FICHA TÉCNICA 1992

 

Carnavalesco     Albeci Pereira e Ney Ayan (in memorian)
Diretor de Carnaval     Nicolau Darze
Diretor de Harmonia     Marco Antônio Santos (Marquinho)
Diretor de Evolução     Marco Antônio Santos (Marquinho)
Diretor de Bateria     Ubirajara Marins dos Santos (Mestre Bira)
Puxador de Samba Enredo     Sobrinho
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Élcio PV e Dóris
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     Jussara de Pádua
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1992

De Quatro em Quatro eu chego lá

Sinopse:

Quatro

          As significações simbólicas do quatro se ligam às do quadrado e da cruz. Desde as épocas vizinhas da pré-história, o 4 foi utilizado para significar o sólido, o tangível, o sensível. Sua relação com a cruz fazia dele um símbolo incomparável de plenitude, de universalidade, um símbolo totalizador. O cruzamento de um meridiano e de um paralelo divide a Terra em quatro setores. Em todos os continentes, chefes e reis são chamados: Senhores dos quatro mares... dos quatro sóis... das quatro partes do mundo...etc.: o que pode significar, ao mesmo tempo, a extensão da superfície de seu poder e a totalidade desse poder sobre todos os atos de seus súditos.
          Existem quatro pontos cardeais, quatro ventos, quatro pilares do Universo, quatro fases da lua, quatro estações, quatro elementos, quatro humores, quatro rios do Paraíso, quatro letras no nome de Deus e no primeiro homem (Adão), quatro braços da cruz, quatro Evangelistas etc. O quatro designa o primeiro quadrado e a década; a tétrade pitagórica é produzida pela adição dos quatro primeiros números (1+2+3+4). O quatro simboliza o terrestre, a totalidade do criador e do revelado.
          Essa totalidade do criado é ao mesmo tempo a totalidade do perecível. É singular que a mesma palavra shi signifique em japonês quatro e morte. Por isso os japoneses evitam com cuidado pronunciar essa palavra: substituem-na na vida cotidiana por Yo ou Yon.
          Número sagrado no Veda, que é dividido em quatro partes (Hinos, Sortilégios, Liturgias, Especulações). O homem também se compõe do quadrado de quatro, 16 partes, segundo o Chandogya Ypanixades, assim como a magia do Soma, que comporta 16 recitações; ou ainda como o ensinamento sobre o Brama, que é distribuído em quatro partes correspondentes aos quatro domínios do universo: as regiões do espaço, os mundos, as luzes, os sentidos. Aquele que, sabendo assim, conhece esta quarta parte do Brama, ou quatro das décimas sextas partes, que são luz, este brilha neste mundo. Conquista mundos luminosos quem, sabendo assim conhece a quarta parte do Brama, ou quatro das décimas sextas partes, que são luz (VEDV,388). Quando ele sabe as quartas partes do Brama, ou quatro vezes quatro décimas sextas partes, o discípulo ou iniciado conhece toda a ciência do mestre. O quatro se revela também aqui, com seus múltiplos e divisores, o símbolo da totalidade.
          Na Bíblia, e especialmente no Apocalipse, este número sugere ainda a idéia de universalidade: os quatro vivos constituem o conjunto dos vivos no mundo da luz (têm constelação de olhos). Os quatro cavaleiros trazem as quatro pragas principais. As quatro cores dos cavalos correspondem às cores dos pontos cardeais e do dia, para mostrar a universalidade da ação no espaço e no tempo: branco é o leste e a autora; vermelho é o sul e o meio-dia o verde-mar, o oeste e o crepúsculo; preto, o Norte e a noite. Os quatro anjos destruidores de pé nos quatro cantos da terra; os quatro rios do paraíso; as quatro muralhas da Jerusalém celeste que fazem face aos quatro orientes: os quatro campos das dozes tribos de Israel (Números, 2); os quatro emblemas das tribos, uma para cada grupo de três, o leão, o homem, o touro, a águia, as quatro letras do nome divino YHVH, cada uma correspondendo a um desses emblemas, segundo uma tradição judaica: Y ao homem, H ao leão, V ao touro, o segundo H à águia. Os quatro Evangelistas: Segundo São Irineu, não podia haver nem mais, nem menos; e cada um dos emblemas das tribos de Israel foi atribuído a cada um deles, numa conformidade bastante singular com as características de seus Evangelhos: o leão a Marcos, o homem a Mateus, o touro a Lucas, a águia a João. Esses animais por outro lado, correspondem às quatro constelações cardeais da faixa zodiacal: o Touro, o Leão, o Homem e a águia. Todos esses quaternários exprimem uma totalidade.
          O Homem pré–histórico, e quem não andou de 4?
          Há cerca de um milhão de anos, o homem deixou de ser um animal quando passou a caminhar sobre os pés e ter inteligência para fabricar rudimentares objetos de pedra. Os australopitecos, um grupo que derivou dos primeiros hominídeos, não mais caminhou sobre quatro patas.
