FICHA TÉCNICA 1995

 

Carnavalesco     Milton Cunha
Diretor de Carnaval     Luis Carlos Duarte Baptista
Diretor de Harmonia     Luiz Fernando do Carmo (Laíla)
Diretor de Evolução     Luiz Fernando do Carmo (Laíla), André e Valber Frutuoso
Diretor de Bateria     Mestre Odilon Costa
Puxador de Samba Enredo     Neguinho da Beija-Flor
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Edmar e Juju Maravilha
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Carlos Augusto e Sonia Bambaia
Resp. Comissão de Frente     Carlos Muvuca
Resp. Ala das Baianas     Hélio Borges
Resp. Ala das Crianças     Aroldo Carlos da Silva, Sr. Pedro, Eraldo e Paulinha

 

SINOPSE 1995

Bidu Sayão e o canto de cristal

Introdução

            Como linguagem mundial de emoção através de belas histórias, afinação da voz humana e produções caprichadas, a Opera “Il Guarany” de Carlos Gomes e a “La Traviata” de Verdi, celebram uma das mais elevadas expressões da inteligência e sensibilidade humana.
            O Brasil é um dos poucos países a ter marcado tão especial presença nesse respeitado campo artístico, em sua capital mundial que é New York e em seu templo, o Metropolitan Opera House, graças ao trabalho abnegado e espírito determinado de uma “carioca da gema” que foi considerada a “maior soprano lírico do mundo, em todos os tempos”: BIDU SAYÃO!
            Mas não lhe bastou triunfar no “The New York Times”, “Le Figaro” e outros respeitados jornais do Globo. Ela queria mostrar à gente simples do interior do Brasil sua voz e a beleza do canto lírico. pois muito lhe interessava que sua terra natal também afirmasse ter ela o “canto de cristal”. Durante dois anos (1937 e 1938), o “rouxinol” brasileiro(“the Brazilian nightgale”) embrenhou-se em mais de 200 cidadezinhas do Brasil, apresentado-se de Livramento, no Rio Grande do Sul à Manaus, Amazonas numa temporada que muitos consideravam suicida para uma “Diva” que nada mais tinha a provar ao mundo.
            Mas a “Prima Dona” amava e ama o seu Brasil e pouco lhe importava pagar do próprio bolso as despesas, viajar de navio e cantar para tribos indígenas, ter corno palco caminhões e tetos de armazéns. O que Bidu Sayão queria era brindar todos quantos quisessem com o seu “bel canto”. “Eu venho de um grande país da América do Sul que se chama Brasil”, exclamou ela para o príncipe herdeiro do Japão, Hiroíto e a Rainha Maria da Romênia.
            Recusou à naturalização americana quando cantava na Casa Branca para Roosevelt, dizendo ao presidente americano que “era artista brasileira e queria morrer como tal”. A “piccola brasiliana” (apelido dado pelo grande maestro italiano Arturo Toscanini), foi a exigida por Mussolini na Gala Operística, que o estadista oferecia em homenagem às bodas do Príncipe Humberto, herdeiro do trono italiano com a Princesa Maria de Savóia da Bélgica.
            Pelos palácios, teatros e cerimônias importantes para o Planeta Terra, lá estava uma pequena, delicada, talentosa e lindíssima “garota” do Brasil, que tanto orgulha a Beija-Flor de Nilópolis por poder trazer ao conhecimento do “povão”. (como fez com a querida Margaret Mee em 94), sua história gloriosa de divulgação da capacidade artística do brasileiro no mundo inteiro.

“Bidu Sayão e o canto de cristal”

            É nosso enredo para o Carnaval de 1995!
            Um tributo que prestamos ao Carnaval carioca corno Ato Cultural que acreditamos que ela seja, ao talento dos grandes nomes que fazem a História do Brasil mais bela e a alegria e orgulho da nossa população, que não se nega a, quando lembrada, aplaudir e agradecer grandes espetáculos.

Bravo Bidu!

