O Fruto da África
de Todos os Deuses no Brasil de Fé: Candomblé
Apresentação:
O
Carnaval do Rio de Janeiro tem sempre exaltado as tradições afro-brasileiras
com sua religiosidade e os diversos tipos de colaboração e influência
em nossa cultura. Ritos, costumes e tradições da Mãe África foram
assimilados pela cultura brasileira e hoje, fazem parte de nosso dia
a dia, muitas vezes sem percebermos.
Em um país eminentemente católico, herança de nossa colonização portuguesa,
os negros africanos conseguiram ludibriar a fiscalização de seus senhores
de engenho, através daquilo que aprendemos a chamar de sincretismo
que é a associação dos deuses da África aos santos católicos. Os portugueses
no seu processo de distribuição de escravos, inteligentemente separavam
etnias e tribos, numa verdadeira diáspora pelo território da colônia,
para, que não formassem nenhum tipo de associação e assim, iniciar
um processo de rebeliões e fugas. Uma vez que os portugueses sabiam
que estes escravos, na grande maioria, eram de tribos inimigas. No
entanto esta perda da liberdade serviu de elemento comum de unificação
do negro neste país, inimigos na África, unidos pela dor e pela fé
no Brasil.
Na religião fundiram-se costumes, tradições e deuses a forma de culto
que ficaria conhecida como Candomblé. Muitas etnias vieram para o
Brasil. Na região da Bahia a mais influente delas foi a Yorubá, conhecida,
também, como Nagô, cujo modelo de culto influenciaria as demais e
será o objeto maior de nosso enredo.
Este enredo narra a saga iniciada na África há algumas centenas de
anos e "transformada" pela fé no Brasil culminando com a
criação do primeiro terreiro de Candomblé em Salvador, na Bahia de
todos os Deuses!
Sinopse:
África, terra de deuses e mistérios, onde o "criador" "Olodumaré"
busca entre seus filhos um homem para fazer florescer uma civilização
organizada e próspera, tendo como fé a adoração dos elementos da natureza.
A responsabilidade deste acontecimento fica por conta de um príncipe
muçulmano de nome Oduduá, que por influência do "criador"
adota uma nova visão de fé, contrariando os ensinamentos muçulmanos
ao qual foi educado. Oduduá consegue converter muitos à sua nova doutrina,
que o acompanham como seus seguidores no momento de seu banimento
do reino. E assim, provenientes do norte, caminham rumo ao oeste num
período de 90 dias.
Oduduá encontra um grupamento de aldeias pequenas e desorganizadas.
Utilizando os conhecimentos de administração e força, subjuga as populações
das aldeias e funda Ifé, a primeira cidade, iniciando assim, a dinastias
dos Reis de Ifé.
A expansão do seu Reino coube aos seus netos que herdariam sua coroa,
eram eles sete príncipes: Olówu que reinou em Egbá, Onisabe que reinou
em Savé, Orangun que reinou em Ilá, Óoni que foi rei em Ifé, Ajerô
que reinou em Ijerô, Alaketu que reinou em Ketu e Oranian que reinou
em Oyó.
Oranian foi o fundador da dinastia dos reis de
Oyó. O mito da criação
do mundo tal como é contado em Oyó atribui-lhe esse ato a ele e não
a seu avô Oduduá. Evidentemente que o mito da criação do mundo é um
reflexo da lenda histórica da origem das dinastias e a supremacia
alcançada por Oyó sobre os demais reinos, a quem devem pagar tributos
e impostos a cidade e vir participar uma vez por ano de uma festa
dedicada ao grande fundador patriarca. Esta hegemonia é contada em
muitas lendas narradas em Oyó,onde lembram que os demais príncipes
tiveram suas vidas poupadas e receberam suas terras por condescendência
de Oranian, que tornou-se Rei de Oyó e soberano da nação Yorubá, isto
é, de toda terra.
