FICHA TÉCNICA 2010

 

Carnavalesco     Almir Jhunior e Wenderson Cardozo
Diretor de Carnaval     ...............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Pâmela Christo e Eduardo Silva
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Dudu e Elaine
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................
Resp. Galeria de Velha Guarda     ................................................................

 

SINOPSE 2010

A origem de uma estrela. De Niterói para a história, de Deixa Falar a Estácio de Sá, Ismael Silva, sua vida o Dendê contará!

Enredo:

          O criador das escolas de samba Milton de Oliveira Ismael Silva (Ismael Silva), veio ao mundo no dia 14 de setembro de 1905 em Jurujuba, Niterói-RJ, em uma comunidade de pescadores beirando a Baía de Guanabara (hoje conhecida como cidade sorriso). Caçula de cinco filhos, aos três anos, Ismael ficou órfão de pai – O Sr. Benjamin da Silva, cozinheiro do Hospital Paulo Cândido, deixara sua esposa Emília Correia Chaves sem recursos para criar seus filhos pequenos. D. Emília então apelou para os parentes, que ficaram cuidando de seus quatro filhos mais velhos. Mudando-se então para o Rio de Janeiro, no bairro do Estácio (centro carioca de pequena classe média.) com o caçula Ismael, para tentar a vida como lavadeira.
          Aos sete anos, Ismael descobriu que queria estudar. Como sua mãe não atendia a seus apelos de levá-lo à escola, o jovem garoto resolveu seu problema sozinho, matriculando- se na escola, onde era o melhor aluno da sala tornando assim monitor para ajudar os colegas com dificuldade.
          Aos 15 anos (1920) ganha o apelido de "O Grande Ismael Silva", dado pelo jornalista e pesquisador Lucio Rangel e compõe o seu primeiro samba “Já desisti”, considerado a sua primeira composição.
          Durante sua juventude, Ismael morou em outros bairros (Rio Comprido e Catumbi), mas voltou ao Estácio. Em 1922, logo que terminou o curso Ginasial, tornando-se assíduo freqüentador do Bar Apollo e do Café do Compadre, onde conheceu inúmero sambista como Mano Edgar, Baiano, Nilton Bastos, Brancura, Bidê, France Lino Ferreira Gudião e outros.
          Ismael freqüentava as rodas de samba da região, o morro do Salgueiro e da Mangueira. Já compunha e tocava tamborim. Ainda não tocava violão, instrumento que aprendeu muitos anos depois de ficar famoso no meio artístico. Ou seja, para compor precisava apenas batucar. Letra e música nasciam juntas, simultaneamente.
          Sua primeira composição, “o samba Já desisti”, nunca foi gravada. Já “me faz Carinhos”, seu primeiro sucesso, foi gravado em 1925 pelo pianista Orlando Thomas Coelho, conhecido como Cebola. Essa música foi responsável pela aproximação de Francisco Alves e Ismael Silva em 1927. O cantor, já muito conhecido, estava interessado pelas belas composições do sambista do Estácio, principalmente “Me faz Carinhos”.
          Quando esteve internado no Hospital da Gamboa, Ismael recebe a visita de Bide, que levou a proposta de Francisco Alves de comprar seus sambas. A partir daí, o grande cantor das rádios, passou a comprar algumas músicas de sua autoria, (Esse “comércio” de sambas era prática comum nos anos de 1920 e 1930). Empolgado, Ismael não hesitou, e aproveitou para incluir no negócio o seu parceiro, Nilton Bastos, formando assim um trio, que posteriormente ficou conhecido como Bambas do Estácio. Ismael e Nilton compunham e Francisco Alves gravava, entrando também na autoria. Mas, em algumas composições da dupla (ou trio), só constava o nome de Francisco Alves. Ofendido, Nilton reivindicou seus direitos. A partir daí, as músicas apareciam sempre com o nome dos três.
          O Estácio, na década de 20, era um reduto de bons compositores como Rubem Barcelos, seu irmão Bidê (Alcebíades Barcelos), Marçal, Edgar Marcelino, Brancura, Nilton Bastos, entre outros, que promoviam famosas rodas de samba no largo do Estácio de Sá. Estes jovens compositores vinham dando um tratamento especial ao gênero musical samba. Em 12 de agosto de 1928, (pouco mais de dez anos após Donga lançar Pelo Telefone, sucesso no Carnaval de 1917, considerado o primeiro samba gravado no Brasil), nasce a primeira escola de samba do Brasil: a Deixa Falar.
          Os jovens fundadores Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (o Bide), Brancuda, Baiaco, Milton Bastos, Edgard, Marçal Velho, dentre outros, criaram a Deixa Falar, que desfilava pelas ruas da cidade cantando o tal novo samba. Para a presidência, foi escolhido Osvaldo Lisboa dos Santos. Ismael Silva e seus amigos eram alcunhados e considerados pelos sambistas como professores, e conseqüentemente a Deixa Falar era a escola.
          Os ensaios eram realizados em frente à Escola Normal no Estácio na subida do Morro de São Carlos, um dos pontos quentes de um Rio de Janeiro que vivia mil transformações e transgressões, o que rendia ao sambista fama de arruaceiros, e, em resposta às críticas e comparações, Ismael Silva criou a seguinte expressão: "Deixa falar, nós também somos mestres, somos Escola de Samba", originando assim o nome do bloco e a expressão escola de samba.
          O porão de uma casa de cômodos da Rua Estácio de Sá, n.º 27, esquina da Maia de Lacerda, era a sede da escola de samba. A Deixa Falar, além de reunir os jovens e revolucionários compositores do bairro, pretendia também melhorar as relações dos sambistas com a polícia, já que, sem a autorização policial, não poderiam ser promovidas as inúmeras rodas de samba no Largo do Estácio de Sá. A situação de perseguição aos sambistas melhorou muito quando o samba feito pelos jovens da Deixa Falar penetrou no mundo do disco e do rádio.
          Através da Deixa Falar, esses professores realmente inovaram no tipo de samba. Segundo Ismael Silva, o samba cantado à época tinha somente um "tantantam", e após a inovação passou a ter "Bumbum Paticumbum Prugurundum".
          