          A grande característica que une os diversos tipos de homem primitivo que deram origem ao homem moderno é o fato de terem sido seres ambientais. Em cada ambiente, o homem primitivo criava um modo de viver e uma tecnologia apropriada de região em que estava vivendo, explorando os recursos naturais pra suprir suas necessidades. Dessa forma colonizaram desertos, inventaram embarcações para conquistar os mares, e dominaram montanhas. E foi isso que serviu de base para as diversas culturas humanas, como as que conhecemos hoje em dia.
          São quatro os elementos da natureza: Água-ar-fogo-terra
          Para os gregos, bem como para a maioria das tradições, os elementos são em número de quatro: a água, o ar, o fogo, a terra. Mas não são de modo algum irredutíveis entre si; ao contrário, transformam-se uns nos outros (Platão, Timeu). E até mesmo procedem uns dos outros, com um rigor que alcança o dos raciocínios matemáticos. Por isso, no Timeu a teoria desses elementos está ligada à das idéias e nos Números, como também à da Participação, que está no cerne da dialética platônica. Cada um desses elementos subdivide-se em variedades, segundo as medidas da participação e das misturas. Assim sendo, pode-se distinguir três espécies de fogo: a chama ardente, a luz e os resíduos incandescentes da chama. Havia um quinto elemento que se podia ligar tanto ao ar quanto ao fogo: o éter.
          A pirâmide tem quatro lados, a esfinge quatro patas.
          No Egito são prodigiosas construções de pedra em forma de leão deitado, com cabeça humana e olhar enigmático saindo da juba. A mais famosa encontra-se no prolongamento da pirâmide de Quéfren, próxima ao Templo do vale, nas cercanias das mastabas e das pirâmides de Gizé, que deitam as suas sombras sobre a imensidão do deserto. A Esfinge sempre guarda essas necrópoles gigantes; o seu rosto pintado de vermelho contempla o único ponto no horizonte onde nasce o sol. É a guardiã das entradas proibidas e das múmias reais; escuta o canto dos planetas; à beira das eternidades, vela sobre tudo o que foi e tudo o que será; vê correr, ao longe, os Nilos celestes e navegar as barcas solares.
          São quatro as figuras estranhas que lembram os “Karibus” assírios, que guardavam o Palácio da Babilônia.
          Na visão de Ezequiel, que remonta a aproximadamente 593 antes de nossa era, observa-se já esta extraordinária simbologia... Discerni como que quatro animais, cujo aspecto era o seguinte: tinham uma forma humana: tinham cada um quatro faces e cada um quatro asas... Suas faces estavam viradas para as quatro direções... Tinham uma face de homem, e todos os quatro tinham uma face de leão à direita, uma face de touro à esquerda... E uma face de águia. Os exegetas vêem aí o símbolo da mobilidade, da ubiqüidade espirituais de Jeová, que não está vinculado apenas ao templo de Jerusalém, mas assegura sua presença a todos os seus fiéis, qualquer que seja a direção de seu exílio. Os mesmo exegetas observam que essas figuras estranhas da visão de Ezequiel lembram os Karibu Assírios (cujo nome corresponde aos Querubins da arca, v. Êxodo, 25, 18), seres de cabeça humana, corpo de leão, patas de touro e asas de águia, cujas estátuas guardavam o palácio da Babilônia.
          A cruz tem quatro lados, é o símbolo da glória eterna e da primeira missa no Brasil
          A cruz é um dos símbolos cuja presença é atestada desde a mais alta Antiguidade: No Egito, na China, em Cnossos, Creta, onde se encontrou uma cruz de mármore do século XV a. C. A cruz é o terceiro dos quaro símbolos fundamentais, juntamente com o centro, o círculo e o quadrado. Ela estabelece uma relação de suas duas linhas retas, que coincide com o centro, ela abre o centro para o exterior; inscreve-se no círculo, que divide em quatro segmentos; engendra o quadrado e o triângulo, quando suas extremidades são ligadas por quatro linhas retas. A simbologia mais complexa deriva dessas singelas observações: foram elas que deram origem à linguagem mais rica e mais universal. Como o quadrado, a cruz simboliza a terra; mais exprime dela aspectos intermediários, dinâmicos e sutis. A simbólica do quatro está ligada, em grande parte, à da cruz, principalmente ao fato de que ela designa um certo jogo de relações no interior do quatro e do quadrado. A cruz é o mais totalizante dos símbolos.
          São quatro as estações do ano: primavera-verão-outono-inverno
          As estações foram representadas de modo diverso nas artes: a primavera, por um cordeiro, um cabrito, um arbusto, guirlandas de flores; o verão por um dragão cuspindo fogo, um feixe de trigo, uma foice; o outono, por uma lebre, parras, cornucópias de abundância transbordantes de frutos; o inverno, por uma salamandra, um pato selvagem, o fogo na lareira, etc.