A religião yorubana é composta de uma rica mitologia de deuses que
representam as "forças da natureza" e cada um tinha seu
culto especifico num reino, aldeia ou região. Na África os orixás
eram cultuados não em simultaneidade num grande panteão de deuses,
e sim, como divindades específicas a um determinado lugar. Existem
várias versões dos mitos dos orixás contados na África, alguns incompatíveis,
entretanto, a essência pode ser perfeitamente absorvida através desta
narrativa que explica a associação das forças da natureza a cada orixá:
"Quando o planeta era um vasto oceano e os orixás queriam conhecê-lo,
a "terra" foi criada e os deuses desceram do céu para cada
um escolher uma parte do mundo que lhe agradasse, que passou a ser
seu domínio. Assim, Oxum escolheu as águas doces; Iemanjá as águas
salgadas;Iansã quis os ventos; Xangô os trovões e as cachoeiras; Obaluaiê
a terra firme; Nana a lama dos fundos dos rios e os abismos; Ogum
preferiu as montanhas e os minérios; Ossanha e Oxossi as matas e florestas;
Oxumarê o arco-íris; Ewá o horizonte. Apenas Exu não sabia o que escolher,
pois tudo e nada lhe agradava. E considerou-se assim dono de tudo
um pouco, com que os demais orixás concordaram. Desse modo o mundo
foi criado e dividido entre os orixás, e é por isto que cada um detêm
o domínio de uma parte da natureza."
Assim a semente plantada por Oduduá e Oranian cresceu e floresceu.
Na África desenvolveu ricos e organizados reinos que a partir do contato
com o europeu no século XVI, foram estabelecidos acordos comerciais
na qual o produto a ser negociado é o próprio africano para vir trabalhar
no Novo Mundo, como escravo, no processo de colonização das Américas.
Surge um período de intensas guerras tribais e desarticulação de muitos
Reinos, iniciando um processo de declínio da civilização yorubá. Navios
negreiros cortam os oceanos trazendo os filhos da África para a escravidão
no Novo Mundo.
No Brasil, os filhos da África deixam as desavenças e os ódios de
sua terra natal para se unirem pela fé em prol de um bem comum: a
liberdade.
Transformações importantes ocorrem no Brasil devido a mistura de diversas
etnias, tradições e cultos religiosos, ocasionado uma fusão entre
muitos orixás. Cerimônias e cultos que seriam assimilados numa única
e central forma de preservação com algumas variantes. Um único panteão
de deuses estabeleceria os vínculos, cuja forma de culto esta fundamentada
na cultura Yorubá (nagô), servindo de modelo às outras etnias, principalmente
as localizadas na Bahia - essa é base na qual se desenvolve o que
vai ser denominado "Candomblé".
O "Candomblé" se torna o fator preponderante de preservação
da identidade do negro no território brasileiro, mantendo acesa a
ligação cultural e religiosa com a grande "Mãe África".
Foi na Bahia, na cidade de Salvador, que surgiu a mais antiga casa
de candomblé do Brasil, "a Casa Branca do Engenho Velho",
que foi fundada por três tias, Adetá, Iya Akala e Iya Nasó, que tem
sua procedência nos Yorubás, de origem Ketu, a quem rendemos nossa
homenagem pela luta e determinação na preservação da cultura religiosa,
que muitas vezes mesmo sofrendo perseguições das autoridades locais,
mantiveram viva a chama do Candomblé.
Em nossa homenagem não podemos deixar de citar as figuras de Mãe Senhora,
Mãe Menininha do Gantois do Terreiro do Gantois; Mãe Aninha e Tio
Joaquim fundadores do terreiro Axé Opô Afonjá; Tio Elisio e Martiniano
Bonfim do Terreiro Alaketu e Pai Procópio do terreiro Ilê Ogunjá que
também são bastiões do "Candomblé" na sagrada cidade de
"Salvador de todos os Deuses e Orixás".
A força da fé preservou o legado deixado por Oduduá e Oranian e todo
valor vigoroso do continente africano. Mesmo sobrepujado por outras
Nações, conseguiu abraçar o Novo Mundo, principalmente o Brasil. A
força de sua cultura e religiosidade e a união deste povo aqui desenvolvida
em prol da liberdade, se torna a principal fonte de preservação dos
costumes e tradições de "Mãe África!".
Jaime Cezário
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