Também nos deixaram outras contribuições em matéria de percussão. Uma delas foi o surdo, uma invenção de Bide (também consagrado como um dos maiores ritimistas da história do samba), a partir de uma lata de manteiga grande e redonda com um coro esticado em cima, preso com aros. A cuíca também era desconhecida, e a bateria da Deixa Falar tinha uma tocada por João da Mina, que mais tarde revelou-se o inventor do instrumento. Também foi levantada a hipótese de Bide ser o inventor do tamborim, uma vez que os Cucumbis (Cordão do Século XIX) já utilizavam um instrumento bem próximo ao tamborim, mas com certeza o tal instrumento pode até não ter sido inventado pelos mestres do Estácio, mas inegavelmente foram eles que o readaptaram e incluíram no mundo do samba.
          Os botequins na esquina da Rua Maia Lacerda, perto da Praça Onze e da Zona do Mangue, atraíam malandros de todas as partes do Rio, alguns deles excelentes sambistas. Vinha gente de Benfica, Madureira, Providência e Gamboa. Ali era cenário para o meretrício e para as rodas de carteado. Essa vida noturna intensa garantiu ao Estácio a aura de berço do samba carioca - aquele que conhecemos até hoje, dolente, pausado e marcado por instrumentos de percussão.
          "O samba moderno nasceu no Estácio. Era uma mistura de maxixe, modinha, polca e jongo. O bumbum, paticumbum, prugurundum é Ismael Silva. As primeiras escolas de samba se apropriaram da estrutura dos cortejos e apressaram a linha melódica para andar, pular e dançar".
          A Deixa Falar desfilou na Praça Onze nos carnavais de 1928 a 1931 e, portanto, não chegou nem a participar do primeiro desfile oficial - organizado pelo jornal Mundo Esportivo, em 1932. Mas a escola do Estácio serviu como referência para o surgimento de outras agremiações. Prova disso é que quatro anos após sua fundação, nada menos que 19 escolas de samba participaram do desfile na Praça Onze.
          Após a mudança do mestre Ismael Silva para o Centro da cidade e o fim da Deixa Falar, o samba no São Carlos passou por maus bocados, mas sobreviveu. Em meados dos anos 30, nasceriam mais três escolas de samba na comunidade: o Paraíso das Morenas (de João Pimentão), a Recreio de São Carlos (de Milú) e a Cada ano sai melhor (de Jorge Burundú).
          O primeiro concurso entre escolas de samba ocorreu em 20 de janeiro de 1929, dia de São Sebastião, na casa do sambista Zé Espinelli, no Engenho de Dentro. (Zé Espinelli promovia muitas festas no Engenho de Dentro. Na parte da frente da casa, era a roda de samba e, lá dentro, macumba. Nos fundos, caxambu).  Participaram da competição o Conjunto Oswaldo Cruz (mais tarde Vai como pode, depois Portela, representado por Heitor dos Prazeres e Antônio Caetano), a Estação Primeira de Mangueira (de Cartola e Arturzinho) e a Deixa Falar (de Ismael Silva). Mulato, festeiro e macumbeiro, Zé Espinelli foi o único jurado do prêmio. E o samba campeão foi o de Heitor dos Prazeres e Antônio Caetano.
          Em 1929, Mário Reis gravou com grande sucesso "Novo amor". Em 1930, teve gravado por Jonjoca, o samba "Não te dou perdão" e, por João Gabriel de Faria no assovio o samba "Novo amor". Em 1931, Francisco Alves e Mário Reis gravaram juntos os sambas "Se você jurar", um clássico da música popular brasileira e que se tornou um verdadeiro modelo para os sambas dos anos trinta, segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello; "Não há"; "Arrependido" e "O que será de mim?" parcerias registradas com Nilton Bastos e Francisco Alves, sendo este último samba uma das pérolas do compositor exaltando a malandragem.
          No mesmo ano, Francisco Alves registrou sozinho o samba "Nem é bom falar"; "Meu batalhão"; "Ironia" e "Olê-leô", parcerias com Nilton Bastos e Francisco Alves. Também no mesmo ano, Ismael estreou como cantor, gravando na Odeon os sambas "Samba raiado", de Marcelino de Oliveira e "Louca", de Buci Moreira.