Repertório de Bidu Sayão

Ópera

Personagem

Autor

Ariadne Auf Naxos

Zerbinetta

Strauss

Il Barbiere Di Siviglia

Rosina

Rossini

La Bohême

Mimi

Puccini

Um Caso Singular

Mario Maria

De Campo

Don Giovanni

Zerlina

Mozart

Don Pasquale

Norina

Donizetti

Elisir D’amore

Adina

Donizetti

Faust

Margherite

Gounoud

Il Guarany

Cecília

Carlos Gomes

Lakmé

Lakmé

Delibes

Lucia De Lammermoor

Lucia

Donizetti

Manon

Manon

Massenet

Il Matrimonio Segreto

Carolina

Cimarosa

Mefistofele

Margherita

Boito

Le Nozze Dl Figaro

Susanna

Mazart

Pagliacci

Nedda

Leoncavallo

Pelléas Et Melisandre

Mèlisandrf

Debussy

I Puritani

Elvira

Bellini

Il Re

Rosalina

Giordano

Rigoletto

Gilda

Verdi

Romeu E Juliette

Juliette

Gounoud

La Serva Padrona

Serpina

Pergolesi

La Sonnambula

Amina

Bellini

Soror Madalena

Margarida

Costa

La Traviata

Violetta

Verdi

 

Bateria da Beija-Flor: A Orquestra Sinfônica-“Escravos da Opera”
Mestre da bateria: o maestro
Neguinho da Beija-Flor: o tenor
Sônia Capeta: primeira bailarina do corpo de baile
Mestre- sala e Porta-bandeira:
Passistas: o corpo de baile do Teatro Municipal

