Josué de Castro - O descobridor da fome
no Brasil
Desenvolveremos
este enredo sobre JOSUÉ DE CASTRO de forma atemporal. A cronologia e a
biografia de JOSUÉ DE CASTRO será utilizada ao longo do enredo, na medida
que para nós os eixos que estruturavam o seu pensamento, são demasiadamente
atuais, na medida que para ele, as desigualdades sociais se constituem
na base geradora da fome em paises subdesenvolvidos, como é o caso do
Brasil.
Neste sentido,
JOSUÉ DE CASTRO representará para nós aquela figura que primeiro teve
a capacidade de destampar a panela da pobreza e mostrar a todo mundo que
não havia nada dentro dela. O Cordel de Chico Julião sintetiza um pouco
do nosso pensamento:
"Josué de Castro
foi
Quem destapou a panela
Da pobreza e da miséria
Pra ver o que havia nela
E nela não havia nada"
(Chico Julião, cordel,1993)
A
partir de observações empíricas ainda em sua infância: denominada cientificamente
mais tarde por ele como o "Ciclo do Caranguejo" JOSUÉ DE CASTRO escolheu
o problema da "FOME" como sua bandeira de luta. Assim descreve:
"Cedo me
dei conta deste estranho mimetismo: os homens se assemelhando em tudo,
aos caranguejos, arrastando, agachando-se como caranguejos para poderem
sobreviver. Parados com os caranguejos na beira d'água ou caminhando
para trás como caminham os caranguejos... Não foi na Sorbone ou em qualquer
outra universidade sábia que travei conhecimento com o fenômeno da fome.
O fenômeno se revelou espontaneamente a meus olhos nos mangues do Capibaribe,
nos bairros miseráveis da cidade do Recife: Afogados, Pina, Santo Amaro,
Ilha do Leite... no mangue tudo é, ou será caranguejo"
Numa época
em que debater, falar e escrever sobre a temática da "FOME" era assunto
bastante delicado e tido como um tema proibido, ao publicar "Geografia
da Fome" sua obra-prima, e marco na teoria da fome como fenômeno social.
Ele denuncia, sugere soluções e traz a tona um dos maiores males da
humanidade - a desigualdade e a exclusão social.
"Trata-se
de um silêncio premeditado pela própria alma da cultura, foram os interesses
e os preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de
nossa chamada civilização ocidental que tornaram a fome um tema proibido
ou, pelo menos, pouco aconselhável de ser abordado publicamente."
Foi mergulhando
em seus meandros, denunciando, estudando e pesquisando suas causas,
propondo ações e iniciativas, numa incessante luta algoz de banir de
nosso planeta esse terrível fenômeno que se chama "FOME", que esse ilustre
brasileiro, ficou conhecido e reconhecido no mundo inteiro.
JOSUÉ DE
CASTRO, o seu pensamento, sua luta de combate a "FOME" a miséria e a
pobreza; e os desdobramentos deste fenômeno diagnosticado por ele será
o ícone e fio condutor no desenvolvimento deste enredo.
De grande
relevância será o fato da contemporaneidade do discurso de JOSUÉ DE
CASTRO, em sua obra, diante das questões que envolve a problemática
da fome.
Como um intelectual que estava a frente de seu tempo, JOSUÉ DE CASTRO
estruturou a problemática da FOME em cinco pontos centrais:
-
Em correlação com o sistema
agrário na divisão de terra no Brasil, os latifúndios, êxodo rural
e migração
-
Interligado as questões
do meio ambiente, ecologia e poluição quando poucos ainda discutiam
sobre o assunto.
-
Classifica o subdesenvolvimento
como um produto do desenvolvimento e afirma: "fome e subdesenvolvimento
são a mesma coisa"
- Não falava só da fome de comida: aquela
substancial; mas da fome de fome de saber, de conhecimento de liberdade
- Naquela época já entendia que a paz mundial,
só poderá ser obtida através do combate a fome e a miséria. "Há dois
caminhos a nossa frente: o caminho do pão e o caminho da bomba."
Após
mais de setenta anos de um de seus primeiros ensaios - publicado no início
da década de 40: o "Inquérito Sobre as Condições de Vida das Classes Operárias
no Recife" o conjunto de sua obra continua contemporâneo, íntegro, abrangente
e guia mestra para qualquer pensador: seja ele pesquisador, artista ou
articulador que aborde o tema "FOME".
Como forma
de evidenciar e constatar a contemporaneidade de seu pensamento, seu discurso
e suas idéias, no decorrer do desenvolvimento deste enredo, utilizaremos
vários trechos e citações das obras de artistas, pensadores e articuladores
pós JOSUÉ DE CASTRO que abordaram temática da "FOME".
Este enredo
utilizará a expressão artística, literária e plástica, como forma de fazer
ecoar o grito da cidade e do campo, do asfalto e da favela, de homens
e mulheres, idosos e crianças, negros e índios, contra a fome e as desigualdades
sociais e pela paz. O sentimento passado por JOSUÉ DE CASTRO era de um
novo mundo, onde todos os povos pudessem viver em harmonia, onde todos
e todas fossem portadores de direitos humanos fundamentais, enfim que
todos e todas vivessem em paz.
O nosso enredo
se encerra com a afirmação de que o Brasil tem fome de direitos, numa
sociedade com tantas desigualdades vamos para avenida afirmando que se
pelos menos os nossos governantes cumprissem a Constituição, sobretudo,
o seu Art. 6º a realidade seria outra.
Prof. Helio Ricardo Leite
Porto e Amarildo Mello |