FICHA TÉCNICA 1974

 

Carnavalesco     José Félix
Diretor de Carnaval     ...............................................................
Diretor de Harmonia     .............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     Tobias
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Ademir e Maria Luiza
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Sérgio e Rosângela
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1974

Cobra Norato

Introdução:

          Da classe dos mitos etiológicos, o da Cobra Norato, ou Honorato, é uma das variantes mais conhecidas do folclore amazônico. Mas o mito serpentário propriamente dito é uma idéia elementar comum a todos ou quase todos os povos primitivos. A Cobra-Grande e suas variantes Cobra-Preta ou Boiúna, Cobra de Óbidos, Cobra Norato, Cobra Maria, Caboclo d’Água, do rio São Francisco, Cabeça de Cuia do Parnaíba, Ururau, do Paraíba do Sul, Demônio do Rio, do Paraná, que as vezes se cruzam com outras lendas e mitos aquáticos, principalmente fluviais, como a da Iara, da Mãe-D’Água, a de Iemanjá a das sereias em geral e do próprio Boto amazônico, são versões locais.

O Mito

          Diz a lenda que uma mulher indígena, quando tomava banho no Paraná do Cachoeri, entre o rio Amazonas e o rio Trombetas, no município de Óbidos, foi engravidada pela cobra grande. Nasceram um menino e uma menina, que a mãe, a conselho do pajé, atirou ao rio, onde se criaram, transformando-se em cobras-d’água.
          O menino, Honorato, Norato e a menina, Maria Caninana, andavam sempre juntos. Norato era bom e Maria, má, virando embarcações, matando náufragos, perseguindo animais.
          Para livrar-se de constantes aborrecimentos, a Cobra Norato viu-se obrigada a um dia matar a irmã, depois do que, desencantou-se, deu para freqüentar bailes, transformado num rapaz alto e bonito, deixando o couro à margem do rio. A cobra Norato só se livraria de sua penitência se alguém tivesse coragem de lhe por um pouco de leite na boca, e de lhe dar uma cutilada na cabeça, que deveria sangrar.
          Foi o que fez um soldado de Cametá, no rio Tocantins, e a cobra Norato desencantou-se.

O Poema

          Do alvoroço provocado pela chamada Semana da Arte Moderna, nos idos de 22, sobraram algumas obras cujo valor, o tempo e a perspectiva não fizeram senão confirmar.
          Cobra-Norato uma das obras mais singulares de nossa literatura contemporânea, influenciada pelo espírito de renovação que marcou, de modo geral, o movimento modernista.
          A poesia mítica de Cobra-Norato é saga de fundo folclórico, rapsódia de influxo popular com heróis míticos.
          Cobra Norato é a terra, suas águas e florestas, como símbolo da “terra e da gente do Brasil”, numa visão alucinada e poética da nossa história, origem e destino.
          A terra em Cobra Norato é terra grávida, amazônica, florestal, aquática, “terra-do-sem-lhe-achar-fim”, numa geografia sem limites.
          Cobra Norato é em síntese, um poema épico, em que além do herói principal – entidade mítica a agir como ser humano – atuam também como personagens os elementos do meio-físico – árvores, águas, raízes, galhos – que, em alegoria, se animizam em seres vivos.
          O tema, a linguagem, a sua riqueza metafórica, a grande expressividade verbal fazem do poema uma obra singular ocupando lugar de destaque na literatura de nosso tempo.

                              Cobra Norato
                                                  Raul Bopp

Um dia
eu hei de morar nas terras do Sem-fim
Vou andando caminhando caminhando
Me misturo no ventre do mato mordendo raízes
Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar a Cobra Norato

A noite chega mansinho
Estrelas conversam em voz baixa
Brinco então de amarrar uma fita no pescoço
e estrangulo a Cobra

Agora sim
me enfio nessa pele de seda elástica
e saio a correr mundo

Vou visitar a rainha Luzia
Quero me casar com sua filha

Mas antes tem que passar por sete portas
Ver sete mulheres brancas de ventres despovoados
guardadas por um jacaré

Tem que fazer mirongas na lua nova
Tem que beber três gotas de sangue
Tem que entregar a sombra para o Bicho do Fundo.

