso quando participou do “Desfile Bangu”. Sua
presença entre os jurados chegou a causar uma certa surpresa.
Era uma época de grandes preconceitos, em todas as camadas da
sociedade. Mulher séria não desfilava, não era atriz, etc.
Mas, Joaquim Guilherme da Silveira e seu irmão Silveirinha,
quebraram esse tabu. Colocaram na passarela, logo no primeiro
desfile, um grupo de senhoras e senhoritas da sociedade carioca, com
modelos em tecido Bangu, executados pelo costureiro da moda, José
Ronaldo. Sucesso estrondoso. E logo se espalhou pelo Brasil a onda
dos desfiles de moças da sociedade apresentando modelos em tecidos
Bangu. Esses tecidos em si, não tinham, além do lado promocional, qualquer
sentido lucrativo. Era uma iniciativa filantrópica, cujos resultados
materiais eram distribuídos para obras de caridade. Ao lado de Ribeiro Martins, Ibrahim realizou o Desfile Bangu,
durante anos, sempre com um sucesso espetacular.
Casamento: Grace Kelly – Príncipe
Rainier
Ibrahim dizia que as festas que mais tendem a permanecer em nossas
mentes são as de casamento. Talvez porque o casamento seja, entre
todas as comemorações, aquela que mais celebra esperança. Não é
apenas o casamento sem si, mas tudo o que se pode acontecer a partir
daí. Dos casamentos assistidos por ele, certamente, o de Grace Kelly com
Príncipe Rainier, de Mônaco, foi o mais importante. Um verdadeiro
conto de fadas em pleno século XX. “Mônaco engalanou-se para o casamento, e a curiosidade despertada
esvaziou as outras cidades turísticas da Côte d’Azur”.
Muitos incidentes com a imprensa já que mais de 1500 jornalistas do
mundo inteiro estavam em Mônaco querendo cobrir o acontecimento.
Ibrahim, entretanto, por contar com amigos, teve acesso a todas
cerimônias. O famoso play-boy Porfírio Rubirosa, por exemplo, não
conseguiu convites para o casamento. Festas lindas. Luxo, riqueza. A “NOITE DE GALA” – de todas as festas
– a mais rica. Personalidades do mundo inteiro e, entre elas, um
ilustre plebeu – IBRAHIM SUED – o único jornalista sul-americano
presente. Ao seu lado na igreja, figuras como Rei Farouk, Aga Khan, Glória
Swanson, Jean Cocteau, Candes Darcanges e outros.
Nestes muitos anos de colunismo, Ibrahim participou de festas
fantásticas, quer pelo alto nível do serviço, beleza do ambiente,
luxo dos convidados, como pela importância do acontecimento.
Quando pela primeira vez, uma descendente da dinastia dos Windsor
rompia a tradição e casava com um plebeu, Ibrahim estava presente
como repórter convidado pelo Governo da Inglaterra para a solenidade
e credenciado pelo Press Repórter Pass n º 777. Era o casamento da Princesa Margareth Rose com o fotógrafo Anthony
Armstrong – Jones, na Abadia de Westmister. Participou também de uma festa fantástica – pelo alto requinte – que
Antonio Patiño, rei do estanho boliviano, realizou no Estoril com a
presença de quase todas as famílias reais da Europa. No Brasil, esteve presente na recepção à Rainha Elizabeth, no
Palácio São Clemente; nas recepções oferecidas por Roberto Marinho
ao Presidente Craveiro Lopes de Portugal e ao Presidente da Itália,
Giovanni Gronchi. Participou também da recepção oferecida pelo
Presidente Castello Branco ao Xá do Irã Todos esses acontecimentos foram marcantes na vida de IBRAHIM SUED,
não só pela beleza e importância dos mesmos mas, e principalmente
por isso, pelo fato dele estar ali – ser um deles.
Como diria o próprio Ibrahim:
“É mais nobre ser nobre, do que nascer nobre”.
O Banquete do casamento de Grace Kelly com o Príncipe Rainier, pela
magia do conto de fadas, pelo luxo de que se revestiu, serviu de
tema para uma das alegorias simbolizando a presença de Ibrahim Sued
no jet-set internacional.
Hollywood
Ao longo de sua vida profissional, Ibrahim estabeleceu amizades com
famosas personalidades do mundo do cinema. Trazer artistas de Hollywood ao Brasil começou a ser uma constante a
partir do Festival de Cinema de São Paulo.