          Em dezembro de 1931, gravou seu segundo disco registrando os sambas "Me diga o teu nome" e "Me deixa sossegado", parcerias com Nilton Bastos e Francisco Alves. Nesse mesmo ano, após a morte de Nilton Bastos e Mano Edgar, Ismael mudou-se para o centro e começou a compor com Noel Rosa, que lhe foi apresentado por Francisco Alves.
          Francisco Alves, aliás, apresentou-o a muita gente: Vinicius de Moraes, que o apelidou "São Ismael" em virtude dos seus olhos doces e sua fala educada, Mário de Andrade, Prudente de Moraes Neto, Aníbal Machado, cuja casa costumava freqüentar nas concorridas reuniões de domingo a que compareciam também Tônia Carrero, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Rubem Braga, Portinari, Heitor dos Prazeres e Ataulfo Alves.
          Em 1932, teve gravado por Patrício Teixeira o samba "Quero sossego", parceria com Francisco Alves e Nilton Bastos; Francisco Alves gravou sozinho o samba "Gandaia", parceria dos dois e, com Mário Reis o samba "Antes não te conhecesse", também parceria dos dois. No mesmo ano, teve gravada por Francisco Alves sua primeira parceria com Noel Rosa, o samba "Para me livrar do mal". Logo em seguida, Mário Reis gravou o samba "Uma jura que eu fiz", parceria com Noel Rosa e Francisco Alves e o mesmo Chico Viola, gravou "Ando cismado", outro samba da parceria com Noel Rosa. A parceria com Noel Rosa também rendeu pérolas como "Adeus", dedicado a Nilton Bastos e "A razão dá-se a quem tem". Juntos, fizeram 11 composições.
          Em 1933, a dupla Jonjoca e Castro Barbosa gravou os sambas "Deus sabe o que faz" e "Dona do lugar", este, parceria com Francisco Alves. No mesmo ano, João Petra de Barros gravou o samba "Isso não se faz" e Francisco Alves, "Quem não quer sou eu", parceria com Noel Rosa e "Não tem tradução", parceria com Noel Rosa e Francisco Alves. Também no mesmo ano, gravou os sambas "Carinho eu tenho", de Brancura e, em dueto com Noel Rosa, "Escola de malandro", de Orlando Luiz Machado.
          A "parceria" Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves durou até 1934, ano em que Ismael criou coragem para se desvencilhar de Francisco músicas, não dependendo mais de Chico Viola. Além de sentir-se explorado, Ismael sentia-se humilhado. O Rei da Voz tinha o hábito de apresentar Ismael em seus shows como "o preto de alma branca". Isso magoava muito o sambista do Estácio. Mas, de fato, o grande problema era a exploração de Francisco Alves, que exigia exclusividade por parte de Ismael e Noel, e, no entanto, gravava músicas de todo mundo Alves. Afinal, o sambista já era conhecido nos meio artísticos e vários intérpretes o procuravam para gravar suas. Influenciado por Noel Rosa e outros compositores do meio, Ismael pôs fim a esse acordo do qual ele levava sempre a menor parte. Rumo à independência com uma carreira voltada para o sucesso.
          A Deixa Falar desfilou na Praça Onze nos carnavais de 1928 a 1931 e, portanto, não chegou nem a participar do primeiro desfile oficial - organizado pelo jornal Mundo Esportivo, em 1932. Mas a escola do Estácio serviu como referência para o surgimento de outras agremiações. Prova disso é que quatro anos após sua fundação, nada menos que 19 escolas de samba participaram do desfile na Praça Onze.
          Após a mudança do mestre Ismael Silva para o Centro da cidade e o fim da Deixa Falar, o samba no São Carlos passou por maus bocados, mas sobreviveu. Em meados dos anos 30, nasceriam mais três escolas de samba na comunidade: o Paraíso das Morenas (de João Pimentão), a Recreio de São Carlos (de Milú) e a Cada ano sai melhor (de Jorge Burundú).
