Do
universo teatral à ribalta do carnaval
Justificativa
O G.R.E.S. Acadêmicos
de Santa Cruz, consciente da necessidade de se transmitir conhecimento
e cultura ao povo brasileiro, pretende, através do seu enredo, divulgar
de forma lúdica aquela que é a mais completa das artes: o teatro.
Arte viva, o teatro envolve literatura, pintura, música, dança,
cenários, figurinos e inúmeros outros elementos que enobrecem a
encenação.
Instrumento de comunicação social, o teatro assume caráter
universal quando retrata os sentimentos humanos.
Da Antiga Grécia aos dias atuais o teatro sofreu muitas modificações
e influências. Entretanto, a arte da representação sempre caminhou
ao lado do homem, vivendo ou revivendo situações, transpondo as
barreiras da emoção e transportando ao imaginário.
Diante da ribalta, a realidade e a ilusão se fundem. Personagens
saem dos textos e criam vida através dos atores que representam;
a platéia que assiste ao espetáculo transfere para si a emoção das
cenas, se envolvendo em alegrias e conflitos, tragédias e comédias.
Contando a história e enaltecendo o teatro, desde as mais remotas
épocas, o G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz abre as cortinas do
maior palco da Terra para apresentar ao público o seu apoteótico
espetáculo: "Do Universo Teatral à Ribalta do Carnaval".
Introdução
Rindo, chorando,
vibrando ou sofrendo, os cidadãos comprimiam-se numa praça de Atenas,
cidade mais importante da Grécia, séc.V a.C.
Inesperadamente, Téspis, um homem estranho, vestindo túnica e usando
tosca máscara sobre o rosto, ousou imitar deuses e homens.
- "Eu sou Dionísio!".
Diante da surpresa dos atenienses, pela primeira vez esse grego
arrogante se fez aceitar como deus de carne e osso.
E foi o começo de uma aventura que atravessaria os séculos,
mesclando verdades e fantasias, risos e lágrimas: o nascimento do
teatro.
Das Festas Dionísicas
ao Teatro
Atribui-se aos gregos
a origem do teatro. Entretanto, sua forma mais rudimentar remonta
das primeiras sociedades primitivas, onde se acreditava no uso de
danças e rituais que dominassem fenômeno da natureza e garantissem
a sobrevivência humana.
Como o desenvolvimento do conhecimento do homem em relação
a esses fenômenos, o teatro passou a ser o lugar de representação
de lendas relacionadas aos deuses e heróis.
Na Grécia Antiga, em honra a Dionísio (Baco para os latinos)
- deus do vinho, da alegria e do entusiasmo, eram realizadas grandes
festas, nas quais as pessoas cantavam e narravam em coro poesias
chamadas DITIRAMBOS. Nessas festas, conhecidas como DIONÍSIAS, surgiu
o primeiro traço de teatro: um dos participantes do coro se desligou
e disse ser um deus, e não ele mesmo, e assim começou a dialogar
com o coro, surgindo os primeiros atores.
Foi dado o passo pioneiro para as peças de teatro escritas.
As peças teatrais passaram a ser representadas em espaços especiais,
semelhantes aos teatros de hoje. Eram os teatros de arena - construções
em forma de meia-lua, dotadas de arquibancadas.
Existiam dois tipos de peças teatrais: as tragédias e as comédias.
As tragédias eram a expressão desesperada do homem, que lutava contra
todas as adversidades, mas não conseguia evitar a desgraça. Os autores
trágicos mais famosos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípides.
As comédias eram histórias engraçadas, gozações, e sátiras
da vida. Tiveram origem nas procissões que os camponeses realizavam
pelas aldeias, após a colheita das uvas. Um grande autor de comédia
foi Aristófanes.
Nas encenações gregas, apenas os homens podiam atuar, pois
as mulheres não eram consideradas cidadãs. Por isso, usava-se grandes
máscaras.
Na Antiguidade Grega, o teatro apresentou uma das mais altas
formas de culturas e deixou um importante legado para humanidade.
