Quem vai querer?
Esta
é uma homenagem ao país onde tudo que se planta dá, vende, troca,
lucra e negocia. Baseado nestes fatos, o Arranco vem mostrar o jogo
do troca-troca, financia as idéias e os ideais e homenageia o mercado
de valores humanos e emocionais, um verdadeiro caos o templo da exploração!
Na verdade, quem tem dinheiro compra e quem não tem conta história.
Assim vamos começar, chegou o carnaval. Festa da liberdade
de expressão, onde tudo vale. E tempo de cantar, sorrir e sambar sem
fronteiras para a alegria, o povo se fantasia e acreditam ser seus
heróis no mais profundos sonhos. Como é carnaval, enfim, a grande
mágica se faz esquecer o dia a dia duro e sem ilusão. Eis aí a grande
liberdade, ser o que se quer, inverter as regras, trocar a posições
entre homens e o poder, entre o vendedor e vendido. Mercador e mercadoria,
explorador e explorado e assim criando a inversão da própria vida.
É carnaval que hoje neste país de explorados onde
tudo se vende por um punhado de dólares, tudo se inverta.
Homens, animais, aves, crianças e flores são impunemente
comercializados, ricos dominam os pobres. Homens explorando mulheres,
psiquiatras aprisionam loucos industrializando a loucura, cartolas
do futebol vendem os nossos craques, panteras modelos e mulatas são
enlatadas por espertos empresários. Crianças são vendidas inteiras
ou somente órgãos, tratores devastam as matas, onde até os índios
foram os primeiros a serem comprados por quinquilharias pelos portugueses,
agora eu digo:
Vamos mudar! Dêem uma chance aos eternamente vendidos.O
povo!
Um grito do basta O pregoeiro anuncia que nas terras
descobertas por Cabral, montem barracos e bancas de feiras ou hipermercados
que vendam tudo o que puderem, mas que o povo seja rei. Num deboche
a esta decadente tropical república!
1°
Quem vai querer? - Gritam os índios ao tomarem as caravelas, barganham
com descobridores e colonizadores colares, espelhos, contas baratas
e convidam esta gente bonita, que venham para a avenida brincar o
carnaval. Ao longe, surge o canto livre de nossas aves e animais,
que trocam de lugar e aprisionam caçadores em lindas gaiolas douradas,
felizes flores vaidosas pregoam oferecendo homens cruéis por elas
escolhidos atendendo ao grito da terra indignada contra a sua implacável
destruição.
2°
Quem vai querer? - Hoje é nosso dia, gritam porcos. Patos, galos
e perus nesta feira, vendo o poder da autoridade república, enfeitem
Com colares e cartolas de frutas e legumes os governantes deste Brasil
tropical. Que e comprem a peso ou em dúzias, os lotes desta nobreza
decadente ou exagerada, que pipoqueiro, baleiros e Camelôs também
se juntem nesta festa popular.
3°
Quem vai querer? – Gritam livres os loucos, prendam em grades os
malucos psiquiatras e desumanas enfermeiras, que as crianças coloquem
soníferos para as perversas babás, que juizes sejam condenados pelas
erradas penas atribuídas aos falsos réus. Que os craques ludibriados
"liquidem" os cartolas espertos que levam vantagem em tudo.
Sim quem vai querer comprar de nossas mulatas exportadas, empresários
desonestos, enlatados oferecidos em troca de grana etiquetados Made
in Brazil? Elas gritam, caiam na folia, hoje é dia de graça, não tem
cachê.
Enfim minha gente. Vamos vender tudo, de banqueiro
a granfino, juiz à cartola, de caçador a explorador. Vendam tudo o
que puder até mesmo a preço de banana ou abacaxi, mas vendam antes
que vendam o nosso carnaval!
Surge o último – Quem vai querer? –
Grito o pregoeiro.
Responde o povo -Nós queremos, estamos vestidos de verde. Amarelo,
azul e branco, acreditamos que podemos dar um jeito nessa grande bagunça.
Este enredo não é mera coincidência e sim uma reedição do carnaval
de 1989, mais 15 anos depois ganha uma nova roupagem e linguagem moderna,
trazendo mercadorias atuais e novos vendedores, com o coração fervilhando.
O Arranco arranca na avenida em busca de ser campeão.
Na minha balança tem dois pesos e duas medidas, hoje sou vendedor
de ilusão, a minha mercadoria é a falta enfeitada de alegria. Quem
vai querer comprar a minha idéia, é barata, só não tenho troco. Comprem
tudo o que puder.
Jorge Caribé
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