          O primeiro concurso entre escolas de samba ocorreu em 20 de janeiro de 1929, dia de São Sebastião, na casa do sambista Zé Espinelli, no Engenho de Dentro. (Zé Espinelli promovia muitas festas no Engenho de Dentro. Na parte da frente da casa, era a roda de samba e, lá dentro, macumba. Nos fundos, caxambu).  Participaram da competição o Conjunto Oswaldo Cruz (mais tarde Vai como pode, depois Portela, representado por Heitor dos Prazeres e Antônio Caetano), a Estação Primeira de Mangueira (de Cartola e Arturzinho) e a Deixa Falar (de Ismael Silva). Mulato, festeiro e macumbeiro, Zé Espinelli foi o único jurado do prêmio. E o samba campeão foi o de Heitor dos Prazeres e Antônio Caetano.
          Em 1935, Aurora Miranda gravou a marcha "Não faltará ocasião" e o samba "Boa viagem", parceria com Noel Rosa e, Sílvio Caldas, a marcha "Cara feia é fome" e o samba "Agradeças a mim". No mesmo ano, João Petra de Barros gravou o samba "Você prometeu", parceria com Dan Malio.
          No mesmo ano foi preso depois de dar dois tiros em Edu Motorneiro, um sujeito grandalhão que faltou com o respeito a sua irmã Orestina. Foi condenado, no ano seguinte, há cinco anos por tentativa de homicídio, pena mínima, graças a Prudente de Moraes Neto, seu advogado de defesa. Ismael atirou em Edu Motorneiro, à porta do Café Paulicéia, na Lapa, sendo preso em flagrante.
          Em 1936, ainda recluso no presídio da Frei Caneca, teve outras composições gravadas: Mário Reis registrou o samba "Você merece muito mais" e Aurora Miranda a marcha "Não apoiado". Foi solto em 1938 por bom comportamento. Nessa mesma época de um rápido namoro com a passista do Estácio Diva Lopes Nascimento, nasceu Marlene Martins Batista, filha nunca reconhecida oficialmente.
          Em 1939, J. B. de Carvalho gravou na Odeon seu samba "Com a vida que pediste a Deus", Cyro Monteiro na Victor gravou a marcha "Eu sou um" e Aurora Miranda, também na Victor, a marcha "Não vejo jeito".    Durante a década de 1940, esteve ausente do meio artístico. Francisco Alves, antes seu "parceiro", sentindo-se "traído", agora não queria saber mais dele. Noel Rosa, seu grande amigo, morreu quando Ismael ainda estava na cadeia (envolveu-se em uma briga com vítima). Um homem de brio, sensível e orgulhoso, Ismael se deixaria dobrar ao peso da vergonha de ser um ex-convicto. Passou a evitar os amigos, o meio artístico, os lugares de sempre. Tinha medo que lhe fizessem perguntas sobre o que tanto queria esquecer. Enfim, desapareceu. Houve até quem o julgasse morto. Sozinho, triste, sem dinheiro, perambulou por aí. Sabe-se que foi morar com uma irmã e alguns sobrinhos, mas de repente desapareceu.
          Em 1950, ressurgiu no cenário artístico quando teve o samba "Antonico", inspirado em uma carta de Pixinguinha para Mozart de Araújo na qual o maestro pedia ao amigo um emprego para o sambista em dificuldade, foi gravado por Alcides Gerardi na Odeon. No mesmo a no, Gilberto Alves registrou na RCA Victor o samba "Meu único desejo". Também no mesmo ano, voltou a gravar, registrando na Sinter, o samba "Dá o fora” e a marcha "Comilão", ambas de sua autoria.
          Com sérios problemas financeiros, Ismael vivia à custa de minguados direito autorais, quase uma ninharia. Sempre desempregado, "ele dizia que considerava o samba como seu único trabalho". Mas sabe-se que trabalhou na Central, como chefe de turma da segurança interna e foi auxiliar em um escritório de advocacia. Serviços leves e temporários, pois foi curta sua permanência neles.
          Em 1954, Dolores Duran gravou na Copacabana, "Tradição", seu único samba-canção. Em 1955, participou do espetáculo "O samba nasce no coração", realizado pela companhia de Zico Ribeiro e apresentado na boate Casablanca, contando com a participação de, entre outros, Donga, J. Cascata, Ataulfo Alves, Pixinguinha, João da Baiana e Alfredinho. No mesmo ano, gravou na Sinter o partido alto "Me diga teu nome", de sua autoria e o samba "Nem é bom falar", parceria com Francisco Alves e Nilton Bastos. Ainda no mesmo ano, gravou o LP "O samba na voz do sambista", no qual cantou "Se você jurar", "Nem é bom falar", "Adeus" e outras composições de sua autoria. Em 1957, lançou o LP "Ismael canta" no qual interpretou, entre outros sambas de sua autoria, "Agradeças a mim", "Meu único desejo", 'Choro, sim “e Não vá atrás de ninguém”.
