Guaraná, a bateria
natural de energia no carnaval!
Guaraná
O guaraná há muitas centenas de anos foi domesticado e cultivado
pelos índios Sateré-Maués, um dos primeiros habitantes da Amazônia.
Portanto a espécie nunca foi encontrada no estado silvestre.
Acreditam os botânicos que mesmos aquelas plantas achadas em floresta
densa, foram originadas de um cultivo indígena no passado.
Guaraná é um cipó lenhoso que, em área de floresta ou capoeira,
cresce sobre as árvores atingindo até 10 m de altura. Entretanto
quando cultivado em áreas abertas tem porte de arbusto em forma
moita crescendo no máximo até 2 ou 3 m de altura.
Seu cultivo data da época pré-colombiana, quando era praticado por
diversas tribos indígenas, entre as quais Maués e Andirás, localizadas
no "baixo Amazonas".
A lenda sobre a origem do guaraná.
"Num lugar encantado chamado Noçoquem, existiam três
irmãos: Ocumáató, Icuamã e Onhiámuáçabê, que lá havia plantado
uma castanheira.
Todos os animais da selva queria viver com ela, além dos irmãos,
que a queriam sempre em sua companhia, porque era ela quem conhecia
todas as plantas com que preparava os remédios de que precisavam.
Uma serpente, conversando com outros animais, disse que Onhiámuáçabê
acabaria sendo sua esposa. Foi então espalhar pelo caminho por onde
ela passava um perfume que alegrava e seduzia. Quando Onhiámuáçabê
passou pelo caminho ficou encantada pelo perfume. A serpente, achando
estar a moça apaixonada por ela, foi correndo tocar, levemente,
numa de suas pernas. Isto só bastou para que a moça engravidasse.
porque antigamente, bastava a mulher ser olhada com desejo por alguém,
homem, animal, ou árvore, para esta engravidar. Quando a moça apareceu
prenhe, os irmãos ficaram furiosos e a expulsaram de Noçoquem.
A moça teve seu filho num barracão construído por ela mesmo. Era
um menino bonito e forte. Logo que pôde falar, o menino desejou
comer as mesmas frutas de que os tios gostavam. A moça contou ao
filho que havia plantado a castanheira em Noçoquem, para que ele
comesse os frutos, mas que os irmãos, expulsando-a da companhia
deles, se apoderaram da castanheira. Além disso, os irmãos da moça
tinham entregue o sítio à guarda da Cotia, da Arara e do Piriquito.
O menino, porém, continuou a pedir a Onhiámuáçabê, que lhe desse
a comer a castanha. De tanto insistir, Onhiámuáçabê resolveu levar
o filho ao Noçoquem para comer as castanhas. Quando a Cotia viu
no chão as cinzas de uma fogueira, onde haviam assado castanhas,
correu e foi contar o que vira aos irmãos da moça.
O menino que havia comido muitas castanhas e cada vez mais as cobiçava,
já conhecendo o caminho do Noçoquem, tornou a ir lá no dia seguinte.
Os guardas dos irmãos, que tinham ordens de matar a quem ali encontrasse,
viram o menino subir, às pressas, à castanheira. E foram esperá-lo
armados com uma cordinha para decepar a cabeça do comedor de castanhas.
Dando por falta do filho, a mulher já se havia posto a caminho para
buscá-lo, quando lhe ouviu os gritos. Correu na direção do filho,
mas já o encontrou decepado às mãos dos guardas. Arrancando os cabelos,
chorando e gritando sobre o cadáver do filho, a moça Onhiámuáçabê
disse: Está bem, meu filho. Foram os seus tios que mandaram te matar.
Mas isso não ficará assim!. Arrancou-lhe primeiro o olho esquerdo
e plantou-o. A planta, porém, que nasceu desse olho não prestava;
era a do falso guaraná. Arrancou-lhe, depois, o olho direito e plantou-o.
