FICHA TÉCNICA 2003

 

Carnavalesco     Roseli Campos Nicolau, Cahê Rodrigues e Fernando Alvarez
Diretor de Carnaval     Carlos Augusto de Oliveira
Diretor de Harmonia     Waldemir Rodrigues de Paula (Mica) e Mário José Siqueira Campos
Diretor de Evolução     Jorge Carlos Francisco
Diretor de Bateria     Marcos Rogério Cordeiro Ramos (Marquinhos)
Puxador de Samba Enredo     Luizinho Andanças
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Eduardo Carlos Belo e Cínthia Ribeiro da Costa
Segundo Casal de M.S. e P. B.     José Mauro e Fátima Maria Belo
Resp. Comissão de Frente     Carlinhos Muvuca
Resp. Ala das Baianas     Sônia Maria de Souza Carneiro
Resp. Ala das Crianças     Antônio Carlos Sampaio

 

SINOPSE 2002

Do universo teatral à ribalta do carnaval

Justificativa

     O G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz, consciente da necessidade de se transmitir conhecimento e cultura ao povo brasileiro, pretende, através do seu enredo, divulgar de forma lúdica aquela que é a mais completa das artes: o teatro.
     Arte viva, o teatro envolve literatura, pintura, música, dança, cenários, figurinos e inúmeros outros elementos que enobrecem a encenação.
     Instrumento de comunicação social, o teatro assume caráter universal quando retrata os sentimentos humanos.
     Da Antiga Grécia aos dias atuais o teatro sofreu muitas modificações e influências. Entretanto, a arte da representação sempre caminhou ao lado do homem, vivendo ou revivendo situações, transpondo as barreiras da emoção e transportando ao imaginário.
     Diante da ribalta, a realidade e a ilusão se fundem. Personagens saem dos textos e criam vida através dos atores que representam; a platéia que assiste ao espetáculo transfere para si a emoção das cenas, se envolvendo em alegrias e conflitos, tragédias e comédias.
     Contando a história e enaltecendo o teatro, desde as mais remotas épocas, o G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz abre as cortinas do maior palco da Terra para apresentar ao público o seu apoteótico espetáculo: "Do Universo Teatral à Ribalta do Carnaval".

Introdução

     Rindo, chorando, vibrando ou sofrendo, os cidadãos comprimiam-se numa praça de Atenas, cidade mais importante da Grécia, séc.V a.C.
Inesperadamente, Téspis, um homem estranho, vestindo túnica e usando tosca máscara sobre o rosto, ousou imitar deuses e homens.
- "Eu sou Dionísio!".
Diante da surpresa dos atenienses, pela primeira vez esse grego arrogante se fez aceitar como deus de carne e osso.
     E foi o começo de uma aventura que atravessaria os séculos, mesclando verdades e fantasias, risos e lágrimas: o nascimento do teatro.

Das Festas Dionísicas ao Teatro

     Atribui-se aos gregos a origem do teatro. Entretanto, sua forma mais rudimentar remonta das primeiras sociedades primitivas, onde se acreditava no uso de danças e rituais que dominassem fenômeno da natureza e garantissem a sobrevivência humana.
     Como o desenvolvimento do conhecimento do homem em relação a esses fenômenos, o teatro passou a ser o lugar de representação de lendas relacionadas aos deuses e heróis.
     Na Grécia Antiga, em honra a Dionísio (Baco para os latinos) - deus do vinho, da alegria e do entusiasmo, eram realizadas grandes festas, nas quais as pessoas cantavam e narravam em coro poesias chamadas DITIRAMBOS. Nessas festas, conhecidas como DIONÍSIAS, surgiu o primeiro traço de teatro: um dos participantes do coro se desligou e disse ser um deus, e não ele mesmo, e assim começou a dialogar com o coro, surgindo os primeiros atores.
     Foi dado o passo pioneiro para as peças de teatro escritas.
     As peças teatrais passaram a ser representadas em espaços especiais, semelhantes aos teatros de hoje. Eram os teatros de arena - construções em forma de meia-lua, dotadas de arquibancadas.
     Existiam dois tipos de peças teatrais: as tragédias e as comédias. As tragédias eram a expressão desesperada do homem, que lutava contra todas as adversidades, mas não conseguia evitar a desgraça. Os autores trágicos mais famosos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípides.
     As comédias eram histórias engraçadas, gozações, e sátiras da vida.  Tiveram origem nas procissões que os camponeses realizavam pelas aldeias, após a colheita das uvas. Um grande autor de comédia foi Aristófanes.
     Nas encenações gregas, apenas os homens podiam atuar, pois as mulheres não eram consideradas cidadãs. Por isso, usava-se grandes máscaras.
     Na Antiguidade Grega, o teatro apresentou uma das mais altas formas de culturas e deixou um importante legado para humanidade. Suas criações, além de terem sobrevivido aos séculos, são, ainda hoje, atuais e atuantes. Antigas peças como "Édipo Rei" e "Prometeu Acorrentado" são encenadas até os nossos dias.
     O teatro grego, pela sua grandiosidade inigualável, serviu de modelo a teatros do mundo inteiro em suas épocas de maior esplendor.