          A partir dos anos 50 as favelas do Estácio (São Carlos, Mineira, Zinco, Larguinho, Querosene, Fogueteiro, Coroa, Turano, Fallet, Prazeres e Escondidinho), juntaram forças e criaram a Unidos de São Carlos, onde as fantasias e os carros alegóricos eram feitos no morro. A primeira quadra da Estácio ficava no alto da favela, onde antes ensaiava a “Cada ano sai melhor”.
          A Unidos de São Carlos nasceu grande, mas não acompanhou a profissionalização das escolas de samba e aos poucos foi perdendo força no carnaval carioca. Conhecida como escola ioiô - caindo seguidas vezes para o segundo e terceiro grupos.
          Em 1960, Ismael ganhou os títulos de Cidadão samba por iniciativa do jornalista Sérgio Cabral e Carioca honorário, concedido pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ostentando o título de Cidadão Samba, desfilou algumas vezes na abertura oficial do carnaval carioca interpretando a corte liderada pelo rei Momo. Nos anos de 1960, se apresentou em programas de televisão, tornando-se conhecido por outras gerações.
          Em 1963, ficou muito doente, sofrendo com uma úlcera varicosa. Em 1964, fez algumas apresentações no bar Zicartola, palco que dividiu com grandes nomes da MPB como Nara Leão, Monsueto, Carlos Lyra, entre outros. Em 1965, participou do show "O samba pede passagem", organizado por Sérgio Cabral, ao lado de Aracy de Almeida, Baden Powell, MPB-4, entre outros, que virou disco, contendo 11 músicas de sua autoria e lançado no ano seguinte pela Polydor.
          Em 1968, sem dinheiro, o compositor não tinha meios para assistir ao desfile das escolas de samba. Ismael nunca escondeu o fato de não gostar da transformação que as escolas de samba sofreram, com o passar dos anos. Ele dizia que era um espetáculo bonito, mas agora uma brincadeira cara, sofisticada, não mais acessível ao povo. Mas nem por isso queria abandonar sua criação. Passou a dar entrevistas para ver se conseguia um meio de assistir de perto aquilo que ajudou a criar: "Sou sambista; quer dizer, sou pobre. Tive que me virar e pedir a todo mundo para dar um jeito de eu ir à Presidente Vargas". Como não conseguiu o ingresso, o compositor deu nova declaração ao jornal: "É injusto que a criação receba auxílio do governo, enquanto o criador cai no esquecimento".
          Em 1969, as coisas melhoraram. O compositor foi convidado pelas autoridades do Rio para assistir ao desfile das escolas de samba e pelo MIS - Museu da Imagem e do Som para dar seu primeiro depoimento, sendo entrevistado pelo pesquisador Ricardo Cravo Albin, além disso, o sambista participou de uma série de shows em universidades, sendo reconhecido como um mito da MPB, ou ainda nas palavras de Vinícius de Moraes, "São Ismael", um apelido carinhoso. Muito cansado, no fim da década de 60, Ismael ainda estava doente. Buscou ajuda na religião e passou a freqüentar a Igreja Messiânica diariamente.
          Em 1970, participou de show na boate Jogral em São Paulo. Em 1971, Gal Costa regravou com êxito seu autobiográfico "Antonico", no LP "Gal fatal".
          Em 1972, em seu aniversário, recebeu um bilhete de Chico Buarque que dizia: "Ismael, você está cansado de saber da minha admiração pelos seus sambas. Você sabe o quanto lhe devo por toda sua obra. O Sérgio Cabral está lhe entregando o meu presente pelo seu aniversário. É muito menos do que você merece. Um grande abraço, de coração". Junto ao bilhete, Chico Buarque lhe dedicou um prêmio que recebera do Governo do Estado da Guanabara, entregando-lhe um cheque que ele, embora vivendo modestamente demorasse a descontar, preferindo exibir aos amigos a assinatura de Chico Buarque, como prova de admiração e carinho recíprocos.
