FICHA TÉCNICA 2005

 

Carnavalesco     Amarildo de Mello
Diretor de Carnaval     Dom Chico
Diretor de Harmonia     Serginho Harmonia
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     Mestre Geléia
Puxador de Samba Enredo     Tico do Gato
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Alexandre e Cristiane Camargo
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Douglas e Priscila
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     Tia Clélia
Resp. Ala das Crianças     Ricardo Paulino

 

SINOPSE 2005

Josué de Castro - O descobridor da fome no Brasil

          Desenvolveremos este enredo sobre JOSUÉ DE CASTRO de forma atemporal. A cronologia e a biografia de JOSUÉ DE CASTRO será utilizada ao longo do enredo, na medida que para nós os eixos que estruturavam o seu pensamento, são demasiadamente atuais, na medida que para ele, as desigualdades sociais se constituem na base geradora da fome em paises subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil.
          Neste sentido, JOSUÉ DE CASTRO representará para nós aquela figura que primeiro teve a capacidade de destampar a panela da pobreza e mostrar a todo mundo que não havia nada dentro dela. O Cordel de Chico Julião sintetiza um pouco do nosso pensamento:

"Josué de Castro foi
Quem destapou a panela
Da pobreza e da miséria
Pra ver o que havia nela
E nela não havia nada"

(Chico Julião, cordel,1993)

          A partir de observações empíricas ainda em sua infância: denominada cientificamente mais tarde por ele como o "Ciclo do Caranguejo" JOSUÉ DE CASTRO escolheu o problema da "FOME" como sua bandeira de luta. Assim descreve:
          "Cedo me dei conta deste estranho mimetismo: os homens se assemelhando em tudo, aos caranguejos, arrastando, agachando-se como caranguejos para poderem sobreviver. Parados com os caranguejos na beira d'água ou caminhando para trás como caminham os caranguejos... Não foi na Sorbone ou em qualquer outra universidade sábia que travei conhecimento com o fenômeno da fome. O fenômeno se revelou espontaneamente a meus olhos nos mangues do Capibaribe, nos bairros miseráveis da cidade do Recife: Afogados, Pina, Santo Amaro, Ilha do Leite... no mangue tudo é, ou será caranguejo"
          Numa época em que debater, falar e escrever sobre a temática da "FOME" era assunto bastante delicado e tido como um tema proibido, ao publicar "Geografia da Fome" sua obra-prima, e marco na teoria da fome como fenômeno social. Ele denuncia, sugere soluções e traz a tona um dos maiores males da humanidade - a desigualdade e a exclusão social.
          "Trata-se de um silêncio premeditado pela própria alma da cultura, foram os interesses e os preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de nossa chamada civilização ocidental que tornaram a fome um tema proibido ou, pelo menos, pouco aconselhável de ser abordado publicamente."
          Foi mergulhando em seus meandros, denunciando, estudando e pesquisando suas causas, propondo ações e iniciativas, numa incessante luta algoz de banir de nosso planeta esse terrível fenômeno que se chama "FOME", que esse ilustre brasileiro, ficou conhecido e reconhecido no mundo inteiro.
          JOSUÉ DE CASTRO, o seu pensamento, sua luta de combate a "FOME" a miséria e a pobreza; e os desdobramentos deste fenômeno diagnosticado por ele será o ícone e fio condutor no desenvolvimento deste enredo.
          De grande relevância será o fato da contemporaneidade do discurso de JOSUÉ DE CASTRO, em sua obra, diante das questões que envolve a problemática da fome.
Como um intelectual que estava a frente de seu tempo, JOSUÉ DE CASTRO estruturou a problemática da FOME em cinco pontos centrais:

  • Em correlação com o sistema agrário na divisão de terra no Brasil, os latifúndios, êxodo rural e migração

  • Interligado as questões do meio ambiente, ecologia e poluição quando poucos ainda discutiam sobre o assunto.

  • Classifica o subdesenvolvimento como um produto do desenvolvimento e afirma: "fome e subdesenvolvimento são a mesma coisa"

  • Não falava só da fome de comida: aquela substancial; mas da fome de fome de saber, de conhecimento de liberdade
  • Naquela época já entendia que a paz mundial, só poderá ser obtida através do combate a fome e a miséria. "Há dois caminhos a nossa frente: o caminho do pão e o caminho da bomba."

          Após mais de setenta anos de um de seus primeiros ensaios - publicado no início da década de 40: o "Inquérito Sobre as Condições de Vida das Classes Operárias no Recife" o conjunto de sua obra continua contemporâneo, íntegro, abrangente e guia mestra para qualquer pensador: seja ele pesquisador, artista ou articulador que aborde o tema "FOME".
          Como forma de evidenciar e constatar a contemporaneidade de seu pensamento, seu discurso e suas idéias, no decorrer do desenvolvimento deste enredo, utilizaremos vários trechos e citações das obras de artistas, pensadores e articuladores pós JOSUÉ DE CASTRO que abordaram temática da "FOME".
          Este enredo utilizará a expressão artística, literária e plástica, como forma de fazer ecoar o grito da cidade e do campo, do asfalto e da favela, de homens e mulheres, idosos e crianças, negros e índios, contra a fome e as desigualdades sociais e pela paz. O sentimento passado por JOSUÉ DE CASTRO era de um novo mundo, onde todos os povos pudessem viver em harmonia, onde todos e todas fossem portadores de direitos humanos fundamentais, enfim que todos e todas vivessem em paz.
          O nosso enredo se encerra com a afirmação de que o Brasil tem fome de direitos, numa sociedade com tantas desigualdades vamos para avenida afirmando que se pelos menos os nossos governantes cumprissem a Constituição, sobretudo, o seu Art. 6º a realidade seria outra.

Prof. Helio Ricardo Leite Porto e Amarildo Mello

 

SAMBA ENREDO                                                2005
Enredo     Josué de Castro - O descobridor da fome no Brasil
Compositores     Dil da Baixada, Jurandir JB, Gil Valente e Toinsinho do Vilar

Oriundo eu sou
Das desigualdades sociais
Senti a fome pulsando
Como os caranguejos em lamaçais
É impossível ver
Ignorar e não sofrer
Os cavaleiros da miséria
Lutando pra sobreviver
No futuro eu vejo
Tudo é ou será caranguejo
Com a fome no mundo não dá pra sorrir
Melhor somar para dividir

Mergulhei nesse mar de descaso social
Vi dor, discriminação... pobreza total
Relutei, deparei... ao chegar ao fundo
Os borrões de miséria
Manchas que envergonham o mundo

Bem sei que o reino do céu
Aos pobres tá reservado
O reino da terra aos privilegiados
Eu quero ter reforma agrária nesse chão
Chegar ao céu com a eterna proteção
Betinho foi a luz, Don Mauro trouxe a direção
Neste meu país a fome de direitos é a expressão
Contra as desigualdades sociais eu peço
Que se cumpra a constituição

Canta Independente
Com Josué de Castro nessa passarela
Ecoa um grito contra a fome
Pela cidadania e pela paz na Terra