            Homenagem à voz límpida e envolvente de Bidu Sayão, urna lenda registrada na história da Opera Mundial corno “a maior Soprano Lírico do mundo, em todos os tempos”.
            No dia 11 de maio de 1904, nasce, sob o signo de Touro, BALDUÍNA DE OLIVEIRA SAYÃO.
            Esta “carioca da gema”, nascida na Praça Tiradentes, N° 48, tem ascendência portuguesa pelo lado do pai, o advogado Pedro Luís de Oliveira Sayão, e franco-suíça pelo lado da mãe, Maria José Teixeira da Costa Sayão, por sua vez descendente da segunda geração dos fundadores, da cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
            Quando Bidu nasceu, sua mãe não esperava mais ter filhos, pois já estava com 33 anos e o “varão”, Pedro, já se encontrava com 15 anos de idade. O nome Balduína é o mesmo de sua avó paterna.
            A menina Bidu nunca foi muito saudável quando criança, tendo inclusive contraído tifo.
            Sua família, de posses, construía então uma casa na praia de Botafogo, e logo após a mudança para lá, quando Bidu tinha 5 anos, seu querido pai morreu.
            Bidu tornou-se uma menina levada: subia nas árvores, criava problemas, tentando superar a ausência paterna. Sua mãe nunca mais casou-se e até os 16 anos, Bidu recebia seus professores em casa, nunca tendo freqüentado escola primária ou secundária.
            Em 1915, aos 11 anos, ela cantou pela primeira vez em público, não profissionalmente. A música escolhida foi uma canção de seu grande incentivador, o tio-médico Alberto Costa: “O Coração tem dois lados”.
            A casa do tio Alberto era ponto de encontro de artistas da Ópera, e Bidu se envolveu neste ambiente desde cedo. Por adorar ver Procópio Ferreira representar no Teatro resolveu que seria atriz, o que a mãe e o irmão mais velho consideraram inadmissível para urna moça de família.
            Certo dia acompanhou sua melhor amiga, Germana de Lucena Mallet até a aula de canto na escola “Ars e Vox”, na Av. Rio Branco, cuja professora era Grande Mestra romena, Madame Helena Theodorini.
            Como não podia ser atriz quis ser cantora, desta forma estaria no palco e poderia interpretar as letras das músicas que cantasse. Apoiada pelo tio, assediou a mestra de canto que a aceitasse corno aluna, e a mãe que a deixasse freqüentar o curso.
            Bidu venceu Mdme. Theodorini pelo cansaço, já que a professora a considerava muito jovem para o canto e de “pequenina” voz, mas ficou impressionadíssima com a força de vontade da garota.
Para o “fio de voz” que era Bidu, Theodorini ordenava solfejos e vocalizes intermináveis para que ela pudesse superar as únicas Ires notas que alcançava. Exercitava com “Serenata” e “Canto de Saudade” de Barroso Neto. Bidu só não suportava as aulas de piano.
            Durante anos a pequenina Bidu esforçou-se e renegou divertimentos típicos da idade, como festas e namoros, pois tinha em mente um objetivo preciso: o palco.
            Em 1916 ela diplomou-se ao lado de toda a turma de Madame Theodorini, no grande palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
            Começa sua carreira apresentando-se no Teatro Trianon, no Rio de Janeiro, e os críticos cariocas se dividem: enquanto Oscar Guanabarino, do Jornal do Comrnercio, publica que a cantora não servia para cantar nem em Salão, pois tinha “voz de salinha”, o Dr. Carvalho Neto, crítico do Diário da Noite via futuro na carreira de Bidu e a incentivava.
            Após o término da Primeira Guerra Mundial, Madame Theodorini aposentava-se e resolve voltar para a sua terra natal, a Romênia.
            Madame Theodorini consegue que Bidu seja convidada pela Rainha mãe do Trono da Romênia, Maria, para uma apresentação no Palácio Real de Bucareste, durante a recepção de Gala que Sua Majestade oferecia em homenagem ao Príncipe Herdeiro do Japão, Hiroíto, com a presença de várias cabeças coroadas da Europa.
            Bidu descreve a cena do recital no Palácio Real de Bucareste como se estivesse num conto de fadas, “A Rainha de lamê prateado e colar de pérolas...”, quando interpretou para a realeza canções em Romaico e Árias do Barbeiro de Sevilha.
            A Rainha mãe da Romênia presenteia a jovem cantora com uma jóia e elogia sua beleza e vivacidade encantadoras. Em seguida, Hiroíto quer saber, “de onde vem voz tão perfeita” à quem Bidu imediatamente responde: “Sou de um grande país da América do Sul chamado Brasil”.
            Em 1916. Bidu ainda apresenta-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com a “Cena da Loucura” da Ópera Lucia de Lamermor de Donizete.