Suas criações, além de terem sobrevivido aos séculos, são, ainda
hoje, atuais e atuantes. Antigas peças como "Édipo Rei"
e "Prometeu Acorrentado" são encenadas até os nossos dias.
O teatro grego, pela sua grandiosidade inigualável, serviu
de modelo a teatros do mundo inteiro em suas épocas de maior esplendor.
Uma Fantástica Visão
do Mundo
Durante muitos séculos,
o mundo passou inúmeras mudanças, guerras e invasões que interromperam
o crescimento das Artes.
Com o advento do Cristianismo, o teatro não encontrou apoio
de patrocinadores, sendo considerado pagão. Dessa forma, as representações
teatrais foram totalmente extintas.
O renascimento se deu, paradoxalmente, através da própria Igreja,
na Era Medieval, e foi utilizado como veículo de propagação de conteúdos
bíblicos. Com o intuito de influenciar e educar os homens, a igreja
criou fantásticos Anjos do Bem, Anjos do Mal e Cruéis Demônios.
Essas personagens tentavam impedir que os homens pecassem.
Enquanto a Igreja monopolizava a educação, cantores e comediantes
passaram a atuar nos mesmos círculos.
Surgiu, assim, a figura do Menestrel-poeta culto e versátil,
especializado em baladas heróicas. Um misto de cantor, dançarino
e ator. Os menestréis também e estradas, aumentaram o número de
artistas errantes.
O Teatro do Povo
Perseguidos pela
Igreja, muitos atores, cantores e comediantes se uniram, formando
companhias de teatro que iam de cidade em cidade, em busca de novos
espectadores. Esses atores e atrizes, chamados de Saltimbancos,
percorriam estradas em carroças, transportando os cenários, os figurinos,
maquiagem e até a casa.
Também em busca de novos horizontes onde pudesse dar asa à
criatividade e ao talento, surgiu a Commedia Dell'Arte.
Os Saltimbancos e a Commedia Dell'Arte popularizaram a trama,
as intrigas e as situações, aproveitando máscaras e trajes carnavalescos
e os grandes recursos da pantomima.
O intérprete tornou-se o mais importante elemento do espetáculo
teatral. Seguindo um roteiro básico, o artista tinha liberdade criadora,
de acordo com a fantasia do momento. Personagens como Pierrô, Colombina,
Polichinelo, Arlequim e Pantaleão tornaram-se tão famosos que até
hoje são abjetos de inspiração.
Essa trupe de artistas viajantes deu origem ao circo, que tanto
encanta e envolve de mistério e fantasia.
Os Saltimbancos e, mais tarde, a Commedia Dell'Arte consagraram
e fundamentaram a verdadeira essência da encenação, unindo texto,
ator e público, sendo considerados aos pontos de partida das diferentes
formas de teatro do povo que culminariam no drama Shakesperiano.
O Ocidente entra
em Cena
O teatro, pouco a
pouco, foi se transformando num trabalho de arte literária. Por
todo o mundo viajou e se expandiu, marcando épocas e escrevendo
histórias magníficas obras e inesquecíveis autores povoaram os palcos
do Ocidente.
Na Inglaterra, a eclosão do gênio de William Shakespeare foi
um acontecimento extraordinário na história universal do teatro.
Shakespeare deixou obras de inigualável qualidade e elevou à perfeição
a arte cênica.
Cada um de seus personagens existiu dentro dele como se ele
próprio o fosse representar.
Como artista, teve o dom de captar, com mestria, as paixões
mais turbulentas e os sentimentos mais puros; a mais rica alegria
e o mais penoso desespero. Foi magistral o traço dos caracteres
com que vestiu seu mundo.
Em "Romeu e Julieta", fez a personificação do amor
irrealizado.
Em "Sonho de uma noite de verão", ilustrou a fantasia
e o sonho. E "Hamlet", talvez sua maior criação, retratou
o dilema do homem de intensa vida espirutual, que buscava sempre
a essência das coisas.