          Em 1973, Ismael ao lado de Carmen Costa, ambos iniciaram a carreira com Francisco Alves. Ismael, como compositor exclusivo do Rei da Voz; e Carmem, como empregada doméstica do cantor, apresentou o show "Se você jurar", produzido e dirigido por Ricardo Cravo Albin, que também participou no palco como narrador das vidas de ambos. O espetáculo estreou no Teatro Paiol, em Curitiba, e correram várias praças, inclusive São Paulo (Teatro Tuca) e Rio de Janeiro (Teatro Senai), onde cumpriu temporada de um mês, a convite do ator Sérgio Britto. Em São Paulo, a TV Excelsior gravou todo o espetáculo em estúdio, para seus arquivos. No mesmo ano, foi aos estúdios para registrar seu último LP, intitulado "Se você jurar", em que cantou antigas e novas composições, como "Afina a viola", "Alegria", "Aliás" e "Novo amor".
          Em 1975, foi homenageado pela Escola de Samba Canarinhos da Engenhoca, de Niterói. Ismael desfilou emocionado e confessou que esse foi um dos melhores carnavais de sua vida.
          Em dezembro de 1977, Ismael foi operado da úlcera varicosa que tinha na perna. No ano seguinte, um pouco antes do Carnaval, teve princípio de enfarte, mas foi socorrido a tempo. Mas, em 14 de março de 1978, um fulminante ataque cardíaco o levou. Seu corpo foi velado no MIS (RJ) e sepultado no Cemitério do Catumbi. Ismael Silva compôs um pouco mais de uma centena de músicas, a maioria sambas, e poucas marchas.
          Ismael Silva estava morto, mais sua criação não, em 1983, a São Carlos muda de nome, agora para Estácio de Sá. O objetivo da mudança seria novamente unir os moradores das favelas próximas. A estratégia deu tão certo que já no ano seguinte a escola ficou em sexto lugar, com o enredo "Quem é você (vem de lá)". A partir daí, a Estácio permaneceu no Grupo Especial por treze anos seguidos, apostando sempre em desfiles satíricos e de temática social. Mas o melhor momento da escola foi o título de 1992, com o enredo ‘Paulicéia Desvairada'.
          Em 2001, foi lançado com uma festa na casa de espetáculos Asa Branca, no Rio de Janeiro, o curta metragem "Ismael e Scarpino", de Alexandre Ribeiro de Carvalho e Luís "Chacra" Gerace, que mostra a amizade entre o compositor e o fotógrafo Clóvis Scarpino. Na ocasião, foram interpretados sambas de sua autoria pelo grupo MPB de Raiz. No mesmo ano, foram lançados os CDs "Ismael canta... Ismael", remasterização do disco de 1957 e "A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes - Ismael Silva".
          Em 2002, foi homenageado com uma semana de atividades no Teatro da UFF em Niterói, intitulada o "Bamba de Niterói", com a apresentação do curta "Ismael e Scarpino", a encenação do esquete "Cenas cariocas", retratando a polêmica entre ele e Donga sobre o que é samba, uma mesa de debates com as presenças de Maria Thereza Mello Soares, sua biógrafa, Haroldo Costa, Roberto Moura e Luiz Fernando M. de Carvalho. Foi feita ainda, a inauguração da Rua Ismael Silva na Praça de São Domingos no bairro do Gragoatá, em Niterói, além de exposição fotográfica, no SESC de Niterói. Em 2005, por ocasião do centenário de seu nascimento foi homenageado com a série de cinco shows intitulada "Ismael Silva - Deixa falar", que reuniu no Centro Cultural Banco do Brasil as duplas Elton Medeiros e Claudio Nucci, Fátima Guedes e Flávio Burlamarqui, e Mônica Salmaso e Cláudio Jorge, além do trio Monarco, Tereza Cristina e Pedro Miranda, que se apresentaram interpretando obras do compositor. Também como parte das comemorações pelo seu centenário foi lançada um vídeo com depoimentos dos moradores da comunidade do morro de São Carlos e um show da Velha Guarda da escola de samba Estácio de Sá.
          E hoje, o Acadêmicos do Dendê da Ilha do Governador, exalta o grande compositor e criador da primeira escola de samba do mundo Ismael Silva, com o enredo: A origem de uma estrela. De Niterói para a história, de Deixa Falar a Estácio de Sá, Ismael Silva, sua vida o Dendê contará!, clamando para que o grande e imortal Ismael Silva seja lembrado em cada escola de samba existente no Brasil e no mundo...