            Em 1917, a conselho da Rainha Maria da Romênia, e já convencida do talento da filha, Dona Maria José leva Bidu para estudar com uma das maiores autoridades do canto mundial, na época, o Polonês Jean de Rezke, considerado o maior tenor da ópera francesa, rival de Caruso e que morava em Nice, França.
            Bidu foi a única sul-americana aceita por Rezke, e em sua escola ela recebe aula de dicção francesa com Lucien Maratore e aulas de interpretação com Reinaldo Hahn, importante compositor que a ensina especialmente a cantar sua composição “Si me vers”, com letra de Vítor Hugo, gravada depois no disco “French Arias and Songs”.
            De 1918 a 1925 Bidu estudou com afinco na escola de Rezke, tendo conseguido apresentar-se para o fechado mundo operístico de Paris pela primeira vez em 1924, oportunidade que deve aos amigos de Jean de Rezke. Apesar de triunfar neste concerto, segundo críticas em importantes jornais franceses, ela, ainda assim, não se sente preparada para enfrentar o público francês em óperas inteiras, e retorna para mais um ano de estudos em Nice.
            Com a morte de Jean de Rezke em 1925, Bidu parte para Roma a fim de consultar Emma Carelli e Walter Mocchi, diretores do Teatro Constanzi em Roma. Carelli a põe sob a tutela de Luigi Ricci, o maestro que lhe ensinaria o Repertório Operístico.
            No mesmo ano que morre sua grande Mestra, Helena Theodorini, 1926, Bidu Sayão faz sua estréia profissional internacional do mundo operístico, cantando o papel de Rosina, na ópera “Barbeiro de Sevilha” de Rossini, na noite de 25 de março de 1926 no Teatro Constanzi em Roma, tendo ao seu lado Carlo Galefi e sob regência do maestro Edoard Vitale. Nesta mesma temporada interpreta a Ópera “Il Rigoleto”, no papel de Gilda, e a Carolina, da Ópera “Il Matrimônio Segreto”.
            Ainda em 1926 Bidu faz a sua estréia profissional no Brasil cantando no Municipal do Rio de Janeiro “O Barbeiro de Sevilha”, na noite de 15 de junho. Antes, cumpriu temporada no Teatro Municipal de São Paulo já que Walter Mocchi, grande empresário da ópera para a América Latina, aceitara o cargo de Diretor do Teatro Municipal de São Paulo e trouxera Bidu consigo para cumprir as duas temporadas cujo repertório. além das consagradas Barbeiro de Sevilha, I1 Matrimônio Segreto, Il Rigolleto e Il Puritane, incluía, por exigência de Bidu, duas óperas brasileiras: Um Caso Singular. de Carlos de Campos e Soror Madalena, de seu tio Alberto Costa.
            No Brasil, Bidu aproveita para cantar composições de Francisco Mignone, o Ciclo de Canções Populares de Ernani Braga e canções de Lorenzo Fernandes e Barroso Neto.
            Em 1927 Bidu casa-se com Walter Miocchi, 40 anos mais velho que ela. (“sempre procurei meu pai nos maridos que tive”), período afetivo que ela não gosta de recordar, pois considera que “errou”.
            Nos dois anos seguintes, 1928 e 1929, além de Roma. Rio e. São Paulo, Bidu passa a incluir em seu roteiro o Teatro Colón, em Buenos Aires.
            Roma parou para ver o espetáculo de gala que festejava o casamento do Príncipe Humberto, herdeiro do trono da Itália, com a Princesa Maria José de Savóia, da Bélgica, na noite de 10 de janeiro de 1930, no Teatro Real de Roma, quando. por exigência de Mussolini, seu grande admirador, Bidu Sayão foi a única estrangeira incluída num “cast” só de italianos. À ela é reservado o papel principal. Norina, na Ópera Dom Pasquale, de Donizeti, que ela canta ao lado do grande Schippa.
            No dia 24 de janeiro do mesmo ano ela interpreta pela primeira vez o papel de Rosa1ina, na Ópera Il Re, de Giordano, em Roma.
            No dia 2 de março de 1930, Bidu Sayão faz sua estréia triunfal no Scala de Milão, onde é ouvida, admirada e apelidada de ‘La Piccola Brasiliana’ por um dos maiores maestros de todos os tempos. o grande Arturo Toscanini. então diretor artístico do Scala de Milão.
            Em 1931, Bidu Sayão estréia um novo repertório. convidada pela Ópera de Paris, cantando nesta grande Casa de Espetáculo as seguintes óperas: Rorneu e Julieta, de Gounoud. tendo Georges Thill como Romeu e “Fausto”, também de Gounoud.
            A interpretação de Bidu para Julieta é recebida com grande entusiasmo pelo Le Figaro, que considera sua performance triunfal.
            No mesmo ano apresenta-se na Opera Comique de Paris, interpretando o papel principal da obra Lakmé, de Delibes.
            As comemorações do centenário de Bellini em 1932, levam Bidu até a cidade de Catania, na Itália, para cantar uma de suas óperas mais populares: Sonnambula, no papel de Amina.