Vou furando paredões moles
Caio num fundo de floresta
Inchada alarmada mal-assombrada
Passo por baixo de arcadas folhudas
Ai! Tenho pressa. Vou andando
Furo tabocas

Escorrego por um labirinto
com árvores prenhas sentadas no escuro
Raízes com fome mordem o chão

Carobas sujas levantam os vestidos
como cachos de lama pingando
Açaís pernaltas
movem as folhas lentas no ar pesado
como pernas de aranha espetadas num caule
Miritis abrem os grandes leques vagarosos
Desaba a chuva
Vento saqueia as árvores folhudas
Nuvens negras se amontoam
Palmeiras aparam o céu
As lagoas arrebentaram
Água rasteira agarra-se nos troncos
Rolam galhos secos pelo chão
De todos os lados me chamam
- Onde vais Cobra Norato?
- Vou ver a filha da rainha Luzia

Sigo depressa machucando a areia
Erva-picão me arranhou
Caules gordos brincam de afundar na lama
Moitas de tiririca entopem o caminho
Ando já com os olhos murchos
de tanto procurar a filha da rainha Luzia
O resto da noite me enrola
O vento mudou de lugar
Um assobio assusta as árvores
Cai lá adiante um pedaço de pau seco
Um berro atravessa a floresta
O rio se engasgou num barranco

Espia-me um sapo sapo
- Quem é Você?
- Sou a Cobra Norato
Vou me amasiar com a filha da rainha Luzia
Ai que estou perdido
num fundo de mato espantado mal-acabado
- Olelé. Quem vem lá?
- Eu sou o Tatu-de-bunda-seca
- Ah compadre Tatu
Quero que você me ensine a sair desta goela podre
- Então se segure no meu rabo que eu le puxo

Acordo
A lua nasceu com olheiras
O silêncio dói dentro do mato
Abriram-se as estrelas
As águas grandes se encolheram com sono
A noite cansada parou
- Escuta, compadre
O que se vê não é navio É a Cobra Grande
- Aquilo é ‘a Cobra Grande
Quando começa a lua cheia ela aparece
Vem buscar moça que ainda não conheceu homem
- E agora, - compadre
vou de volta pro Sem-fim
- Pois então até breve, compadre
Fico le esperando
atrás das terras do Sem-fim.

Raul Bopp: o embaixador

          Nasceu Raul Bopp em 4 de agosto de 1898, no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, localidade Pinhal, outrora denominada “Parada Kroeff” onde residia seu avô materno, Miguel Kroeff. Viviam também, nas imediações, os Bopps, dados à vida campeira, proprietários de terras de criação de gado, em São Martinho.
          Raul Bopp, com menos de um ano, foi levado para Tupanciretã. Era um ponto da antiga estrada real, que se esgalhava em caminhos de tropas e carretas, por toda a região missioneira, e compunha-se de meia dúzia de estâncias; algumas casas de tábua e a estação de estrada de ferro. Aí se fixou o velho Bopp, com o comércio de couros e cortume, estabelecendo depois; uma fábrica de arreios e calçados. Com o tempo, a estrada real virou povoado. Progrediu até ser vila, depois cidade.
          Aos 16 anos, resolveu Bopp viajar por outras terras. Pegou de um cavalo da invernada do pai e saiu a correr mundo. Da fronteira seguiu até ao Paraguai. Andou por Mato Grosso, onde se acabou o dinheiro que trazia. Começou a trabalhar. Chegou a ser pintor de paredes em Aquidauana. De regresso ao Estado natal, decidiu iniciar os estudos acadêmicos. Fez o curso de Direito em diferentes Academias do Brasil: Porto Alegre, Recife, Belém e Rio de Janeiro. De 1926 a 1929, residiu em São Paulo, quando, então, compôs com Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral o grupo que iria fundar a Antropofagia Brasileira de Letras; movimento literário modernista, definido em poesia na explosão de genialidade: “Cobra Norato”.
          Passou, depois; dois anos em viagem, pelo Extremo Oriente, Europa e América Latina. Entrou na carreira diplomática em 1932, servindo durante trinta anos, no Japão, Lisboa, Zurique, Barcelona, Guatemala, Berna, Viena e Lima.
          Raul Bopp viveu o povo e a terra. Afundou as mãos na lama viva do Amazonas e, com ela, plasmou os seus poemas.
          E agora te pergunto:
          - Aonde vais Raul Bopp?
          E responde a LINS IMPERIAL
          - Prá Academia Brasileira de Letras.

          A LINS IMPERIAL lançou dia 16 de fevereiro de 1974 o nome do Embaixador Raul Bopp à Academia Brasileira de Letras na: Noite da Cobra Norato homenagem ao embaixador Raul Bopp e a Academia Brasileira de Letras

Bibliografia de Raul Bopp:

  • Cobra Norato (8ª edição), São Paulo, 1931

  • Urucungo (poemas negros), Rio de Janeiro, 1932

  • América (folheto), Los Angeles, 1942

  • Notas de Viagem (Uma volta pelo mundo em 30 dias), Berna, 1959

  • Notas de um caderno sobre o Itamarati, Berna, 1960

  • Movimentos Modernistas no Brasil, Rio de Janeiro, 1966

  • Memórias de um Embaixador, Rio de Janeiro, 1968

  • Putirum (Poesias e Coisas de Folclore), Rio de Janeiro, 1969

  • Coisas do Oriente (Notas de Viagens), Rio de Janeiro, 1971

Em colaboração:

  • Caminhos para o Brasil – com Américo R. Netto e D. L. Derron, São Paulo, 1929

  • Sol e Banana – com José Jobim, Tóquio, 1938

  • Geografia Mineral – com José Jobim, Tóquio, 1938

          O Embaixador Raul Bopp está misturado ao povo, a quem tanto ama, na Avenida Rio Branco, assistindo ao desfile da sua “Cobra Norato.”