Durante anos, Ibrahim junto com Jorge Guinle, Harry Stone, a Varig e
Oscar Ornstein, pelo Copacabana Palace, trouxeram ao Brasil grandes
astros e estrelas para conhecer o nosso carnaval, atraindo para cá a
atenção da imprensa estrangeira, além de despertar grande
curiosidade em nosso público. A partir daí, começou uma fase de expectativa, uma certa ansiedade
em saber quem viria para o carnaval.
É poça do apogeu do cinema gerando paixões e criando mitos. Tempo de
inesquecíveis e espetaculares filmes da indústria cinematográfica.
Hollywood – a cidade do cinema – verdadeira máquina de fazer sonhos,
invadia o mundo envolvendo-o no seu manto mágico da fantasia.
Graças a Ibrahim, foi possível trazer, anualmente, celebridades
americanas e européias como Ava Gardner, Susan Hayward, Kirk
Douglasm David Niven, Glen Ford, Kim Novak, Gina Lolobrigida,
Silvana Pampanini, Ginger Rogers, Elaine Stewart, Romy Schneider,
Tony Curtis, Dorothy Dendridge, Joan Crawford, John Wayne, Van
Hoflin, Rita Hayworth, Shirley MacLaine, Elza Martinelli, Jacqueline
Bisset, Candice Bergen, Liza Minelli e muitos outros.
E como cinema e carnaval possuem si o mágico e o lúdico que o homem
necessita, foi possível uni-los para homenagear Ibrahim Sued.
Escolhemos, para representar os anos dourados de Hollywood, os
filmes – BEN HUR e CLEÓPATRA – para que o poder do Império Romano e
o fascínio do Egito marquem presença, enriquecendo o espetáculo
visual em homenagem a Ibrahim.
Elegância
Possivelmente, um dos maiores êxitos da coluna de Ibrahim foi a
organização das listas das “Dez mulheres mais elegantes” e dos “Dez
homens mais elegantes” do país.
Havia uma grande expectativa em torno delas e quando eram anunciadas
causavam admiração, furor, inveja, depressão, etc. Não faltavam
sugestões, pressões e até diretas do tipo – “quanto custa?”
E Ibrahim, tão criticado em tantas oportunidades, há trinta anos
atrás, “arrasou” os preconceitos criando um verdadeiro rebu ao
colocar Ataulfo Alves na lista dos “Dez homens mais elegantes”
Os bacanas não entenderam a inclusão desse nome na lista. Acontece
que, para Ibrahim, elegância é simplicidade com bom gosto. E Ataulfo
Alves, notável compositor de “Amélia” e tantos outros sucessos,
embora não sendo “caixa alta do society”, e sendo apenas negro e
compositor, era um homem elegante e educado, um cavalheiro nos
gestos e nas palavras.
Durante muito tempo este fato foi um prato cheio. Mais tarde, Heitor
dos Prazeres também figurou numa das listas.
Vale acrescentar que Didu de Souza Campos e Tereza de Souza Campos
eram presenças constantes nessas listas, a ponto de serem chamados
de “Casal Vinte”.
Essa fase das listas de elegantes foi encerrada, em razão de
aborrecimentos, decepções e também pelas mudanças que foram
ocorrendo no modo de viver do mundo. Crescia o rock, o tóxico, o
palavrão, os Beatles, a pílula, o jeans, a camisa esporte, etc.
Não havia mais clima para o colunismo apenas social. Ibrahim
transformou sua coluna numa coisa mais complexa, informativa com
assuntos políticos, econômicos, sociais, etc., sempre dando furos
nacionais e internacionais.
Entretanto, jamais fez o jornalismo-marrom. A vida particular das
pessoas sempre foi respeitada. “Assim como passei da coluna social para a de assuntos gerais,
evoluí como gente”.
Anos 50 - Café Society
Como champagne a borbulhar, as imagens vão saltando para
reconstituir aquela atmosfera chique que dominou o Rio nos anos 50.
Década de ouro, das chamalotes, tafetás, esmeraldas, brilhantes e
dos carros importados – Cadillac, Hudson, etc.
Tempo de extrema elegância no Jockey Club, tempo de champanhota e do
caviar nas recepções das Embaixadas e do Itamarati, onde as mulheres
desfilavam com modelos originais franceses – Givenchi, Dior, Jacques
Fath.
Como atração principal, representando esse mundo de Ibrahim, a
Escola apresentará um enorme balde de champanha com dez garrafas que
estourarão sucessivamente, produzindo espuma e borbulhas durante o
desfile. Vogue
Como homem da noite, Ibrahim tem inúmeras lembranças que contam a
história da vida noturna carioca.