Depois de Shakespeare, o teatro na terá de Camões, agigantou-se,
espelhando a vida e a alma popular nos tipos mais característicos.
Autos como a Barca do Inferno e a Farsa de Inês Pereira têm valor
universal.
Na França, Racine e Moliére representaram o máximo do teatro
clássico. Entretanto, um outro gênero teatral roubou a cena, enchendo
de humor e música os espetáculos que passaram em revistas os acontecimentos
do ano. O teatro de revista expunha a burguesia, seus modos e a
hipocrisia da sociedade, atraindo grande público.
Na Itália, durante o período da Renascença, nasceu um novo
tipo de espetáculo, que reviveria, dentro de uma moldura musical,
os mitos e lendas da tragédia grega.
Orfeu, obra-prima que atravessou os séculos, rompeu também
as fronteiras italianas e levou a ópera a novas terras.
A Flauta Mágica, o Casamento de Fígaro e o Califa de Bagdá
foram grandiosas óperas que fascinaram o mundo.
Ao longo do tempo, muitas formas de teatro surgiram e alcançaram
plenitude, pois representar, imitar e recriar parece estar na essência
do homem.
O Teatro no Oriente
Formas maravilhosas
de teatro surgiram no Oriente há mais de mil anos. No Japão, o teatro
de marionetes, o Nô e o Kabuki cujo tema principal é a natureza,
constituem um grande espetáculo pela riqueza de figurinos e maquiagem.
A origem do teatro chinês perde-se na noite dos tempos.
Canto, dança, mímica e acrobacias compõem as cenas que apresentam
belíssimos figurinos. Uma das formas mais conhecidas desse teatro
é a Ópera de Pequim.
Nas Índia, a expressão corporal, o canto e a dança são muito
valorizados. Cada gesto dos atores tem um significado especial para
as histórias, que contam, quase sempre, passagens da mitologia indiana.
Representam-se ainda príncipes encantados, humildes donzelas, feiticeiros
perversos, e toda uma trama de ambições, desejos e cobiças.
O Teatro no Brasil
O teatro brasileiro surgiu
quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia (séc. XVI).
Os jesuítas, interessados em catequizar os índios, trouxeram não
só a religião católica, mas também uma cultura diferente, em que
se incluía a literatura e o teatro. Aliada aos rituais festivos
e danças indígenas, a primeira forma de teatro que os brasileiros
conheceram tinha a feição de propaganda político-religiosa. Nessa
época, o maior responsável pelo ensino do teatro, bem como pala
autoria das peças foi o Padre José de Anchieta.
O período colonial foi conturbado e trouxe profundas modificações
sociais causadas pelas invasões holandesas e francesas, que ocasionaram
um vazio de dois séculos na atividade teatral.
Ressurgindo da escuridão cultural, o teatro encontrou no Rio
de Janeiro o seu palco iluminado. Nos dias espetáculo, as ruas eram
percorridas por tocadores de pífaros e tamboretes, que anunciavam
a magnífica encenação noturna, ainda que em espaço restrito.
Como a chegada da Família Real, foi necessária a construção
de um teatro que pudesse acolher a corte e visitantes estrangeiros:
O Real Teatro de São João foi o centro de toda a vida artística,
social e política da capital. Hoje esse teatro se chama João Caetano,
em homenagem ao primeiro grande ator brasileiro.
O teatro nacional só se estabilizou no séc. XIX, quando o Romantismo
teve seu início. Martins Pena foi um dos responsáveis por isso.
Através da exploração dos costumes nacionais, constituiu-se numa
inesgotável fonte para a dramaturgia. Comédia como "O Noviço"
e "A Noite de São João" ainda são encenadas com êxito.
Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi muito importante
para a consolidação do teatro no Brasil.
O maior dos poetas românticos, Gonçalves Dias foi também o
mais representativo dramaturgo da 2ª metade do séc. XIX. Seu legado
teatral foi, do ponto de vista histórico, a mais penetrante crítica
do poder português sobre o Brasil.
