FICHA TÉCNICA 2004

 

Carnavalesco     Cid Carvalho, Shangai, Fran-Sérgio, Ubiratan Silva e Laíla
Diretor de Carnaval     Luiz Fernando do Carmo (Laíla)
Diretor de Harmonia     Luiz Fernando do Carmo (Laíla)
Diretor de Evolução     Luiz Fernando do Carmo (Laíla)
Diretor de Bateria     Mestres Paulinho e Plínio
Puxador de Samba Enredo     Neguinho da Beija-Flor
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Claudio de Souza (Claudinho) e Selma de Mattos Rocha (Selminha Sorriso)
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Carlos Augusto G da Silva (Carlos Augusto) e Janailce Adjane Santiago
Resp. Comissão de Frente     Ghislaine Cavalcanti
Resp. Ala das Baianas     Hélio Borges
Resp. Ala das Crianças     Edson Bittencourt

 

SINOPSE 2004

Manôa - Manaus - Amazônia – Terra Santa Alimenta o Corpo,  Equilibra a Alma e Transmite a Paz

            Os pedidos de proteção multiplicaram-se entre os tripulantes das embarcações que balançavam tranqüilas sobre o oceano silencioso.
            Clamavam temerosos, aqueles aventureiros, ao poderoso senhor dos ventos, que lhes permitissem uma travessia vitoriosa rumo as fascinantes terras do “Novo Mundo”, sem tormentas ou furacões.
            Já para o senhor das águas, imploravam por calmarias e correntes tranqüilas.
            Dessa maneira, partiram os espanhóis rumo ao ocidente; entre fascinados e temerosos, porém, acima de tudo, encantados com os boatos que corriam sobre as riquezas daquelas terras distantes.
            Com o peito impregnado de ambição, cada um daqueles rudes navegadores tentaria, de todas as maneiras, com a própria vida se preciso fosse, acumular fortunas.
            Aparentemente, Éolos, o senhor dos ventos e Poseidon, o senhor das águas, de fato protegeram as embarcações e seus tripulantes, pois a viajem se mostrou sem grandes novidades.
            No entanto, a ingratidão foi senhora guia daquelas almas.
            Não hesitaram, ao tocarem o solo das Américas, em espalhar violência e dor.
            Banharam sem piedade, com sangue de inocentes nativos, a terra da deusa Gaia e mancharam com a fumaça dos incêndios criminosos os céus do deus Urano.
Mas a cobrança dos deuses não tardaria a chegar.
            Depois de conquistar e aniquilar os Astecas, Maias e Incas, soterrando sobre os escombros suas culturas e conhecimentos milenares, os espanhóis, entre delírios e realidades, provocados pela quantidade de ouro encontrada e pelas lendas contadas pelos povos vencidos, partem em busca da maior de todas as lendas nativas: Encontrar Manôa e o fantástico reino do Eldorado, com sua corte de fascinantes adornos e onde, conforme rezava a lenda, até a vegetação era do mais valioso metal e os frutos bordados com pedras preciosas de beleza jamais vista.
            Guiados pelo faro da ambição, adentraram por uma floresta impressionante e navegaram por um rio que mais parecia um oceano.
            Mas a carnificina deixada como rastro pelos espanhóis, jamais seria assistida impunemente pelos deuses.
            Dessa maneira, Zeus, o deus dos deuses da antiguidade, deixou a cargo de Tupã, o deus dos deuses da grande floresta do “Novo Mundo”, a missão de deter o demônio inquieto da ambição.
            Tupã liberou então a Cobra Rio Honorato para proteger a floresta. Atordoados e delirantes, os navegadores se viram atacados ferozmente por uma tribo composta somente por mulheres, vestidas completamente de ouro.
            Passados dias e noites, enfim foram vencidos e expulsos.  Acreditando terem encontrado ali, no seio da mata virgem, a mitológica tribo grega das temíveis Amazonas, batizaram o rio com o nome dessas guerreiras.
            Anos depois, em outra mal fada expedição, os espanhóis proclamam-se independentes da coroa espanhola e fundam, em plena selva, um reinado espanhol onde Fernão de Gusmão é aclamado como rei.
            Mas ao longo do grande rio e seus afluentes, a vida aflora com mistérios escondidos nas matas e nas almas que ali vivem.
            Os naturais protegiam Manôa – A senhora mãe da terra e, ao mesmo tempo, eram protegidos por Honorato, a cobra-rio-mística, que deu vida ao Jurupari, senhor todo poderoso e guardião das florestas. Para preservar as águas fez surgir a Cobra Grande Boiúna, que espalha pavor com seus olhos de fogo e a Iara, que atrai para o seu palácio de cristal verde no fundo das águas, aqueles que teimam em agredir os rios.
            Caiporas e Curupiras também foram evocados para fazer parte deste grande exército místico contra os predadores.