Parte para Gênova e San Remo onde canta, em italiano, a ópera Ariadne Auf Naxos, de Strauss, no papel de Zerbineta, segundo a própria Bidu seu papel mais complexo.
            Em 1933 Bidu Sayão grava no Brasil, para a RCA Vítor “Il Guarany”.
Neste mesmo ano e no seguinte, Bidu cumpre temporada no Teatro Municipal de São Paulo e Rio de Janeiro, quando canta as óperas Lucia de Lamermoor, O Barbeiro de Sevilha e Il Rigoletto.
            No final de 1934 ela divorcia-se do primeiro marido, Walter Miocchi.
            Em 1935, no Teatro San Carlo, de Nápoles, Bidu conhece o magnífico tenor italiano Giuseppe Danise, com quem canta Il Rigoletto. Ele se tornará o segundo marido de Bidu, 24 anos mais velhos que ela. Neste mesmo ano, após cumprirem a Temporada Brasileira, quando Bidu cantou Manon, I1 Rigoletto, 11 Puritani, Romeu e Julietta, La Traviata, Lakmé e Bohéme, e a temporada Sul-americana, Giuseppe sugere que eles passem em New York antes de retornarem à Itália, pois ele já pressentia instabilidade política na Europa.
            Os papéis que Bidu Sayão só cantou na América do Sul e Europa, e jamais cantou nos Estados Unidos, são os seguintes: Lucia de Lamermoor, Amina, em La Sonnambula, Elvira em Puritani e Lakmé.
            Em 1936 Bidu apresenta-se no Town Hall de New York e triunfa segundo crítica no “The New York Times”.
            Durante uma festa, o grande maestro Arturo Toscanini atravessa todo o grande salão da recepção para cumprimentar a cantora e “agradecer o privilégio de tê-la ouvido cantar anos antes no Scala de Milão”. Na mesma oportunidade, Toscanini convida Bidu para urna audição, pois queria tentar a voz dela, etérea, para interpretar um poema sinfônico de Debussi. Para surpresa da própria Bidu, ela é escolhida, e em abril de 1936 Bidu tem uma noite de glória no Carnegie Hall, cantando “La Demoíselle Élue” e recebendo maravilhosa crítica no “The Tribune”.
            Neste mesmo ano, Bidu apresenta-se no Teatro da Paz, de Belém do Pará. Ali conhece Nilson Penna, da Secretaria Estadual de Cultura, e tornam-se grande amigos. Nilson é hoje considerado o maior pesquisador da vida de Bidu Sayão e seu mais ardente fã.
            Após cumprir a mesma temporada do ano anterior no Rio e em São Paulo, 1936 mancava o centenário de Carlos Gomes, e a 7 de setembro de 1936 ela canta com Georges Thill, no Rio de Janeiro, II Guarany (canta depois a mesma Opera em São Paulo).
            Em 1936 e 1937, Bidu percorre mais de 200 cidades brasileiras, do Rio Grande do Sul ao Amazonas. No interior apresenta-se gratuitamente, usando como palco tetos de armazéns, carrocerias de caminhão e navios (à Manaus ela vai pelo Loyd Brasileiro). Na falta de hotéis, se hospeda na casa de amantes da boa música e muitas vezes paga do próprio bolso as despesas.
            No dia 13 de fevereiro de 1937, Bidu Sayão alcança o palco mais importante para a Ópera Mundial neste século, dando com este passo o salto para a imortalidade: como Manon, de Massenet, ela pisa o METROPOLITAN OPERA HOUSE, o MET. Substituía a grande cantora lírica Lucrécia Bori, e cantava ao lado de Sidney Rayner.
            Sobre a estréia no) Metropolitan, Bidu conta uma passagem bem humorada: “Eu não estava nervosa porque tinha ensaiado muito e confiava demais no tenor que cantaria comigo. Em cena, de repente, vi um estranho entrar e se anunciar como meu partner. Pensei: Meu Deus, quem é este homem?, e fui até o tini cantando com o desconhecido”.
            Este espetáculo de estréia foi transmitido pelo rádio para os Estados Unidos, Canadá e ao vivo para o Rio de Janeiro.
            Foi Toscanini que a apresentou aos cinco diretores artísticos do MET e falou que ela poderia ser a nova Manon, pelo físico bonito e dicção impecável do Francês. Nessa primeira temporada no MET, foram as seguintes as récitas: Manon, 3 récitas, Traviata, 3 récitas e La Bohéme, 2 récitas.
            Este ano de 1937 marca um desagradável “embate” entre Bidu e sua rival Gabriela Benzanoni Lage. Na temporada brasileira, onde cumpria o mesmo repertório do ano anterior, após a recita de Il Guarany, Bidu foi vaiada por um grupo de admiradores da rival. No mesmo instante que percebeu a vaia, o teatro inteiro começou a aplaudir e a vaia foi abafada, fazendo o grupo de Gabriela se retirar apressado do Municipal do Rio de Janeiro.