Sinopse:

Cobra Norato - um esquema de balé, tipo oratório, com bailados, coro, vozes escondidas

          Desdobra-se o poema numa espécie de balé (oratório, com projeções, coros vozes escondidas, etc.). Esses elementos poderão ser utilizados por pessoas entendidas na técnica de balé de rua, da forma mais conveniente que forem encontrando, conservando a sua tônica folclórica.

Raul Bopp
Rio, 5.julho.1973

Primeira Parte:

          Apresentação musical da floresta amazônica, no seu sentido telúrico. Gritos avulsos sacodem a massa sinfônica. A selva inteira se alarma. Correm vozes em desordem. Os sapos soletram as leis da floresta, com mensagens cifradas.Silêncio procura um lugar longe da agitação, entre pipilos e gargalhadinhas. Um jogo de luzes giratórias cria a impressão de uma área de magicismo.
          Norato, num estado de obsessão afetiva, semi-sexual, percorre o mundo amazônico, à procura da filha da Rainha Luzia. De todos os lados me chamam. “- Onde vais Cobra Norato? Tenho aqui. três arvorezínhas jovens à tua espera.”
          - Não posso Eu hoje vou dormir com a filha da Rainha Luzia Mas essa aventura não é fácil. O nosso herói terá que vencer um exaustivo ciclo de provas:
          Tem que passar por sete mulheres brancas de ventres despovoados
          Tem que entregar a sombra pro Bicho do Fundo.
          Tem que fazer mirongas na lua nova
          Depois das primeiras cenas, acentua-se a impressão surrealista do universo amazônico:
          Aqui é a Escola das Árvores
          Estão estudando geometria
          Lá adiante, a imposição da floresta, inimiga do Homem:
          Vocês estão condenadas a trabalhar sempre sempre
          Ai ai! Nós somos escravas do rio.
          O eco se repete e se afunda em lonjuras soturnas:
          ... escravas do rio...
          Sapos com dor de garganta estudam em voz alta. Riozinho vai pra escola. Está estudando geografia. Chega a floresta grávida, com árvores prenhes, no escuro. Águas defuntas estão esperando a hora de apodrecer:
          - Ai que eu era um rio solteiro
          Vinha bebendo o mau caminho
          Mas o mato me entupiu
          Agora estou com o útero doendo ai ai
          Norato possa em meio de troncos encalhados. Raízes desdentadas mastigam lodo. A selva imensa está com insônia. Bocejam árvores sonolentas. Espia-me um sapo sapo sapo. Caio num fundo de floresta inchada alarmada mal-assombrada. Um ruído vai crescendo. Ouvem-se em gritos de “Ai me acuda”. Estão surrando pássaros:
          Ai ai ai ai
          - O que é que você vai fazer lá em cima?
          - Tenho que marcar as horas no fundo do mato;
           Tiug Tiug Tuig Twi-twi-twi
          A floresta trabalha. Cipós tecem intrigas no alto dos galhos. Arbustos incógnitos perguntam: “- Já será dia?” Manchas de luz abrem buracos nas copas altas. Árvores-comadres passam a noite tecendo folhas em segredo. Palmeiras aneladas se abanam. Vento-ventinho assopra de fazer cócegas nos ramos. Desmancha escrituras indecifradas. Um berro atravessa a floresta. Vai abrindo caminho entre as árvores assustadas. Ouvem-se rumores de forjas escondidas, batendo, soldando, serrando, serrando.
          Parece que estão fabricando terra. (Ué! Estão mesmo fabricando terra)
          Riozinhos. soltos, sem filiação certa, vão de muda nadando nadando. Entrem resmungando mato-a-dentro. Um socó-boi sozinho bebe o silêncio. Uma inhambu se assusta. Silêncio se machucou. Ecoa no fundo sem resposta, o grito cansado de um pixi-pixi. Gaivotas medem o céu. (O céu parece uma geometria em ponto grande). Passarão sozinho risca a paisagem bojuda. O sol brilha como um espelhinho.
          Norato, exausto, gasta as suas forças nessa penosa travessia. Afunda-se, depois, numa floresta de hálito podre:
          - Vou ficar com os olhos entupidos de escuro
          Perdido num mundo visguento, ele encontra um companheiro, o Tatu-de-Bunda Seca, que conhece todos ai mistérios do mato. Compadre Tatu ajuda Norato a vencer o pesado ciclo de provas, para obter a ventura de encontrar a filha da Rainha Luzia. Prepara pussangas de cheiro contra mau olhado. Cascas de tinhorão, pra distorcer quebranto. Mas nada disso deu certo. Sente uma jurumenha que lhe morde o sangue devagarzinho:
          Ai Onde é nua andará?
          Eu quero somente
          ver os seus olhos molhados de verde,
          seu corpo alongado de canarana.
          Ela anda agora por certo bem longe...
          Não deixou nome da areia
          o seu rasto o vento levou
          Desanimado, Norato estira-se num paturá. Parece que a noite parou. Sente-se num enorme silêncio a pulsação da terra
          Agora
          quero um rio emprestado pra tomar banho.
          Quero dormir três dias e três noites
          com o sono do Acutipuru