            Mas a erva daninha da civilização irrompe do litoral para o interior, propagando-se de maneira ameaçadora.
            Em nome do mercantilismo capitalista vivenciou-se um período com um caráter puramente predatório com a exploração indiscriminada do ouro, da prata e das madeiras nobres, além da subjugação dos naturais.
            Por outro lado, as expedições e missões artísticas ou científicas do século XIX, funcionaram como uma espécie de catalogação das nossas riquezas.
            Dessa maneira, a borracha extraída dos seringais, projeta a Amazônia no cenário mundial. Manaus, a sua capital, graças ao seu requinte, passa a ser reconhecida como a “Paris dos trópicos”.
            O seu magnífico Teatro, decorado pelo artista italiano “De Angelis”, recebeu as melhores companhias da Europa e espelha todo esplendor de uma época dourada.
            Mas como não há mal que sempre dure ou bem que nunca se acabe, a felicidade sucumbiu em nome da civilização.
            Ah! Civilização...
            Em nome do seu Deus, envergonhastes o universo ao tentar cobrir as vergonhas dos donos da terra. Pregando sua fé à força, espalhastes doenças e não ensinastes a cura; escravizastes, matastes e queimastes a selva; a fúria da poluição alcançou as águas, o ar e a terra; o caçador, como implacável ignorante, fez desaparecer várias espécies vegetais e animais.
            Ao ver tanta crueldade e pressentindo o perigo de que todos os ensinamentos contidos em cada recanto da floresta sucumbissem, surge da dor e das lágrimas de Tupã uma planta mágica, nascida da eterna luta entre o bem o e o mal. Desta planta brotaria uma flor, que por sua vez, se transformaria em singelo fruto.
            Tendo os índios Maués como guardiões protetores, ganhou o fruto o nome de guaraná e traz ao homem, com sua energia, o ideal da redenção.
            Com o formato dos olhos de Tupã, tem o poder de nos lembrar que “ele” tudo vê e tudo sabe. Em sua extrema bondade, dotou a bebida feita desse fruto com o poder de abrir as portas divinas e renovar o pacto do homem de alma humilde com as energias superiores, assim como era no princípio e nunca deixou de ser para aqueles que não se deixaram levar pela ambição.
            Em nome da nossa própria sobrevivência, rogamos que a grande floresta continue a ser guardada e protegida pela densidade e força mágica dos milhares de seres místicos que nela fazem morada.
            Que os encantos da Iara, as pegadas trocadas do Curupira ou mesmo as peripécias do Saci-Pererê, mantenham afastados os predadores cruéis.
            Reine absoluto Jurupari, senhor da floresta, pelo bem de todos nós.
            E que juntos, numa junção de energias universais, possamos enfim compreender que o Eldorado de fato é real, mas de ouro não é não, nem mesmo diamantes ou esmeraldas. Que todos se dêem conta que o verdadeiro Eldorado é verde e brota no coração da floresta. Que nas suas folhas, ramagens, cipós, flores e ervas estão guardados os segredos para a cura dos males do corpo e do espírito.
            Que a nossa guerra seja por um mundo melhor, por saudáveis gerações.
            Que a nossa luta seja eterna para preservarmos uma dádiva infinitamente valiosa: A água – O fantástico combustível da vida.
            Como guerreiros, transformarmos a sede que ameaça o planeta, em sede permanente da batalha por um mundo de pessoas com o corpo e a mente sã.
            Que o quadro do futuro não seja pintado com os tons de cinza das queimadas, o negro das fumaças das fábricas ou os tons de marrom das águas poluídas, mas que seja sim, tingido com as variadas cores e infinitas matizes que nos legaram todos os deuses:
            O verde das matas;
            O azul do céu e das águas;
            A explosão de cores dos pássaros e das flores...
            O branco da paz.
            Que ecoe para todo o sempre as vozes dos povos e dos espíritos da Floresta na imensidão verde. Evocando sob a luz da lua cheia os espíritos dos ancestrais pajés feiticeiros, em louvor da deusa Amazônia, a Senhora Guardiã dos Segredos da Própria Vida.
            Manôa que virou Manaus. O coração da Amazônia. Uma Terra Santa que Alimenta o Corpo de quem transforma sua fauna e flora em uma forma de vida e de cura, que Equilibra a Alma daqueles que tiveram seu espírito perturbado pelo caos da civilização e Transmite a Paz em tempos em que o homem insiste em declarar guerras.
            