Observação: Urso polar e neve.

          A primavera é considerada a Hermes, o mensageiro dos deuses; o verão a Apolo, o deus solar; o outono, a Dionísio, o deus do vinho; o inverno, a Hefestos, o deus das artes do fogo e dos metais. A sucessão das estações, assim como a das fases da lua, marca o ritmo da vida, as etapas de um ciclo de desenvolvimento: nascimento, formação, maturidade, declínio ciclo que se ajusta tanto aos seres humanos quanto a suas sociedades e civilizações. Ilustra, igualmente, o mito do eterno retorno. Simboliza a alternância cíclica e os perpétuos reinícios.
          São quatro as fases da lua: cheia-minguante-nova-crescente
          É em correlação com o simbolismo do Sol que se manifesta o da Lua. Suas duas características mais fundamentais derivam, de um lado, de a Lua ser privada de luz própria e não passar de um reflexo do Sol; de outro lado, de a Lua atravessar fases diferentes e mudanças de forma. É por isso que ela simboliza a dependência e o princípio feminino (salvo exceção), assim como a periodicidade e a renovação. Nessa dupla qualificação, ela é símbolo de transformação e crescimento (crescente da Lua).
          A Lua é um símbolo dos ritmos biológicos: Astro que cresce, decresce e desaparece, cuja vida depende da lei universal do vir-a-ser, do nascimento e da morte... A Lua conhece uma história patética, semelhante à do homem... Mas sua morte nunca é definitiva... Este eterno retorno às suas formas iniciais, esta periodicidade sem fim fazem com que a lua seja por excelência o astro dos ritmos da vida... Ela controla todos os planos cósmicos regidos pela lei do vir-a-ser cíclico: águas, chuva, vegetação, fertilidade...
          São quatro os naipes do baralho
          Copa, Ouro, paus, Espada. O trevo da sorte tem quatro folhas.
          Adágios Populares
          Tem gente que tem 4 olhos. Bêbado não faz 4.

          Observação: A mesa tem 4 pernas, a cadeira idem e o carro 4 rodas; segredo é para 4 paredes.
São quatro os cavaleiros do Apocalipse
          E havendo o cordeiro ao aberto um dos selos olhei e ouvi um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão: vem e vê.
          E olheis e eis um cavalo branco e o que estava assentado sobre ele tinha um arco: e foi lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso para vencer.
          E, havendo aberto um segundo selo, eu vi o segundo animal, dizendo: vem e vê.
          E saiu outro cavalo, vermelho: e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da Terra, e que matasse uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.
          E havendo aberto o terceiro selo ouvi dizer ao terceiro animal: vem e vê. E olhei e eis um cavalo preto e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança na mão.
          E ouvi uma voz no meio dos quatro animais que dizia: uma medida de trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro; e não danifiquem o azeite e o vinho.
          E havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal que dizia:
          Vem e vê; e olhei, e eis um cavalo amarelo e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra.
          Pra tudo se acabar na quarta-feira
          Quarta-feira dia consagrado a “Iansã, senhora dos Raios, da Tempestade, dos Relâmpagos e dos Trovões”.