Uma Fantástica Visão do Mundo

     Durante muitos séculos, o mundo passou inúmeras mudanças, guerras e invasões que interromperam o crescimento das Artes.
     Com o advento do Cristianismo, o teatro não encontrou apoio de patrocinadores, sendo considerado pagão. Dessa forma, as representações teatrais foram totalmente extintas.
     O renascimento se deu, paradoxalmente, através da própria Igreja, na Era Medieval, e foi utilizado como veículo de propagação de conteúdos bíblicos. Com o intuito de influenciar e educar os homens, a igreja criou fantásticos Anjos do Bem, Anjos do Mal e Cruéis Demônios. Essas personagens tentavam impedir que os homens pecassem.
     Enquanto a Igreja monopolizava a educação, cantores e comediantes passaram a atuar nos mesmos círculos.
     Surgiu, assim, a figura do Menestrel-poeta culto e versátil, especializado em baladas heróicas. Um misto de cantor, dançarino e ator. Os menestréis também e estradas, aumentaram o número de artistas errantes.

O Teatro do Povo

     Perseguidos pela Igreja, muitos atores, cantores e comediantes se uniram, formando companhias de teatro que iam de cidade em cidade, em busca de novos espectadores. Esses atores e atrizes, chamados de Saltimbancos, percorriam estradas em carroças, transportando os cenários, os figurinos, maquiagem e até a casa.
     Também em busca de novos horizontes onde pudesse dar asa à criatividade e ao talento, surgiu a Commedia Dell'Arte.
     Os Saltimbancos e a Commedia Dell'Arte popularizaram a trama, as intrigas e as situações, aproveitando máscaras e trajes carnavalescos e os grandes recursos da pantomima.
     O intérprete tornou-se o mais importante elemento do espetáculo teatral. Seguindo um roteiro básico, o artista tinha liberdade criadora, de acordo com a fantasia do momento. Personagens como Pierrô, Colombina, Polichinelo, Arlequim e Pantaleão tornaram-se tão famosos que até hoje são abjetos de inspiração.
     Essa trupe de artistas viajantes deu origem ao circo, que tanto encanta e envolve de mistério e fantasia.
     Os Saltimbancos e, mais tarde, a Commedia Dell'Arte consagraram e fundamentaram a verdadeira essência da encenação, unindo texto, ator e público, sendo considerados aos pontos de partida das diferentes formas de teatro do povo que culminariam no drama Shakesperiano.