Longe... lá se vai o tempo das criações, dos mistérios e milagres.
            O homem povoou as terras. Criou mitos e lendas, criou até deuses e céus. Aprendeu coisas sem fim... Evoluiu... criou a Civilização.
            Os que superavam os outros povos se diziam civilizados ao invadi-los, dizimá-los e espolia-los. Levavam dos invadidos as riquezas e impingiam-lhe sua cultura, seus deuses e tradições. Nessa tortuosa caminhada os deuses se misturam. Louva-se deuses gregos na África e africanos nas Américas. Nessa Babel de cultura, raças e religiões, os homens se lançam ao mar, sempre por ambição, em busca de novas terras para civilizar e explorar.
            Assim, nos idos do século XV, os pedidos de proteção se multiplicam a bordo das embarcações que buscam atravessar as bordas do abismo chamado horizonte. Em uma embarcação espanhola tanto podia se pedir proteção à Zeus como à Oxalá, Netuno ou Iemanjá, Eólos, Santa Bárbara ou Iansã. Os temores eram grandes, mais a ganância e a necessidade de aventura e expansão ardem na alma humana. Partem D´Espanha Pizarro, Orelana e outros capitães que farão história, descobrirão terras, conquistarão seus povos, darão nome ao Novo Mundo que se descortinara diante de seus olhos, e através deles veremos destruídas culturas milenares em nome da civilização, sacrificados deuses em nome dos deuses e destruídos povos em nome da ganância e assim os lagos de sangue não impedirão as sequiosas mãos de levantarem os tesouros dessas vítimas. Descendo de Quito os espanhóis tendo o já famoso Orelana como locotenente de Pizarro, invadem a floresta. Manôa, a Mãe Natureza, sem saber, navegam Honorato, A Cobra Rio, e na busca do Eldorado chegam ao coração da flor da tradição.
            Mas outra flor brotava no coração dos homens que sem acatar os desígnios da criação deixa aflorar a maldita ambição em cujo nome destemidas criaturas cortaram as águas doces do Rio-mar e numa estocada feriram o coração da mata. Em busca de ouro, prata e pedras preciosas, na ânsia de encontrar Manôa e o Fantástico Reino do Eldorado com sua corte com fascinantes adornos, onde até a vegetação era do mais valioso metal e a semente dos frutos as mais lindas pedras preciosas. Entraram em tamanho delírio que não deram conta que na verdade o tesouro era verde, brotava do coração de Manôa e escondia em suas folhas, cipós e ervas, a cura para os males do mundo, que suas águas límpidas haveriam de matar a sede da humanidade transformando-se assim como suas plantas no maior tesouro da humanidade. Depois de conquistar Astecas, Incas, Maias, encantado com a quantidade de ouro encontrado, e por lendas contadas pelos povos vencidos, adentra a floresta em busca da maior de todas as lendas nativas desde o México até o interior do Peru.
            Porém aturdidos por Honorato a cobra rio que protege a floresta, se viram atacados por uma tribo de ferozes mulheres guerreiras e em seu delírio, Pizarro batizou o Rio Honorato de Amazonas, em lembrança das mulheres gregas, guerreiras tenazes e começa a entrelaçar ou deuses greco-romanos com os da terra, e nesse místico ambiente propiciado pela floresta em sedição a Pedro de Ursua que comandava a expedição, acudindo aos incitamentos de Lope de Aguirre, um aventureiro da conquista, os espanhóis enlouquecidos, proclamaram-se independentes da coroa espanhola, e fundam em plena selva amazonense um reinado espanhol, aclamado como Rei à Fernão de Gusmão.
            Mas ao longo foi grande Rio e seus afluentes, a vida aflora com mistérios escondidos nas matas e nas almas que ali vivem. Os naturais protegiam Manôa – A mãe terra e eram protegidos por Honorato, a cobra-rio-mística que criou para proteção da floresta e das almas puras que em seu seio fazem morada, um grande exército místico e mágico. Deu então vida ao Jurupari, senhor todo poderoso e guardião das florestas. Para preservar as águas fez surgir a cobra grande Boiúna, que espalha pavor com seus olhos de fogo e a Iara, que atrai para o seu palácio de cristal verde, no fundo das águas, aqueles que teimam em agredir os rios. Assim como caiporas, curupiras e outros guardiões para afastar, encantar ou destruir os predadores.
            Mas se o criador dedicou alguns dos seus maravilhosos dias para plantar, adubar e fazer brotar a flor da tradição, a humanidade dedicou milhares dos seus dias para com sua infinita ignorância destruir as benesses da criação e fazer brotar a flor da cultura, que irrompe do litoral para o interior propagando-se, ampliando-se, amontoando-se, fazendo brotar a erva daninha da civilização e descoberta.
            Se a descoberta corresponde a primeira fase do capitalismo, que é o mercantilismo e teve um caráter puramente predatório, a exploração indiscriminada do ouro, da prata e das madeiras nobres, além da subjugação dos naturais, as expedições e missões pseudo artísticas ou científicas do século XIX, funcionaram como uma espécie de catalogação ou cadastramento das nossas riquezas.
            A borracha dos seringais dos Purus- Acre, do Juruá do Madeira, proteja o Amazonas no cenário mundial. Manaus tornou-se um dos mais famosos centros exóticos da Terra.
            No seu teatro decorado pelo artista italiano De Angelis, apresentaram-se as melhores compainhas da Europa. Homens e mulheres de todas as cores e credos e de todos os continentes encontravam-se na Paris dos trópicos. Médicos, bacharéis, jornalistas, engenheiros, agrônomos, comerciantes, operários, navios das mais variadas bandeiras e calados vieram fazer o Amazonas.
            Ah... Civilização
            Em nome do seu Deus, envergonhaste o universo, ao tentar cobrir as vergonhas dos donos da terra. Pregando a sua fé à força, espalhaste doenças e não ensinaste a cura, escravizaste, mataste, queimaste, a fúria da poluição alcança as águas, o ar, a terra, o caçador ignorante implacável fez desaparecer várias espécies vegetais e animais.
            Sim, queimaste corpos com o mesmo fogo que queimaste a mata: o fogo da ambição.
            Mas da suprema luz surge o fruto dos deuses, nascida da luta clássica entre o bem e o mal, a flor do guaraná. Guardada na aldeia dos Maués, traz ao homem o ideal da redenção. A lembrança da traição do homem à sua verdadeira imagem e semelhança brotou no formato dos olhos do criador para lembrar que ele tudo sabe e tudo vê e que em sua extrema bondade a bebida feita com essa flor abre as portas divinas e renova o pacto do homem de alma humilde com os deuses, assim como era no princípio e nunca deixou de ser para aqueles que não se envolveram no perfume da flor da cultura, flor que surgiu lentamente do solo, regada pelo suor e alimentada pela cobiça.
            A "ação civilizadora" da Europa em nosso continente começou pelo extermínio dos naturais e o deslocamento para o "Mundo Novo", como escravos, dos negros africanos, prosseguiu com as expedições científicas e missões artísticas no século passado, e já neste século a penetração econômica das multinacionais.
            Sendo assim, lançamos aqui o manifesto do naturalismo integral, acreditando que dessa volta a natureza, poderá surgir um novo renascimento, um novo século de luzes, pois a Amazônia constitui hoje em nosso planeta, ocultismo reservatório, o último refúgio da natureza integral. Amazônia, um paraíso que guarda em si, os segredos da cura do mundo, a própria vida.
            Por isso deixem em paz a Amazônia!