Albeci Pereira e Ney Ayan

Roteiro de desfile:

Alegoria 1: Carro da Pré-História - A descoberta do homem através do 4.
Alegoria 2: Carro dos 4 elementos da Natureza - Água, fogo, terra e ar
Alegoria 3: Carro do Egito - Avenida das Esfinges e as pirâmides sagradas
Alegoria 4: Cassino -Os 4 naipes do baralho, a sorte do trevo de 4 folhas
Alegoria 5: Primavera e Verão - As duas estações
Alegoria 6: Outono e Inverno - As duas estações
Alegoria 7: A Primeira Missa - O símbolo mais totalitário de todos os símbolos (a cruz)
Alegoria 8: O Bar - A irreverência popular onde o bêbado não faz o 4
Alegoria 9: Cavalheiros do Apocalipse - Os cavalheiros do apocalipse
Alegoria 10: Iansã - Ritos africanos, a 4ª feira e as forças da natureza

  • Ala 01: Australopitecos - Homem macaco

  • Ala 02: Homo Sapiens - Homem que já sabia

  • Ala 03: Água - Elemento da natureza

  • Ala 04: Fogo - Elemento da natureza

  • Ala 05: Terra - Elemento da natureza

  • Ala 06: Ar - Elemento da natureza

  • Ala 07: Esfinge - Esfinge guardiã

  • Ala 08: Faraó - Egito

  • Ala 09: Caribus - Figuras estranhas

  • Ala 10: Assirius - Babilônia

  • Ala 11: Bateria - Naipes do baralho

  • Ala 12: Trevo - Crianças

  • Ala 13: Naipes do baralho - Baralho

  • Ala 14: Primavera - Uma das estações

  • Ala 15: Verão - Uma das estações

  • Ala 16: Outono - Uma das estações

  • Ala 17: Inverno - Uma das estações

  • Ala 18 (Baianas): Primavera - Ala das baianas

  • Ala 19: Lua: Fases da Lua

  • Ala 20: Índios - Assistem a 1ª missa

  • Ala 21: Bêbado - Bêbado não faz o 4

  • Ala 22: Cavaleiros do apocalipse - Paz e Guerra

  • Ala 23: Cavaleiros do apocalipse - Justiça e Morte

  • Ala 24: Iansã - Iansã

  • Ala 25: Guerreiros Iansã - Guerreiros da Iansã

  • Ala 26: Escravos Iansã - Escravos da Iansã

  • Ala 27: Bloco - 4ª feira de cinzas

 

SAMBA ENREDO                                                1992
Enredo     De Quatro em Quatro eu chego lá
Compositores     Ney, Brucutu, Jaime, Da Roça, Geovani e Luiz Carlos
Vem de lá
Da pré-história esse 4 milenar
Água, fogo, terra e ar
De 4 em 4 chego lá
Engatinhou no Egito
Trazendo esfinge
Para o nosso Carnaval
Lá vou eu
Sou menino no destino
Desse caminhar

O mundo tá tá no sufoco
Tudo que tiver 4
Dessa vida eu levo um pouco

Na luta entre o bem e o mal
Eu já fiz a minha escolha
Em 4 cantos caminhei
Minha sorte tirei
No trevo de 4 folhas
Haja coração
Felicidade não escolhe estação
4 fases tem a Lua
E a vida continua
O naipe da carta revelou

(Vem amor)

Vem amor
Saciar minha sede
Nosso amor é segredo
Entre 4 paredes

Caiu e 4 iaiá, na saideira
Santa Cruz tá nessa festa
Que acaba na quarta-feira