Outro nome importante foi o de Artur Azevedo que, no final
do séc. XIX, dominou o cenário teatral brasileiro, além de ter sido
um dos responsáveis pela construção do Theatro Municipal do Rio
de Janeiro, inaugurando em 1908, e fundador do nosso teatro de revistas
e comédias musicadas.
O começo do séc. XX, embora tenha sido o período mais crítico
do teatro brasileiro, foi, também, a época da consagração de grandes
nomes e de espetáculos. Surgem nesse cenário Procópio Ferreira e
Dulcina de Morais entre outros. "Deus lhe Pague", de Joracy
Camargo, é considerada a primeira tentativa de teatro social no
país e, "O Rei da Vela" leva à cena Oswaldo de Andrade,
um dos mais ilustres representantes do Modernismo.
O Teatro de arte conquistou seu espaço a partir da década de
30, quando foi fundado o Teatro do Estudante do Brasil e começaram
a se formar grupos para somar recursos destinados à produção dos
espetáculos. Seu fundador, Paschoal Carlos Magno, instituiu a figura
do diretor, extinguiu o ponto e valorizou a equipe de cenógrafo
e figurinistas. Sua contribuição ao desenvolvimento do nosso teatro
foi inestimável.
A formação do grupo Os Comediantes, renovou a estética do palco
brasileiro, que teve um impacto surpreendente com a montagem de
"Vestido de Noiva", peça que impôs o nome de Nelson Rodrigues
como autor que renovaria o teatro nacional.
A criação dessas companhias de teatro de um perfil grandioso
à arte da encenação: O Teatro Brasileiro de Comédia levou o público
de classe média ao teatro; o teatro de Arena, dirigido por Augusto
Boal, delineou a interpretação brasileira, utilizando a linguagem
coloquial. Com a montagem de "Eles não usam black-tie",
de Gianfrancesco Guarnieri o grupo obteve p primeiro êxito.
O Tablado, liderado por Maria Clara Machado, encantou o público
infantil com "Pluft, o fantasminha", "A Bruxinha
que era boa", "O Cavalinho Azul", "A Menina
e o Vento" e muitas outras.
Paralelamente, foram-se organizando associações com intuito
de organizar, controlar e fiscalizar a classe teatral. Uma entidade
beneficente, a Casa dos Artistas, acolhe velhos profissionais de
teatro, procurando dar a eles uma vida mais digna, para que possam
manter acesa a chama da arte.
Incontáveis personagens engrandeceram e abrilhantaram o nosso
teatro. Para não cometer falhas de esquecimento, citamos apenas
aqueles cujos nomes iniciaram ou marcaram uma etapa da história
do teatro, no Brasil e no mundo.
A Ribalta do Carnaval
É carnaval! O maior
espetáculo teatral do planeta.
Em nenhum outro lugar do mundo é possível encontrar um palco
tão gigantesco para tantos atores.
Depois de meses de trabalho árduo, muito ensaio e dedicação,
todos os envolvidos na festa de Momo querem encenar, com talentos,
os seus papéis.
Diante dessa ribalta, deixamos aflorar as mais autênticas emoções
e a mais contagiantes alegria.
Afinal, todos somos artistas nesse mundo encantado.
O imenso público que assiste ao espetacular desfile das escolas
de samba interage com os "atores", cantando, dançando
e aplaudindo.
As baianas, sincronizando movimentos, desenham círculos no
asfalto com o colorido de suas saias rodadas.
O mestre-sala e a porta-bandeira, bailando em harmonia, desempenham
triunfantes o papel de apresentadores do pavilhão de sua escola.
Os compositores, responsáveis pela criação do hino que anima
e dá vida a esse teatro, libertam a melodia do canto e pedem coro
à platéia.
A velha-guarda, composta por personagens fundadoras dessa festa
magistral, guarda no peito o orgulho de exibir seu talento e a esperança
da continuidade da magia do carnaval.