Almir Jhunior

 

SAMBA ENREDO                                                2010
Enredo     A origem de uma estrela. De Niterói para a história, de Deixa Falar a Estácio de Sá, Ismael Silva, sua vida o Dendê contará!
Compositores     Bruno Revelação, Gilberto Lua, Ginho, Barbieri, Professor, Cadinho da Ilha, Pedro Migão, Aloisio Villar e Gegê da Ilha

Um dia na Cidade Sorriso
As margens calmas da Guanabara
Nascia... Um gênio que nos inspirou
Do Rio fez a morada da vida
Da tristeza, da alegria, da canção e do amor
E fez assim... Com poesia e seu tamborim
A bela história de um compositor "imortal"
É só olhar, olhar pro céu, vê como brilha
A estrela fulgurante
Seu nome é "Ismael Silva"

Deixa Falar, a primeira escola de samba
Deixa Falar, nasceu num celeiro de bamba!

No Estácio embalado pelo jogo
Em meio às damas se modernizou
Fez com Noel parceria de magia
Companheiros de boemia
No Engenho de Dentro se ouviu
Roda de samba e candomblé
Um som que sai do coração
Percorre a alma num canto de fé
E hoje a Academia do Dendê
Lembrando o "poetinha"
Vem cantando pra você

De azul e branco, eu vou
Nessa avenida, noite de esplendor
"São Ismael" receba da nossa bandeira
A homenagem da cultura brasileira