O Ocidente entra em Cena

     O teatro, pouco a pouco, foi se transformando num trabalho de arte literária. Por todo o mundo viajou e se expandiu, marcando épocas e escrevendo histórias magníficas obras e inesquecíveis autores povoaram os palcos do Ocidente.
     Na Inglaterra, a eclosão do gênio de William Shakespeare foi um acontecimento extraordinário na história universal do teatro. Shakespeare deixou obras de inigualável qualidade e elevou à perfeição a arte cênica.
     Cada um de seus personagens existiu dentro dele como se ele próprio o fosse representar.
     Como artista, teve o dom de captar, com mestria, as paixões mais turbulentas e os sentimentos mais puros; a mais rica alegria e o mais penoso desespero. Foi magistral o traço dos caracteres com que vestiu seu mundo.
     Em "Romeu e Julieta", fez a personificação do amor irrealizado.
     Em "Sonho de uma noite de verão", ilustrou a fantasia e o sonho. E "Hamlet", talvez sua maior criação, retratou o dilema do homem de intensa vida espirutual, que buscava sempre a essência das coisas.
     Depois de Shakespeare, o teatro na terá de Camões, agigantou-se, espelhando a vida e a alma popular nos tipos mais característicos. Autos como a Barca do Inferno e a Farsa de Inês Pereira têm valor universal.
     Na França, Racine e Moliére representaram o máximo do teatro clássico. Entretanto, um outro gênero teatral roubou a cena, enchendo de humor e música os espetáculos que passaram em revistas os acontecimentos do ano. O teatro de revista expunha a burguesia, seus modos e a hipocrisia da sociedade, atraindo grande público.
     Na Itália, durante o período da Renascença, nasceu um novo tipo de espetáculo, que reviveria, dentro de uma moldura musical, os mitos e lendas da tragédia grega.
     Orfeu, obra-prima que atravessou os séculos, rompeu também as fronteiras italianas e levou a ópera a novas terras.
     A Flauta Mágica, o Casamento de Fígaro e o Califa de Bagdá foram grandiosas óperas que fascinaram o mundo.
     Ao longo do tempo, muitas formas de teatro surgiram e alcançaram plenitude, pois representar, imitar e recriar parece estar na essência do homem.

O Teatro no Oriente

     Formas maravilhosas de teatro surgiram no Oriente há mais de mil anos. No Japão, o teatro de marionetes, o Nô e o Kabuki cujo tema principal é a natureza, constituem um grande espetáculo pela riqueza de figurinos e maquiagem.
     A origem do teatro chinês perde-se na noite dos tempos.
     Canto, dança, mímica e acrobacias compõem as cenas que apresentam belíssimos figurinos. Uma das formas mais conhecidas desse teatro é a Ópera de Pequim.
     Nas Índia, a expressão corporal, o canto e a dança são muito valorizados. Cada gesto dos atores tem um significado especial para as histórias, que contam, quase sempre, passagens da mitologia indiana. Representam-se ainda príncipes encantados, humildes donzelas, feiticeiros perversos, e toda uma trama de ambições, desejos e cobiças.

O Teatro no Brasil

O teatro brasileiro surgiu quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia (séc. XVI). Os jesuítas, interessados em catequizar os índios, trouxeram não só a religião católica, mas também uma cultura diferente, em que se incluía a literatura e o teatro. Aliada aos rituais festivos e danças indígenas, a primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram tinha a feição de propaganda político-religiosa. Nessa época, o maior responsável pelo ensino do teatro, bem como pala autoria das peças foi o Padre José de Anchieta.
     O período colonial foi conturbado e trouxe profundas modificações sociais causadas pelas invasões holandesas e francesas, que ocasionaram um vazio de dois séculos na atividade teatral.
     Ressurgindo da escuridão cultural, o teatro encontrou no Rio de Janeiro o seu palco iluminado. Nos dias espetáculo, as ruas eram percorridas por tocadores de pífaros e tamboretes, que anunciavam a magnífica encenação noturna, ainda que em espaço restrito.
     Como a chegada da Família Real, foi necessária a construção de um teatro que pudesse acolher a corte e visitantes estrangeiros: O Real Teatro de São João foi o centro de toda a vida artística, social e política da capital. Hoje esse teatro se chama João Caetano, em homenagem ao primeiro grande ator brasileiro.
     O teatro nacional só se estabilizou no séc. XIX, quando o Romantismo teve seu início. Martins Pena foi um dos responsáveis por isso. Através da exploração dos costumes nacionais, constituiu-se numa inesgotável fonte para a dramaturgia. Comédia como "O Noviço" e "A Noite de São João" ainda são encenadas com êxito. Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi muito importante para a consolidação do teatro no Brasil.
     O maior dos poetas românticos, Gonçalves Dias foi também o mais representativo dramaturgo da 2ª metade do séc. XIX. Seu legado teatral foi, do ponto de vista histórico, a mais penetrante crítica do poder português sobre o Brasil.
     Outro nome importante foi o de Artur Azevedo que, no final do séc. XIX, dominou o cenário teatral brasileiro, além de ter sido um dos responsáveis pela construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurando em 1908, e fundador do nosso teatro de revistas e comédias musicadas.
     O começo do séc. XX, embora tenha sido o período mais crítico do teatro brasileiro, foi, também, a época da consagração de grandes nomes e de espetáculos. Surgem nesse cenário Procópio Ferreira e Dulcina de Morais entre outros. "Deus lhe Pague", de Joracy Camargo, é considerada a primeira tentativa de teatro social no país e, "O Rei da Vela" leva à cena Oswaldo de Andrade, um dos mais ilustres representantes do Modernismo.
     O Teatro de arte conquistou seu espaço a partir da década de 30, quando foi fundado o Teatro do Estudante do Brasil e começaram a se formar grupos para somar recursos destinados à produção dos espetáculos. Seu fundador, Paschoal Carlos Magno, instituiu a figura do diretor, extinguiu o ponto e valorizou a equipe de cenógrafo e figurinistas. Sua contribuição ao desenvolvimento do nosso teatro foi inestimável.
     A formação do grupo Os Comediantes, renovou a estética do palco brasileiro, que teve um impacto surpreendente com a montagem de "Vestido de Noiva", peça que impôs o nome de Nelson Rodrigues como autor que renovaria o teatro nacional.
     A criação dessas companhias de teatro de um perfil grandioso à arte da encenação: O Teatro Brasileiro de Comédia levou o público de classe média ao teatro; o teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, delineou a interpretação brasileira, utilizando a linguagem coloquial. Com a montagem de "Eles não usam black-tie", de Gianfrancesco Guarnieri o grupo obteve p primeiro êxito.
     O Tablado, liderado por Maria Clara Machado, encantou o público infantil com "Pluft, o fantasminha", "A Bruxinha que era boa", "O Cavalinho Azul", "A Menina e o Vento" e muitas outras.
     Paralelamente, foram-se organizando associações com intuito de organizar, controlar e fiscalizar a classe teatral. Uma entidade beneficente, a Casa dos Artistas, acolhe velhos profissionais de teatro, procurando dar a eles uma vida mais digna, para que possam manter acesa a chama da arte.
     Incontáveis personagens engrandeceram e abrilhantaram o nosso teatro. Para não cometer falhas de esquecimento, citamos apenas aqueles cujos nomes iniciaram ou marcaram uma etapa da história do teatro, no Brasil e no mundo.