            Já consagrada pela crítica Norte Americana, Bidu canta gratuitamente para uma multidão na Praia do Russel, Rio de Janeiro, em 1938. Neste mesmo ano Bidu canta na casa Branca em recital para o Presidente Franklin Delano Roosevelt, quando nega-se a naturalizar-se americana a convite do presidente: “ – Obrigada, Mr. Presidente, mas eu quero terminar a minha carreira como artista brasileira”.
            Além das já costumeiras temporadas no MET (onde canta Manon com o grande tenor Tito Schippa), no Municipal do Rio de Janeiro e São Paulo. e no Teatro Cólon de Buenos Aires, o ano de 1939 traz um novo convite para Bidu: Apresentar-se na maravilhosa Ópera de São Francisco, uma das grandes Casas dos Estados Unidos.
            Em 1940, Bidu interpreta pela primeira vez o papel de Susana na ópera Le Nozze de Figaro, de Mozart, no MET, papel este que é o que ela mais executou ao longo da carreira, num total de 45 récitas.
            Apesar de nunca ter cantado a Opera Madame Butterfly por completo, ao vivo, esta sempre foi uma das grandes paixões de Bidu. Entretanto, em 1941 ela grava para disco a ária UN BEL DI Bidu Sayão canta La Traviatta no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com Tito Schippa, em 1942. Grava para disco as árias King of Thule e Jewel Song, da Ópera Fausto, de Gounoud, interpretando o papel de Margharite, em 1945. Neste ano ela ouve as “Bachianas Brasileiras n° 5” de Villa Lobos, seu grande amigo, e pede que ele altere o arranjo de 8 violoncelos e 1 Violino para 8 violoncelos e 1 voz, a dela, para que ela pudesse gravar e cantar em recitais, o que acontece antes do final deste ano.
            Quando a guerra termina. Bidu recebe em 1946 o Certificado da Defesa Civil dos Estados Unidos da América e do Pentágono. por ter se apresentado nos hospitais e alojamento de soldados que combateram na Segunda Grande Guerra Mundial.
            Em 1947, canta no Metropolitan ‘Romeu e. Julieta’ de Gounoud. ao lado do tenor Bjorling. rm noite considerada histórica Pelos amantes do bel canto. A interpretação de toda a Companhia. considerada impecável e gravada em disco, seria lançada anos depois para comemorar o centenário do Metropolitan Opera House.
            Mas dois acontecimentos importantes de 1947: casa-se pela segunda vez cem Giuseppe Danise. e grava para a Columbia Discos a Opera La Bohéme completa.
            Em 1950, Bidu Sayão canta pela última vez uma ópera inteira num Teatro Brasileiro, apresentando suas despedidas do Brasil com “La Bohéme”, no Municipal do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano desliga-se da Columbia Discos.
            A mesma companhia lança nos Estados Unidos, em 1951, o disco BIDU SAYAO, BACHIANAS BRASILEIRAS N0 5, ORQUESTRA CONDUZIDA PELO MAESTRO VILLA LOBOS, e a ária AH! FORS É LUI (de LA TRAVIATA).
            Bidu começa a ter rouquidões repentinas e decide operar as amídalas. Descobre que estava com um tumor na garganta, e submete-se a uma operação de sucesso, voltando à cena 23 dias depois, na Pensilvânia.
            Em 1952, ela interpreta pela primeira vez a Ópera Mefistófeles na Ópera de São Francisco, composta por Boito e no papel de Margherita. Na mesma temporada canta Il Pagliacci de Leoncavallo, no papel de Nedda.
            No dia 16 de fevereiro de 1952, Bidu Sayão faz sua última apresentação no MET como Mimi (na sua 46ª récita de La Bohéme), e a 23 de abril apresenta-se pela última vez, com a Companhia do MET, num Tour em Boston, interpretando a Manon (na sua 22ª récita deste papel).
            Aqui está o balanço da carreira de Bidu Sayão no MET: Pisou o palco 150 vezes para récitas de Ópera, cumpriu 16 temporadas quando interpretou 16 papéis.
            Das 226 performances que Bidu apresentou em New York, 36 foram gravadas em discos que documentam sua interpretação de 11 personagens.
            Em agosto de 1955, Bidu apresenta-se em Concerto no Hollywood Bowl de Los Angeles, e a 9 de outubro canta em seis idiomas no auditório da O.N.U..
            Em 1957, mesmo ano em que morre o grande maestro e amigo Arturo Toscanini, Bidu Sayão decide encerrar a sua carreira profissional de cantora, que durou 32 anos, de 26 a 57 (recorde, pois para os Sopranos Líricos a média é de 25 anos). Ela escolhe o mesmo lugar e o mesmo poema sinfônico da estréia em New York para se despedir para sempre do público: o Carnegie Hall e a Demoiselle Élue, de Debussi, com a Orquestra Sinfônica de N. York. Ela declara: “Queria sair de cena enquanto ainda fosse aplaudida. Achei que tudo completa um círculo. O meu se fechava ali”.
            Estes são os papéis que Bidu interpretou no MET: Violeta, Mimi, Julietta, Susana, Norima, Zerlina, Adina, Mélisande e Serpina de La Serva Padrona.