Aparecendo depois do falecimento dos Cassinos, o Vogue mudou a noite
carioca, pelo refinamento e competência do seu criador, Barão Max
Von Studart.
Era o lugar mais chic do Rio. Lá desfilaram grades atrações como
Maurice Chevalier, Patachou, etc. Depois, foi a vez das atrações
brasileiras. Tempo de ouvir Sílvio Caldas, Elizete Cardoso, Dolores
Duran, Linda Batista, Jorge Veiga e muitos outros.
O Vogue era o lugar onde era possível comer bem, ouvir boa música,
encontrar todo mundo, saber das últimas, começar e acabar romances,
curtir a elegância e o bom gosto.
“Mas o Vogue acabou numa única noite. Como uma estrela nova,
consumiu-se em sua própria luz”. Um incêndio o destruiu para sempre.
Bola Preta – Bola Branca
Ibrahim sempre freqüentava o Country Club como convidado. Depois de
seu casamento, atendendo aos amigos, resolveu se tornar sócio do
clube. Não foi bem sucedido, sendo recusado, de acordo com o
regulamento do clube, por três bolas pretas na votação do Conselho.
Este fato foi fartamente explorado, mas Ibrahim soube como tirar
vantagem do fracasso. A partir daí, passou a usar, na sua coluna, as
expressões – Bola Preta e Bola Branca – para julgar fatos e pessoas,
de acordo com os seus valores.
Negócios
Dizendo-se “não-rico”, mas tendo o bastante para viver como se
fosse, Ibrahim triunfou como jornalista e como homem de negócios.
Fez aplicações na Bolsa de Valores com grande êxito, durante o
“boom!. Dessa época a frase de alerta quanto ao sobe-desce das ações
– “Olho vivo que cavalo não desce escada”.
Adquirindo obras de artes, inclusive a crédito na Petit Galerie,
ampliou seu campo de atividades.
Promovendo vernissages e artistas plásticos, estimulou o mercado de
artes brasileiro.
Fez também uma passagem pelo negócio de boutique lançando a “Elle et
Lui”, mas logo se retirou.
Junto com Fernando Bôscoli, sócio e idealizador de alguns negócios,
comprou uma lanchonete e uma cerâmica artesanal em Araruama,
transformando-o no simpático centro comercial que é hoje a GIGI.
Quem não conhece?
Naquela ocasião, mandou fazer um cartaz para colocar na estrada, a
título de propaganda: “Agüente firme. Faça pipi no Gigi”. Mas foi
vetado pelo Departamento de Estradas de Rodagem. Surgiu então o
“GIGI, eu chego lá” que acabou usando com sucesso na coluna, como
símbolo do seu otimismo.
Junto com Victor Berbara, Oscar Ornstein e Rubens Amaral, empreendeu
a arriscada produção brasileira de “My fair lady”. Mas tudo deu
certo. Sacudiram a Praça Tiradentes, em franca decadência,
reerguendo o Teatro Carlos Comes, com Paulo Autran e Bibi Ferreira
fazendo um estrondoso sucesso.
Jornalismo
Fazendo parte do Grupo dos Cafajestes e convivendo com pessoas
importantes, sonhava com um emprego. Acabou contentando com um lugar
de repórter credenciado no gabinete do Ministro da Justiça, Negrão
de Lima, garantindo, assim, o pagamento do seu quarto numa pensão da
rua do Riachuelo.
Num lance de sorte e oportunismo, conseguiu uma foto única,
exclusiva, quando da visita do General Eisenhower ao palácio
Tiradentes. Após as fotos oficiais, sozinho, Ibrahim flagra o
momento em que Otávio mangabeira, um dos políticos mais ilustres do
Brasil, beija a mão de Eisenhower. No dia seguinte, a foto-sensação
saiu estampada na primeira página de O GLOBO.
Como fotógrafo free-lance, sempre rodando os acontecimentos sociais,
políticos e esportivos, freqüentava a redação de O GLOBO e do Jornal
do s Sports, onde visitava os amigos. Entre outros, Mário Filho,
Nelson Rodrigues, José Maria Scassa, Ary Barroso.
Aprendendo e abrindo caminho, acompanhava, aos campos de futebol, as
equipes que iam fazer a cobertura dos jogos. Máquina emprestada a
tiracolo, servindo apenas de passaporte para entrar nos estádios de
graça. Foi o início de sua carreira de fotógrafo profissional.
Descobriu sua qualidade de repórter e, como free-lance. Fornecia
informações para uma coluna da “Tribuna de Imprensa”; depois para a
“Folha Carioca”, “Diretrizes”, “Vanguarda” e “O Globo”.