A Ribalta do Carnaval

     É carnaval! O maior espetáculo teatral do planeta.
     Em nenhum outro lugar do mundo é possível encontrar um palco tão gigantesco para tantos atores.
     Depois de meses de trabalho árduo, muito ensaio e dedicação, todos os envolvidos na festa de Momo querem encenar, com talentos, os seus papéis.
     Diante dessa ribalta, deixamos aflorar as mais autênticas emoções e a mais contagiantes alegria.
     Afinal, todos somos artistas nesse mundo encantado.
     O imenso público que assiste ao espetacular desfile das escolas de samba interage com os "atores", cantando, dançando e aplaudindo.
     As baianas, sincronizando movimentos, desenham círculos no asfalto com o colorido de suas saias rodadas.
     O mestre-sala e a porta-bandeira, bailando em harmonia, desempenham triunfantes o papel de apresentadores do pavilhão de sua escola.
     Os compositores, responsáveis pela criação do hino que anima e dá vida a esse teatro, libertam a melodia do canto e pedem coro à platéia.
     A velha-guarda, composta por personagens fundadoras dessa festa magistral, guarda no peito o orgulho de exibir seu talento e a esperança da continuidade da magia do carnaval.

Autora do enredo: Rosele Nicolau Jorge Coutinho
Carnavalesco: Fernando Alvarez

 

SAMBA ENREDO                                                2003
Enredo     Do universo teatral à ribalta do carnaval
Compositores     Doutor, Eli Penteado, Jorge Charuto, Marquinho Bombeiro e Fernando de Lima

Vem contracenar
Mesclar verdade e fantasia
Esta cultura milenar
Que vem dos deuses
Traz um mundo de magia
Anjos do bem e do mal
Na era medieval, que sedução!
Estrelas de luz
O artista traduz emoção

Tem pierrô e colombina, amor
O circo encanta, me fascina, chegou
Encena o sonho, abre a cortina, eu vou
Olha, o show já começou

Lindo é descobrir
Toda a magia desta arte universal
Veio do Ocidente até o lado oriental
Brilha, meu Brasil
Tablado encanta
Doce mundo de ilusão!

Salve o sentimento do artista
Que invade a lama do sambista
E alegra o coração

É Santa Cruz, pode aplaudir, alto-astral
O nosso show hoje é aqui, mundial
Você faz esta festa, chegou a hora é esta
Carnaval!