Desse olho nasceu o guaraná verdadeiro. E continuando a conversa
com o filho, como se o sentisse vivo, foi anunciando: - Tu, meu
filho, tu serás a maior força da Natureza; tu farás o bem a todos
os homens; tu serás grandes; tu livrarás os homens de uma moléstia
e os curarás de outras. Em seguida juntou todos os pedaços do corpo
do filho. Mascou as folhas de uma planta mágica, mastigou-a e com
o suco dessa planta lavou o cadáver do filho e o enterrou. Deixou
um dos seus guardas de inteira confiança, vigiando a sepultura.
Passado alguns dias, o guarda Caraxué, ouvindo barulho na sepultura,
correu, e foi avisar Onhiámuáçabê. A moça veio, abriu o buraco da
sepultura e de dentro dela saiu o macaco Quatá. A índia soprou sobre
o macaco Quatá e amaldiçoou-o: andaria sem repouso pelos matos.
Dias depois o Caraxué foi avisá-la de que ouvira um barulho na sepultura
do menino. A moça veio, abriu a sepultura e dele saiu o cachorro-do-mato
Caiarara. Ela soprou sobre ele e o amaldiçoou, para que ninguém
o comesse. Fechou de novo a sepultura e foi embora. Dias depois
o Caraxué foi avisar que ouvira barulho, de novo. Onhiámuáçabê foi
até lá; abriu o buraco da sepultura e dele saiu o porco Queixada,
levando os dentes que deveriam caber a todos os maués e a todos
os homens. Onhiámuáçabê expulsou também o porco Queixada. (à proporção
que saia um bicho da sepultura do menino e era expulso, a planta
do guaraná ia crescendo, crescendo). Passado alguns dias o Caraxué
ouviu outro barulho na sepultura e foi avisar Onhiámuáçabê. Ela
veio de novo, abriu a sepultura e dali saiu uma criança que foi
o primeiro Maué, origem da tribo. Esse menino era o filho de Onhiámuáçabê,
que ressuscitara.
História
de Maués
Os Maués eram índios guerreiros, famosos pelos costumes bárbaros.
A primeira notícia que se tem de Maués foi através do relatório
feito durante a visita do superior provincial jesuíta Padre Betendorf,
o qual referiu-se a Maués como "Vila dos Maguases".
Foi Lôbo D'Almada, Governador da Capitania do Rio Negro e Grão-Pará,
quem atraiu os guerreiros mundurucus e saterê-maué ao convívio social
dos brancos, com o fim de promover o rápido desenvolvimento da região.
Pouco tempo depois, foi fundado o povoado de Luséa, fundado pelos
portugueses Luís Pereira da Cruz e José Rodrigues Preto, e o trabalho
missionário foi entregue aos capuchinhos.
Os índios, descontentes com o trabalho escravo que lhes vinham impondo,
revoltaram-se, o que gerou uma sangrenta batalha (1832), com vários
colonos e trinta soldados portugueses mortos. Detalhe: os índios
mortos não foram contados.
Um ano após essa luta, ou mais precisamente em 25 de junho de 1833,
Luséa foi elevada a categoria de Vila. Data daí, a criação do município.
No ano de 1832 estoura, em Belém, a Cabanagem, revolução
contra a precária situação do povo, que teve a frente, além dos
colonos pobres, escravos e índios: os cabanos. Essa revolução espalhou-se
por toda a província, até os mais distantes lugarejos do interior.
A Vila de Luséa foi o cenário de sangrentas lutas entre os cabanos
rebeldes e as tropas fiéis ao governo, os legalistas, de outro.
A praça Cel. João Verçosa, em Luséa, por volta de 1840, foi palco
da rendição dos últimos cabanos resistentes, onde foi obrigatório
o juramento de fidelidade à Constituição.
Em 5 de setembro de 1850, o Amazonas foi elevado à categoria de
província. Com a criação da província do Amazonas, Luséa era um
dos quatro municípios existentes, porém foi desmembrado pela Lei
n 02 de 15 de outubro de 1952, dando origem ao município de Vila
Bela da Imperatriz (atual Parintins).
Uma boa parte da população indígena refugiou-se para além dos rios
Marau, Abacaxis, Apoduiutava e Andirá, e mantêm, nos confins de
Maués, boa parcela de sua cultura intacta até os dias de hoje. Os
saterê-maué são exemplo vivo da sobrevivência indígena. Ainda hoje
conservam a própria língua saterê-maué.