Organograma Setorial:

  1. O Império Inca e a Ganância Espanhola

  2. Em Busca do Eldorado – Manôa e a Floresta de Ouro e Prata

  3. Reino Espanhol – Demônio Inquieto da Ambição

  4. O Grande Exército Místico

  5. Da Suprema Luz Surge o Fruto dos deuses: O Guaraná

  6. Civilização – A obra do Homem que surgiu lentamente regada pelo suor e alimentada pela cobiça

  7. Manaus – A Paris dos Trópicos

  8. Amazônia: A Senhora Guardiã dos Segredos da Própria Vida

Comissão de Carnaval

 

SAMBA ENREDO                                                2004
Enredo     Manoa, Manaus, Amazonas - Alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz
Compositores     Claudio Russo, José Luis, Marquinhos e Jessey Beija-Flor

A ambição cruzou o mar
Trazida pelo invasor
A Espanha veio explorar
Pilhar e semear a dor
Amazonas, Terra Santa
Dos igarapés, mananciais
Alimenta o corpo, equilibra a alma
Transmite a paz
Brilhou o Eldorado
No coração da mata as guerreiras
Belezas naturais, riquezas minerais
O reino de Tupã ergue a bandeira

Êh! Manôa
Minha canoa vai cruzar o Rio Mar
Verde paraíso
É onde Iara me seduz com seu cantar

Doce sabor da magia
Fruto da energia o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá
Viva Paris tropical!
Água que lava minha alma
Ao matar a sede da população
Caboclo ê, a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé

Se Deus me deu vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
O Amazonas é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor