Incompreendida
no início, a bossa nova, depois de firmar-se no Brasil, acabou por
ganhar o mundo, influenciar a música internacional e transformar a
criação musical popular subseqüente.
Movimento
renovador da música popular brasileira, influenciado pelo jazz, a
bossa
nova surgiu na Segunda metade da década de 1950 entre jovens de classe
média da zonal sul do Rio de Janeiro. Caracterizou-se por romper com
as
fórmulas tradicionais de composição e instrumentação, por harmonia
mais elaboradas
e por letras coloquiais.
À
época do surgimento da bossa nova, a música popular brasileira vivia
um momento
de impasse, em que os ritmos americanos e caribenhos dominavam o mercado
fonográfico. Nesse contexto, um público carioca de elite, do ponto
de
vista econômico e cultural, redescobriu o samba nascido nos morros
e nos subúrbios,
criado e interpretado por músicos populares. Esse público era também
ouvinte de jazz, que teve influência decisiva precursores da bossa
nova:
Dick Farney, o conjunto vocal Os Cariocas, Antônio Maria, Ismael Neto,
Johnny Alf, Nora Nei, Doris Monteiro e Maísa.
A
partitura da peça Orfeu da Conceição, de 1956 projetou mundialmente
os nomes
de Antônio Carlos Jobim (Tom), e de Vinícius de Morais, como letrista.
Em 1958 foi lançado o disco Canção de amor demais, com músicas e arranjos
de Tom e Vinícius, com a cantora Elizete Cardoso. Apontado mais tarde
como um antecedente direto da bossa nova o disco apresentava em algumas
faixas o violinista João Gilberto, cuja revolucionária batida sincopada
caracterizaria, daí em diante, a bossa nova.
Em
1959 foi lançado Chega de saudade, disco considerado o marco fundador
da bossa
nova, com composições de Tom, Vinícius, Newton Mendonça, Carlos Lira
e
Ronaldo Bôscoli, ao lado de autores tradicionais, como Ari Barroso
e Dorival
Caymmi. Interpretadas no estilo contido e coloquial de João Gilberto
e acompanhadas pela batida de seu violão, as músicas desse disco apresentavam
um surpreendente predomínio dos tons menores, o que simulava desafinação.
Desafinado, aliás, era o título de uma faixa das faixas, que se
tornaria um clássico do movimento.
Vários
nomes logo se destacaram como compositores, além dos já citados: Baden-Powell,
Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Sérgio Ricardo, Luís Bonfá,
Geraldo Vandré e João Donato, entre outros. Entre os intérpretes,
que
inauguraram um estilo isento de impostação e virtuosismo, cabe destacar
as
cantoras Sílvia Teles, Nara Leão e Adelaide Costa; e os conjuntos
Quarteto
em Cy, Sexteto Bossa Rio, Tamba Trio e Zimbo Trio. Em 1962, um polêmica
apresentação de bossa nova no Carnegie Hall de Nova York projetou
internacionalmente
o movimento.
Além
dos nomes mais ligados muitos outros compositores e intérpretes, como
Dolores
Duram, Maísa, Billy Blanco, Juca Chaves e Lúcio Alves se deixaram
influenciar
por ele. Outros foram divulgadores da bossa nova nos Estados Unidos,
como Maria Elena Toledo, Astrud Gilberto e Sérgio Mendes.
Embora
bem recebida pelo público jovem, a bossa nova era criticada por seu
alheamento
aos problemas sociais. O espetáculo Opinião foi o divisor de águas
entre a chamada “música de apartamento”, repassa de humor, ironia
e nostalgia,
centrada no amor e rica em imagens como a do “barquinho a deslizar
no macio azul do mar”, e a música engajada, chamada “de protesto”.
Opinião
apresentava dois compositores de origem popular, o maranhense João
do
Vale e o carioca Zé Keti, mais forem especialmente jovens de classe
média
os que mais se destacaram como autores da música de protesto: Marcos
e
Paulo Sérgio Vale, Geraldo Vandré e Téo de Barros, Ruy Guerra, Oduvaldo
Viana
Filho, Ari Toledo e, sobretudo Carlos Lira e Sérgio Ricardo.
A
partir de 1964, a bossa nova começou a perder espaço, que foi ocupado
por
outras tendências, como o tropicalismo ou a jovem guarda. A música
popular,
no entanto, estava radicalmente mudada e revalorizada. A influência
da bossa nova foi determinante na obra dos excepcionais compositores
que se lhe seguiram, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo,
Milton Nascimento, Gilberto Gil, entre outros.