            Em 1959, Bidu abre uma exceção para atender a um pedido pessoal de seu grande amigo Heitor Villa Lobos, grava o disco “A Floresta do Amazonas” sob a regência do próprio, para a United Records (entre as árias “Canção do Amor” e a “Melodia Sentimental”). Segundo Bidu o poema sinfônico era longo e difícil, ensaiavam de manhã à noite. Villa Lobos já estava muito doente, mas a música da Floresta do Amazonas transpira vida e energia. Nunca mais Bidu Sayão voltou a cantar profissionalmente depois da gravação deste disco. Neste mesmo ano Bidu estabelece-se definitivamente na cidade de Camden, Mayne, norte dos Estados Unidos, onde mora até hoje.
            Em 1963, morre Giuseppe Danise, o barítono italiano que foi seu segundo marido e grande companheiro. Chocada, Bidu perde 18 Kg. em um mês.
            Em 1966, morre sua mãe, Maria José, que sempre a acompanhou, aos 94 anos de idade.
            Um grande incêndio destrói completamente a sua mansão no Maine em 1969. Depois de reconstruir a casa, a vida de Bidu é ainda mais uma vez instabilizada: em 1972 sua nova residência é assaltada. Neste mesmo ano Bidu recebe a Condecoração da Ordem do Rio Branco, no Brasil.
            Também em 1972, a Columbia Broadcasting System lança o disco Legendary Perfomances. “In Honos of the 35th. Aniversary of her Metropolitan Opera House Bebut” BIDU SAYÃO, Opera Arias by Mozart, Gounoud, Puccini e Leoncavallo.
            No dia 19 de novembro de 1973, volta ao Brasil para ser jurada do Concurso Internacional de Canto sob o patrocínio do Museu Villa Lobos a convite da viúva Mindinha Villa Lobos. Aproveita a viagem e grava depoimento no Museu da Imagem e do Som entrevistada por Álvaro Cotrim, Eurico Nogueira França, Aloísio de Alencar Pinto e Francisco Mingnone.
            A Columbia Broadcasting System relança o disco LEGENDARY PERFOMANCES Bidu Sayão, French Arias and Songs (antes já editado pela CBS-RCA Vitor), em 1976.
            Na cerimônia de comemoração do 40° aniversário de sua estréia no MET, Bidu Sayão recebe um telegrama de parabéns da primeira dama dos Estados Unidos, Rosalynn Carter, e é a capa do número especial da Revista do MET, a Opera News.
            No dia 3 de maio de 1977, Bidu é convidada para ser a presidente honorária do Festival Villa Lobos, que se realiza na Academia de Ciências no Kennedy Center Biblioteca do Congresso Nacional, em Washington D.C..
            Em 1979 vem ao Brasil ser homenageada pela Funterj no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a 14 de julho.
            No dia 12 de abril de 1984, o MET homenageia Bidu Sayão lançando o álbum (com 3 discos), comemorativo do Centenário do MET, escolhendo a gravação completa de Romeu e Julietta de Gounoud, gravado em 15 de janeiro de 1947, com ela e o tenor sueco Jussi Bjoerling, fazendo este álbum parte da coleção METROPOLITAN OPERA HISTORIC BROADSCATING (gravações dignas de serem preservadas pela história da ópera).
            Também em 1984, recebe o “Hall of Fame” da National Academy of recording Arts and Sciences pela gravação das Bachianas Brasileiras n0 5, honraria esta dedicada às gravações duradouras de qualidade e significação histórica. O Hall of Fame reconhece raridades do passado até 1959 e significa que a interpretação é perfeita e deve ser preservada na história da música.
            Em maio de 1987, Bidu recebe do Governo Italiano a “Ordem do Mérito” por sua contribuição à cultura do país. Neste mesmo ano vem ao Brasil para ser jurada do XIII Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro, na Sala Cecília Meirelles (organizado por Helena de Oliveira).
            Grava nesta viagem ao Brasil, no Hall do Hotel Glória, a canção Casinha Pequenina de Hernani Braga, que foi ao ar no programa Voz do Brasil do dia 10 de junho de 1987.
            No dia 25 de junho de 1987. recebe a Ordem Nacional do Mérito no Paço Imperial do Rio de Janeiro, das mãos do presidente José Sarney.
            Assiste como Patrona de Honra à estréia da nova produção de Manon Lescaut, no MET, celebrando os 50 anos de sua estréia na mesma ópera.
            Em 1988, a marca italiana Melodram lança o disco Elisir D’Amore (gravação de 1947 com Bidu e Fenício Tagliavani).
            Em 1991 Bidu Sayão sofre o primeiro derrame e em 1993 um outro abala ainda mais a sua saúde.
            Em 1994 é o enredo da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis para o Carnaval 95 e avisa: “Quero ir ao Rio de Janeiro agradecer ao Cristo Redentor por uma vida tão bonita...”