          A lua nasceu com olheiras. O silêncio dói dentro do mato. Encolhe-se a luz do dia. A sombra vai comendo devagarzinho os horizontes inchados. Os panoramas se afundam num naufrágio lento. A noite encalhou com um carregamento de estrelas.

Segunda parte:

          Putirum. Cena alegre das farinhadas, de ânimo buliçoso. Mulheres trabalham nos ralos esfarinhando a tapioca.
          - O Joaninha Vintém, conte um causo.
          - Causo de que?
          - Qualquerum
          - Vou contar causo do Boto
          Putirum Putirum
          Amor chovia
           Chuveriscou.
          Tava lavando roupa, Maninha
          quando Boto me pegou.
          - Joaninha Vintém, Boto era feio ou não?
          - Ai era um moço loiro, maninha,
          tocador de violão.
          Me pegou pala cintura
          - Depois o que aconteceu?
          - Gentes! Olha a tapioca embalando no tacho
          - Mas que Boto safado
          Putirum Putirum

B) Outra cena:

          Chegam Cobra Norato e o Bunda Seca a uma festa. Estão dançando uma quadrilha
          - Com sus pares contráro
          - Vorver pela direita
          - Mudar de posição
          Urumutum Urumutum.
          Vou tomar tacacá quente
          Tico-tico já voltou
          Foi no mato cortar lenha
          Urumutum Urumutum
          Pedem licença pra entrar.
          - Moço. Experimente um golinho de cachaça ardosa, pra pegar sustança. Norato puxou um “chorado” com a viola:
          Angelim folha miúda
          que foi que te entristeceu?
          Taruman
          Foi o vento que não trouxe
          notícias de quem se foi
          Taruman
          Aplausos. Segue a conversa. Passam pela roda as cuités de tiquira. A pedido, Norato canta o “chorado” do Tajá:
          Tajá da folha comprida
          não pia perto de mim tajá
          Tatu disse qualquer coisa ao ouvido de Norato:
          - Compadre, Joaninha Vintém quer vim junto.
          - Nada disso, que já é tarde. Vamos pegar o corpo velho que ficou lá fora.

C) Pajelança

          Pagé num canto do rancho assobia fininho. Assobia. Assobia, chamando o mato. Mestre Paricá (espécie de sacristão) chama os doentes, os de espinhela caída de sazões, inchaço no ventre.
          Pagé derrepente adquire um grão de mediunidade. Salta no meio do pátio. A onça entra no corpo do pagé. Começa a dançar como um felino. Depois inicia um diálogo de ventríloquo. Pede tafiá. Consulta a onça sobre doenças.
          - Ah, Só quem sabe disso é o urubu-tinga
          Seguem-se novas “incarnações” e consultas, até varrer o feitiço do corpo do doente com uma pena de ema.
          Pagé pede mais diamba. Fuma e tonteia. Entra em estado de transe com um assobiozinho que vai enfraquecendo até sumir em silêncio. Então contrata o mato para fazer mágica. A floresta ventríloqua brinca de cidade. Movem-se espantalhos monstros. Arvores encapuçadas soltam fantasmas. As distâncias se desfiam na neblina. Uma árvore telegrafa para outra: Tsi tsi tsi Jaquirana-boia apita. (Parece o apito de um navio).

Terceira Parte:

          Ouve-se o apito de navio, da jaquirana-boia. Norato diz para o Tatu:
          - Lá um vindo um navio
          - Aquilo não é navio, cumpadre
          - Mas as velasa bujarrona, o casco de prata?
          É a visage da Cobra Grande que vem, nas luas cheias, buscar uma moça que ainda não conheceu homem.
          Parece que ouço um soluço se quebrando na noite.
          - Coitadinha da moça, cumpadre. Si eu pudesse ia assistir o casamento.
          - Casamento da Cobra Grande chama desgraça. Só si a gente arranjar mandinga de defunto.
          - Ué. Então vamos, Lobisome está de festa no cemitério.
          Abre-te Vento, que eu te dou um vintém queimado
          - Preciso passar depressa antes que a lua se afunde no mato.
          - Então passe meu neto
          - Quero chegar na Serra longe: Pereré Pereré Pereré
          Pago- Pato, meu avô, arreda o mato mais pro fundo que eu preciso passar.
          Levo um anel e um pente de ouro, pra noiva da Cobra Grande.
          - Que mais que tu levas?
          Levo Cachaça.
          - Então deixo um pouco. Pode passar
          Canta um pitiro pitiro no fundo do mato
          Silêncio não respondeu:
          Matim-tá-Pereira vem chegando
          Bom cê deixar um pedaço de fumo pro Curupira.
          Vamos pra adiante que já é tarde. O mato está esperando a madrugada. Devagar que chão duro dói chô chô.
          Já avistei Serra do vento do lado de lá do luar. Terras da Cobra Grande começam atrás do pantanal.
          Me dê três folegos pra descanso que o ar entupiu. Então esperasinho um pouco preu assoprar na barriga.
          Vamos descer no buraco do espia, que há um escuro de se esconder. Dali pode-se ver a noiva da Cobra Grande. Cumpedre! Eu tremi de susto. Parou a respiração. Sabe desta vez quem é a noiva de Cobra Grande? É a própria filha da Rainha Luzia. Então corra com ela depressa. Não perca tempo compadre. – Ai Quatro Ventos me ajudem. Doem-me forças pra fugir. Sapo-boi faça barulho. Cobra Grande vem-que-vindo pra me pegar Serra do Ronca rola abaixo. Tape o caminho atrás de mim. Tamaquaré meu cunhado Cobra Grande vem-que-vem. Corra imitando o meu rasto. Faz de conta que sou eu. Entrega o meu. pixê na casa do Pagé-Pato. Torça caminho depressa, que a Boiuna vem lá atrás como uma trovoada de pedra. Vem amassando mato. Pagé-Pato ensinou caminho errado: - Cobra Norato com uma moça? Foi pra Belém. Foi se casar.
          Cobra Grande esturrou direto pra Belém. Entrou no cano da Sé e ficou com a cabeça debaixo dos pés de Nossa Senhora.

“Finale”:

          - E agora compadre?
          Vou lá para as terras altas, onde o mato se amontoe. Onde correm os rios de águas claras, entre moitas de molungu.
          Procure minha madrinha Maleita. Diga que eu vou me casar. Que ou vou vestir minha noiva com um vestidinho de flor. Quero uma rede bordada com ervas de espalhar cheiroso. E um tapetinho-titinho de penas de irapuru.
          No caminho vá convidando gente pra Caxiri grande. Haverá muita festa durante sete luas, sete sois, com bebidas de embebedar. Traga a Joaninha Vintém, o Pagé-Pato, o Boi Queixume. Não se esqueça dos Chicos (Portinaris) Maria Pitanga, João Ternura, Tarsila, Augusto Meyer.
          Quero povo de Belém, de Porto Alegre, de São Paulo. Pois então até breve, Compadre. Fico lê esperando atrás das terras do Sem-fim.

Comentários:

          O conteúdo do poema, no meu modesto modo de ver, e sem conhecimentos da técnica do balé, poderia ser distribuído em três partes conforme o esboço apresentado em páginas anteriores. Parece-me que, na primeira parte, notadamente, deveria haver uma predominância musical (coros, vozes escondidas, zoofonias, ruídos avulsos etc) sobre os quadros coreográficos, isto é, deveriam intervalar apenas números da dança que conduzam o enredo do poema, movimentando naturalmente outros elementos que ajudem a compor os cenários amazônicos, cheios de mistério e magia. A presença de certas figuras no palco, como monstros, a boiúna, etc podem facilmente conduzir a efeitos grotescos. Talvez por isso, seja preferível uma espécie de abstratização dessas figuras, com projeções adequadas ou simplesmente com silhuetas. A música auxiliada também pelos processos modernos de projeções, com transformações de massas coloridas (lutas de raízes etc) provocaria seguramente impressões surrealistas da Amazônia. A letra do poema não tem importância. Importante é se conseguir efeitos apropriados com a utilização de recursos musicais e luminosos (ecos que se repetem etc) para a apresentação poética da região. O tema se desenvolve numa atmosfera de magicismo. Basta procurar compreender as suas disposições líricas, numa linguagem de adivinhações. Pode-se, no caso, aplicar apropriadamente o conceito rimbeaudiano que “les coulers et les sons se répondent”
A primeira parte teria a presença de três personagens apenas: a Cobra Norato, figura galharda, de fita no pescoço, que me transforma às vezes num moço loiro, tocador de violão. No começo, bastante presumido, mas que foi ficando cansado no seu penoso ciclo de provas (uma andança obsessiva para encontrar a filha da Rainha Luzia). Esta é uma figura errática e fugidia, que no primeiro ato tem destaque em alguns bailados. Em terceiro lugar o Tatu-de-Bunda-Seca que conhece todos os mistérios do mato e ajuda Norato em suas andanças amazônicas.
          A segunda parte, mais ligeira e alegre, de sabor folclórico, tem como finalidade estabelecer um intervalo, para evitar o cansaço do espectador. Corresponde, por assim dizer, a algumas pinceladas vermelhas e alegres dentro de um cenário, com uma pesada moldura de água e mato. Constaria de algumas cenas típicas da Amazônia: As farinhadas com a canção da Joaninha Vintém: Festa dos violeiros, com cuités de chiribita. Canções de Norato, (um tipo de Orfeu mítico), na sua obsessão de encontrar a criatura pela qual está enamorado, Pagelança. O Pagé encarna o espírito de bichos, num grau de mediunidade, com ensaios de danças zoolátricas Depois de umas tragadas de diamba contrata o mato para fazer mágica. A floresta se avoluma. Desembarcam vozes de contrabando. Jaburus, de monóculo, namoram as estrelas míopes. O céu parece envidraçado. As distâncias se desfiam na neblina.
          O terceiro ato se relaciona com o rapto dramático da filha da Rainha Luzia, que por uma infausta coincidência, ia sendo lavada do resgate pela Cobra Grande. Norato entra em ação pra salvar a moça das garras do monstro. Recorre aos elementos da selva para auxiliá-lo na fuga. Passa na ponta do Escorreta. – Pagé-Pato, meu avô arreda o mato mais pro fundo, que eu preciso passar. – Ai Quatro Ventos me ajudem, dêem-me forças pra fugir. – Serra do Ronca role abaixo. Tape o caminho atrás de mim, que a Cobra Grande vem-que-vem-vindo pra me pegar. Vem amassando mato. Arvorezinhas rolam esmagadas, de raízes para cima. O horizonte ficou chato. Pagé-Pato ensinou o caminho errado:
          - Cobra Norato, com uma moça?
          Foi pra Belém. Foi se casar.
          A Boiúna esturrou direito pra Belém. Entrou no cano da Sé e ficou com a cabeça debaixo dos pés de Nossa Senhora.
          Acho que para maior impressão auditiva de sustos e sobressaltos, teriam ótimo feito as batidas secas de taboinhas e que acompanham o. estados de emoção, em uso no teatro japonês (Kabuki).
          O epílogo de caráter lírico se constitui uma cena pastoral, com um happy ending. Norato leva a noiva para as terras altas, onde o mato se amontoa. Onde correm os rios de águas claras, entre moitas de molungu. Quer estarzinho com ela numa casa de morar com porta azul piquininha, pintada a lápis de cor.
          Despede-se do seu compadre Tatu. Disse que vá convidando gente para o Caxiri grande (casamento). Começa depois a chegar convidados de todos os ângulos do palco e da platéia, gente de Belém, de Porto Alegre, de São Paulo. Vozes escondidas vão anunciando: Chega a Joaninha Vintem. Traz um presentinho de casamento: Um paneiro de farinha dágua. Do outro lado chega João Ternura. Faz vivos carinhos à noiva.
          Chegam os Chicos (Portinari ligeiramente rengueando). Vem Tarsila numa túnica branca, e cabelos lisos puxados. Traz de presente um baú de lata pintado. O Augusto Meyer alto magro, seco, Leva pra noiva um livro de figuras. A presença de outros personagens dependerá dos arranjos do coreógrafo: o Tamequaré, Pagé-Pato Boi Queimume, Sapo-Boi, Maria Pitanga, Tata de Caruga, etc. Poderiam também serem convidadas outras figuras do nosso folclore, que não tomam parte no poema. Por exemplo: Juca Mulato, a Nega Fulô, Martim Cererê, Jorge Amado e Dona Flor, Prudentinho, Drummond, Di Cavalcanti, Pedro Nava. Aparece no palco todo o elenco para um grande finale.

                    Princípio
                              Raul Bopp

No princípio era sol sol sol
O Amazonas ainda não estava pronto
As águas atrasadas
derramavam-se em desordem pelo mato

O rio bebia a floresta

Depois veio a Cobra Grande Amassou a terra elástica
e pediu para chamar sono
As árvores enfastiadas de sol combinaram silêncio
A floresta imensa chocando um ovo!

Cobra Grande teve uma filha. Ficou moça
Um dia
ela disse que queria conhecer homem
Mas não encontraram rasto de homem

Então
começaram a adivinhar horizontes
e mandaram buscar de muito longe um moço

Ai! que houve festa na floresta!