Em 11 de setembro de 1865, Luséa passou a ser denominada Vila Conceição,
já a Lei n 35, de 4 de novembro de 1892, deu ao município e sua
sede o nome de MAUÉS.
Em Maués há uma miscigenação que demonstra visível predominância
da raça indígena.
A formiga tem um significado especial e é muito respeitada por esses
índios. Uma das espécies, a tocandira, é considerada como divindade
e usada nas rituais de passagem. A picada é extremamente dolorosa,
mas os meninos para demonstrar coragem tem que colocar a mão dentro
de uma espécie de luva cheia de tocandiras e resistir impassíveis
à dor. Só depois disso são considerados adultos.
Os saterê-maué têm uma forte tradição agrícola e comemoram o fim
da colheita com o tarubá, uma bebida fermentada tão forte que pode
causar embriaguez por até um mês.
Maués a cidade do guaraná
Maués é uma das cidades mais belas do Amazonas, conhecida como cidade
do guaraná porque mesmo os seus primeiros habitantes, os índios
maués, já o cultivavam. Sendo ainda hoje, e até pela valorização
nacional do produto, o mais cultivado na região.
Possui 39.675 Km², com aproximadamente 36.420 habitantes, e está
localizada a 267 quilômetros de Manaus, possuindo as praias mais
famosas do estado, além do contato direto com a cultura de algumas
civilizações indígenas ainda presentes, estas responsáveis por uma
variedade de artesanato e lendas, destacando-se o artesanato saterê-maué,
grupo étnico que habita um trecho do rio urupadi, sob a jurisdição
da FUNAI, e a lenda do guaraná.
O nome Maués tem origem da língua tupí: mau adjetivo traduzido
por curioso, inteligente, abelhudo; ueu ave da casta dos papagaios;
Maué ou Maue nome usado para designar a nação indígena que habitava
a região e se traduz por "Papagaio Curioso e Inteligente";
Maués cidade dos papagaios inteligentes.
Além das belezas naturais, Maués vem se firmando como grande polo
turístico do Estado do Amazonas e realiza festas quase o ano todo,
das quais destacam-se a Festa do Guaraná, realizada normalmente
no mês de novembro; o Festival de Verão, realizado no mês de setembro
e que dá ênfase às competições esportivas de praia; o Carnaval de
Rua que conta com vários blocos e mantém a beleza dos carnavais
antigos; e a Festa do Divino realizada no mês de maio.
Propriedades terapêuticas
Em 1946 o médico Othon Machado divulgou os seguintes resultados
sobre as propriedades medicinais do guaraná: antitérmico, antineurálgico,
antidiarréico, estimulante, analgésico e antigripal.
Estudos realizados em 1965 por Ritchei, mostram que a teofilina,
a teobromina e a cafeína atuam sobre o sistema cardiovascular, o
sistema nervoso central, músculos lisos, esquelético e rins.
A Dra. Ana Aslan, geriatra internacionalmente reconhecida, quando
de sua visita ao Brasil, em 1972, declarou ser o guaraná "o
geronvital brasileiro".
Scavone, Panizza e Cristodoulov, pesquisadores do Instituto de Botânica
da USP, comprovaram que o guaraná em pó substitui com vantagem o
Ginseng, que é uma droga obtida das raízes da planta do mesmo nome,
utilizada como estimulante psicomotor e afrodisíaco, importada a
elevados custos da Coréia e Estados Unidos.
A sabedoria indígena reconheceu há muitos séculos as propriedades
alimentares e medicinais do guaraná. Soube também aproveitá-lo como
adorno, utilizando-o como matéria prima de rico e lindo artesanato.
Criou magníficas lendas em torno dessa fruta, que "explicam
a sua origem e a de vários animais.
A sabedoria indígena soube extrair de um simples arbusto alimento,
ciência, arte e cultura.
O homem branco industrializou e criou inúmeros produtos que aproveitam
ao máximo o sabor e as qualidades terapêuticas da fruta.
Em 2001, o Infantes da Piedade virá com a corda toda, transbordando
alegria e vibração, embalado no poder do Guaraná, a bateria natural
de energia no Carnaval.