Milton Cunha

            Dedico este Enredo a todas “Divas” da Beija­Flor. Entre elas: Fabiola Oliveira, Aline Muller David, Graça Oliveira, Dona Marlene Abraão David, Dona Nadir (primeira Baiana), Marilda Baptista, Sônia Capeta (Rainha da Bateria) e Sônia Regina.

 

SAMBA ENREDO                                                1995
Enredo     Bidu Sayão e o canto de cristal
Compositores     Bira, Zé Carlos do Cavaco, Tião Barbudo, Dequinha Pottiêr e Jorginho
Bela menina, "voz de cristal"
Deslumbrava multidões
O seu talento, dom divinal
Encantou os corações
Grande guerreira que conquistou
Seu lugar ao sol
É festa, é luz, é cor, é poesia
É diva internacional

Neste palco surge ela, Bidu Sayão
Sacudindo a passarela, quanta emoção
E a minha Beija-flor, "vem aplaudir"
"Bachianas" e "O Guarani"

Essa carioca da gema
Cultiva a vida inteira
O sonho de voltar à pátria
E o orgulho de ser brasileira
E semeou de norte a sul deste país
Seu canto lírico feliz
E hoje é musa na Sapucaí

O samba é amor, é nessa que eu vou
Swinga, minha bateria
Tô nesta ópera
Extravasando alegria