Mas a filha da Cobra Grande não queria dormir com o noivo

porque naquele tempo não havia noite
A noite estava escondida atrás da selva
dentro de um caroço de tucumã
Ah! então vamos buscar o tucumã
pra dar de presente de casamento

Velo o Sapo Jabuti veio também
O Camaleão estava esperando sono
A Onça não pôde vir porque tinha emprestado os sapatos

Andaram Andaram

As vozes iam na frente procurando caminho

Desembarcavam árvores Raízes furavam a lama
A floresta crescia

Chô que depois de muito andar chegaram

- Esta é que é a noite?
- Será mesmo a noite?
- Ah! não acredito

Então vamos espiar o que tem dentro.

Quando abriram o caroço
houve sou estouro imenso
que cobriu tudo de escuro

A floresta inchou
Árvores saíram correndo
Um pedaço da noite entrou na barriga do Sapo.

Então
a filha da Cobra Grande pôde fazer dormezinho com o noivo

Cronograma de Desfile:

Alegorias:

  • Abre-alas: “Terra-do-sem-lhe-achar-fim”’

          Alegoria composta sobre estilização surrealista de asa de ave encimada pelo sol, e animais representando a fauna amazônica. Cestas com folhas, flores e aves simbolizando a hiléia amazônica.

Começa agora a floresta cifrada
Vou andando caminhando caminhando
Sol parece um espelhinho
A floresta vem caminhando
- Abra-me que eu quero entrar.

  • Alegorias Conduzidas: “Hiléia Amazônica”

          Conjunto de folhas e galhos
          Conjunto de flores

Pano por baixo de arcadas folhudas
Árvores-comadres
Passaram a noite tecendo folhas em segredo
Galhinhos fazem psiu
Faço puçanga de flor de tajá de lagoa

  • 1ª Alegoria:

          Conjunto alegórico representando uma clareira na floresta indecifrada. Tucanos, garças, araras e animais da região amazônica.

Tenho aqui três arvorezinhas jovens a tua espera
Caules gordos brincam de afundar na lama
Moitas de tiririca entopem o caminho
Raízes com fome mordem o chão.

  • 2ª Alegoria: “Lendas Amazônicas”

          Fantasia com portal figurando a entrada no mundo fantástico e misterioso em cujo clima desenvolve-se o romanceiro amazônico.
          Esculturas de Tupi e Vitória-Régia em meio a vitórias-régias, jacarés, tartarugas. Cestas trabalhadas em vime com folhas e aves.

Lobisomem está de festa no cemitério
Pererê Pererê Pererê
- Bom cê deixar um naco de fumo pro Curupira, compadre Putirum Putirum
- Vou te contar causo de Boto

  • Alegorias Conduzidas: “Fauna Amazônica”

          Conjunto com Tucanos
          Conjunto com Araras
          Conjunto com Garças

Gaivotas medem o céu
O sol tinge a paisagem
Céu muito azul
Garcinha branca voou voou ...

  • 3ª Alegoria: “E Norato desencantou-se”

          Diz a lenda que a Cobra Norato desencantou-se quando um soldado lhe pôs um pouco de leite na boca e lhe deu uma cutilada na cabeça

Brinco então de amarrar uma fita no pescoço e estrangulo a Cobra

          O desencantamento da Cobra Norato encharcada no lodo e na lama do Grande Rio, transformado num rapaz alto e bonito em escultura.
          Painel com luzes giratórias para o clima de oratório, com projeções, coros, vozes escondidas.

O texto grifado é poesia de Raul Bopp.

Ordem do Desfile:

1ª Parte: Amazônia Fantástica:

  • Estandarte: Um dia eu hei de morar nas terras do Sem-Fim

  • Estandarte: S. R. E. S. LINS IMPERIAL apresenta

  • Abre-Alas: “Terra-do-sem-lhe-achar-fim”

  • Comissão de Frente: Ala dos Notívagos

  • Bateria: Ala da Bateria

  • Tímpanos: Darcy Vieira

  • Crooner: Tobias

  • Conjunto: Brasil Samba Show

  • Estandarte: Amazônia Fantástica

  • Amazonas (Icamiabas): Ala Az de Ouro

  • Expedição Francisco Orelhana: Ala dos Independentes

  • Bandeirantes: Ala Mirim das Impossíveis

  • Destaque Francisco Orelhana: Waldyr Jorge Ferreira

  • Garimpeiros: Ala das Estrelas

  • Pedras Preciosas (Esmeralda, Topázio, Turmalina e Ametista): Ala Pobres de Paris

  • Galhos: Ala do Daico

  • Raízes: Ala Enraizada

  • Destaque Terra: Celia Mana Pinto

  • Destaque Lama, Lodo e Charco: Juracy Julia Conceição Marques

  • Alegorias Conduzidas: conjunto de garças (10), conjunto de flores (10)