Na “Vanguarda” conseguiu a sua primeira coluna assinada. Chamou-a
ZUM – ZUM, homenageando os amigos Cafajestes e em especial o líder
deles – o Edu, já falecido. Depois foi a vez da “Gazeta de
Notícias”. Colaborou também com a “Manchete”, fazendo reportagens
sociais.
Em seguida, uma coluna dominical no “Diário Carioca” sobre a noite
elegante. Ainda passou pelo “Diário da Noite”, antes de assinar a
coluna – “Reportagem Social” – em “O Globo”, o que causou grande
impacto.
Mas as portas ainda não estavam abertas e surgiram hostilidades e
fortes campanhas pessoais contra Ibrahim. Com o apoio de Roberto
Marinho, travou uma luta com a imprensa marrom até vencê-la. Nunca um ditado foi tão bem colocado como – “Os cães ladram e a
caravana passa”. Ladram, simplesmente, porque temem, rosnam e estão
assustados.
As suas deficiências de expressão também foram alvo de ataques
freqüentes, porém, menos graves. Segundo ele, as regras gramaticais
não são mais difíceis que outras, até mais valiosas, como as morais.
Os seus “tropeços gramaticais” converteram-se numa característica
que o identificava com o povo, por demonstrar que ele era um deles.
Ao longo desses anos, inventou termos e relançou palavras com
significados novos. Very Karr – por exemplo – uma coisa de bom
gosto, foi bolada a partir de um erro de impressão numa crônica de
Machado de Assis, conde lia-se “muito car” (muito cara). Para tal
expressão – Very Karr – criou um antônimo – Shangai – com o sentido
de coisa ruim.
O seu vocabulário pessoal caiu no gosto do povo e ganhou as ruas.
Com novos sentidos, recolocou em cena palavras, expressões e ditados
populares: boneca, champanhota, caixa alta e caixa baixa,
deslumbrada, pantera, su (sucesso), ademã, cocadinha, bola preta,
bola branca, de leve, linda de morrer, em sociedade tudo se sabe,
depois eu conto, geração pão com cocada, sorry periferia, Gigi eu
chego lá, etc.
Amigos dos amigos, Ibrahim recebe deles uma carinhosa homenagem, ao
vê-los desfilando na Avenida, ao seu lado.
Em nome de uma amizade de 30 anos e representando a BELEZA, sempre
presente na vida de Ibrahim, a presença marcante de Marta rocha, a
mais bela Miss Brasil de todos os tempos.
Com reprodução de texto no New York Times e no Washington Post,
citações no Time, Herald Tribune, no Life, no Jours de France, no
Paris-Match, France Soir, Le Fígaro, L’Officiel, Corriere della Será
e até no Pravda, IBRAHIM SUED – que entrou no society pela porta de
serviço – é um vitorioso porque tem talento.
“No dia em que a revista Time dedicar duas páginas a você e um
jornal italiano escrever uma manchete – Turco semi-analfabeto domina
a sociedade brasileira – aí você pode pensar em descansar. Porque aí
você é bem mais do que um repórter, você é IBRAHIM SUED”.
Gil Ricon
Roteiro:
Alegoria
1:
Abre-alas -
Apoteose a Ibrahim Sued Alegoria 2: Tripé:
Camelos -
Representando a origem de Ibrahim Alegoria 3: Carro:
Tenda Árabe -Representando a origem Alegoria
4: Tripé:
Anos 50 -
Elementos simbólicos da década de 50 Alegoria
5: Carro:
Banquete -
Representando o luxo do casamento do príncipe Rainier com Grace
Kelly Alegoria
6: Tripé:
Marta Rocha -
Simbolizando a beleza e o charme da mulher brasileira Alegoria
7: Tripé:
Café Society -
Elementos simbólicos da alta sociedade Alegoria
8: Carro:
Cafajestes -
Representação do Grupo Cafajestes Alegoria
9:Tripé:
Orquestra -
Representando o Baile do Vestido Branco Alegoria
10:Tripé:
Vogue -
Representação da casa noturna mais chique do Rio Alegoria
11: Tripé:
Midnight -
Boate famosa Alegoria
12: Tripé:
Balde de champagne -
Representação da vitória Alegoria
13: Tripé:
Uvas -
Elemento simbólico Alegoria
14:Tripé:
Livro -
Representando a publicação de cinco livros Alegoria
15: Carro:
Circo Romano -
Simbolizando o filme BEN HUR Alegoria
16: Tripé:
Egípcia -
Representando o filme Cleópatra Alegoria
17: Tripé:
Caviar -
Elementos simbólicos do Café Society |