  • Exploradores: Ala dos Barões

  • Destaque Água: Osvaldina Roque Bento Fernandes

  • Baianas Estilizadas: Ala do Zeca

  • Destaque Chuva: Léa Conceição Torres

  • Estrelas: Ala das Cabrochas

  • Tucanos: Ala dos Tucanos

  • Modernos Bandeirantes: Ala das Moderninhas

  • Destaque Amazônia Fantástica: Newman Amazonas

  • Baianas Estilizadas: Ala das Novidades

  • 1ª ALEGORIA: Amazônia Fantástica

  • Cacique: Mineiro

  • Índios na Clareira: Ala Apoio XI

2ª Parte: Lendas Amazônicas

  • Estandarte: Lendas Amazônicas

  • Baianas Estilizadas: Ala das Pétalas

  • Botos: Ala dos Cafonas

  • Vitórias-Régias: Ala das Gatas

  • Sacis-Pererês: Ala dos Mascotes

  • Destaque Jaci (A Lua): Dona Teca

  • Jaçanãs: Ala do Zuzu

  • Baianas Estilizadas: Ala das Noctambulas

  • Destaque Pajé: Walter

  • Curupiras: Ala dos Curupiras

  • Caaporas: Ala dos Vazados

  • Alegorias Conduzidas: conjunto com tucanos (5), conjunto com araras (5), conjunto com folhas e galhos (5)

  • Jovens na festa da farinhada: Ala das Impossíveis

  • Mapinguarys: Ala do Momento

  • Destaque Tupã: José de Oliveira Lobo

  • Baianas Estilizadas: Ala das Irritantes

  • Destaque 1° Mestre-Sala: Ademir

  • Destaque 1ª Porta-Bandeira: Maria Luiza

  • Caboclos: Ala dos Jovens

  • Lobisomens: Ala dos Lobisomens

  • Baianas Estilizadas: Ala das Nenéns

  • Floresta: Ala das Melindrosas

  • Vento: Ala dos Estudantes

  • Destaque Guaracy (O Sol): Geroncio Dias de Castro

  • Baiana, Estilizadas: Ala das Bronzeadas

  • Flâmulos da Noite: Ala dos Intocáveis

  • Destaque Noite: Josenilda Cordeiro Ribeiro

  • Baianas Estilizadas: Ala das Bacanas

  • Passistas: Ala Sente o Drama

  • 2ª Alegoria: Lendas Amazônicas

3ª Parte: Cobra Norato

  • Estandarte: Cobra Norato

  • Baianas Estilizadas: Ala de Tereré

  • Índias Virgens: Ala de Tereré

  • Grupo de Pagelança: Ala dos Inflamados

  • Destaque Cobra-Grande: Leda Enio da Silva

  • Urubu-tingas: Ala dos Urubus-tingas

  • Jabotis: Ala dos Gaviões

  • Cururus: Ala Quem Quizer Pode Vir

  • Índia: Judith

  • Índios do Amazonas: Ala Dizendo no Pé

  • Pai-do-Mato: Figurante

  • Baianas Estilizadas: Ala das Enxutas

  • Destaque 2° Mestre-Sala: Sérgio

  • Destaque 2ª Porta-Bandeira: Rosângela

  • Alegorias Conduzidas: conjunto com tucanos (5), conjunto com araras (5), conjunto com folhas e galhos (5)

  • Estandarte: “Vou visitar a Rainha Luzia”

  • Damas no Caxixi Grande: Ala das Decididas

  • Destaque Rainha Luzia: Jurema Motta de Aguiar

  • Bichos-do-Fundo: Ala dos Fidalgos

  • Guaribas: Ala da Pesada

  • Milhos: Ala do Milho

  • 3ª Alegoria: “E Norato desencantou-se”

  • Estandarte: “E Norato desencantou-se”

  • Baianas Estilizadas: Ala Tania Mana

  • Destaque Filha da Rainha Luzia: Maria de Fátima Motta de Aguiar

  • Ala das Baianas Tradicionais da Lins Imperial

  • Diretoria

  • Ala dos Compositores

  • Estandarte: “Fico le esperando atrás das terras do Sem-Fim”

 

SAMBA ENREDO                                                1974
Enredo     Cobra Norato
Compositores     Guiné e Zé Maria

Sonhei que estava na Amazônia
Antártica misteriosa
Ouvi várias lendas da floresta
A cobra grande perigosa
Por ela, uma índia concebeu
Honorato e Maria o destino lhe deu
Foram lançados ao rio
A conselho do pajé
Cobra Norato foi-se
Ao acreditar na fé

Caminhada na floresta
Erva picão me arranhou
Vi os pássaros em festa
Sapo beiçudo me olhou
No riacho, a Mãe d’água
Parecia me dizer
Que na outra margem do rio
Estava o Saci Pererê

Pererê oi
Pererê
Pulava num pé só
Para todo mundo ver

A noite vinha chegando
Só Nonente via
Mas o meu desejo
Mas o meu desejo
Só eu quem sabia

Eu só queria, nenê
Eu só queria
Visitar a Rainha Luzia
E me casar com sua filha