FICHA TÉCNICA 1995

 

Carnavalesco     José Felix
Diretor de Carnaval     Alexandre de Jesus (Tijolo) e Paulo Miranda
Diretor de Harmonia     Djalma Vieira Silva
Diretor de Evolução     Djalma Vieira Silva
Diretor de Bateria     Arnaldo Manoel de Jesus (Mestre Mug)
Puxador de Samba Enredo     Rixa, Carlinhos de Pilares, Dedé da Portela e Celino Dias
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Jerônimo Patrocínio da Silva (Jerônimo) e Andreia Silva Machado (Andreia)
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Marcelo Alves da Mota e Andrea Alves da Mota
Resp. Comissão de Frente     Direção de Carnaval
Resp. Ala das Baianas     Ivete Pereira
Resp. Ala das Crianças     Não possui

 

SINOPSE 1995

Gosto que me enrosco

‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares
Como roçam na vaga as andorinhas...

(Versos de: “O Navio Negreiro” de Castro Alves)

            Sambavam, nas poucas horas de folga. Esperavam dias melhores. A maioria deles, não sabia exatamente qual era o significado de sambar. Seria uma volta a tempos idos, ancestrais, época de escravidão. Mexiam livremente com o corpo. Havia um lamento em cada compasso.
            E, o carnaval chegou. Teria durado uma semana o carnaval carioca. A partir do Domingo da Páscoa, 31 de março de 1641. Com o Governador Salvador Correa de Sá e Benevides. Desfilava, pelas ruas acompanhado por 166 cavaleiros dando “vivas” a subida do trono de Don João IV, o restaurador da Monarquia Portuguesa.
            Os estudantes do Colégio dos Jesuítas, foram os maiores foliões durante os séculos XVII e XVIII. Certa vez, teriam organizado um desfile com o enredo “ONZE MIL VIRGENS”. Só mais tarde, o carnaval brasileiro passou a ter cunho popular e a ser realizado periodicamente, com elementos do folclore, tanto de origem negra como portuguesa.
            Nos tempos coloniais, havia o entrudo, uma das tradições que herdamos dos portugueses. Os foliões convidavam ao entrudo, que consistia em jatos d’água esguichados com bisnagas, ou mesmo atirados em baldes. Os limões-de-cheiro, fabricados com cera e com recheio de água perfumada, eram mais galantes.
            A imprensa, desenvolvia unia campanha contra. A favor de um carnaval ao estilo das festas européias, principalmente das venezianas.
            A sua decadência, atrai a imaginação popular para a confecção das máscaras, feitas de cera muito fina ou de papelão. Simulavam caras de cão, de gato ou de porco. Cabeças articuladas com bigodes e barbas, olhos que piscavam e queixos móveis. O primeiro baile de máscaras em teatros cariocas, foi feliz idéia de unia atriz estrangeira. Abram alas para as colombinas. O aparecimento desses bailes foi de grande importância para a participação da mulher no carnaval. Festa que antes, na opinião de quase todos os pais, moça de família não deveria participar.
            Do entrudo, passou o folião carioca às batalhas de flores copiadas do carnaval de Nice. As batalhas de confete, do Carnaval de Nápoles.
            Não se sabia ainda, o que eram: cuícas, tamborins e demais instrumentos de percussão, que integram as baterias das Escolas de Samba de hoje. O bumbo, ou zabumba, surge no carnaval introduzido por um português, conhecido por Zé Pereira, tradição durante meio século.
            Dele, evoluíram os cordões e blocos que passaram a usar, além do bumbo, cuícas, tamborins, pandeiros e frigideiras.
            Surgem as primeiras sociedades carnavalescas em 1850. O Congresso das Sumidades Carnavalescas foi pioneira. Vieram os Tenentes do Diabo, dos Fenianos e Democráticos. Foram associações importantes também para a Abolição da Escravatura. Coletavam dinheiro em suas passeatas para comprar e alforriar escravos.
            Dançavam a quadrilha, o xote, a valsa, a polca. A partir de 1870, o maxixe, a dança excomungada. Primeira dança nacional (uma mistura de polca com lundu africano).
            Ao final do século passado, os trabalhadores do cais do porto (negros, mestiços, mulatos), deram início ao samba. Os maxixes aproximaram-se do samba urbano de hoje. Concentravam-se nas imediações da Pedra do Sal, no bairro da Saúde, nesta “Sebastinópolis”, verdadeiro reduto de usos e costumes trazidos da Bahia.
            Nascem os primeiros ranchos que deram outra feição ao carnaval carioca. Desfilavam com enredos cheios de esplendor, arte e riqueza.
            Os baianos residentes no Rio, ao trazer seus rituais religiosos e festivos, danças e representações folclóricas, encontraram no carnaval um novo centro de interesse. O carnaval torna-se, nas zonas urbanas, especialmente em Salvador, Rio e Recife, um catalisador do folclore. Chama a si e incorpora os cucumbis baianos, o maracatu de Pernambuco, os congos e congadas, as taieiras e o quilombo.
            Iniciou-se por esse tempo, o carnaval de rua hoje conhecido. Os cariocas que iam participar dos festejos públicos, desembarcavam dos bondes estacionados em lugares determinados, antecipadamente anunciados pela imprensa.
            O carnaval de 1897, foi um fracasso nas ruas do Centro. Sem graça, para as ruas do Ouvidor e vizinhanças. É que Madureira resolvera fazer sua própria festa com palanques, coretos e bandas de musica, em sua praça principal. Outros subúrbios seguiram o exemplo. Nascia o carnaval de rua dos bairros.
            Do início deste século em diante, o carnaval modifica-se constantemente. A Praça Onze transbordava. Dos lados do Cais do Porto e do Mangue, ouvia-se um baticum forte de tambores. O bonde lotado, despejava piratas, odaliscas, malandros de chapéu-palhinha cetins e lamês brilhantes. Bigodes e cavanhaques postiços. Cheiro de suor e do lança-perfume Rodo Metálico. A classe média desfilava de pierrô colombina e arlequim. Os automóveis abertos, ou corsos, eram a novidade. A marchinha “Ó Abre-Alas”, de Chiquinha Gonzaga, era invencível desde 1899. Mas cedia a vez ao tango-chula “Vem Cá, Mulata”. A iluminação a gás era substituída pela elétrica.
            “Pelo Telefone”, primeiro samba, abriu caminho para o novo ritmo que chegava. Nos anos 20, a difusão do rádio ameaçava esvaziar os Teatros de Revista. A Festa da Penha, depois do carnaval, seria o maior acontecimento popular do Rio. Acontecia o início do carnaval, pelo menos ao que se referia à música. Compositores lançavam suas obras, já de olho no carnaval seguinte. Multidões acorriam ao subúrbio. Daí a razão dos lançamentos ali. Composição consagrada na Penha, seria êxito indiscutível em fevereiro.
            Os velhotes de bengala e polaina paqueravam as damas na Confeitaria Colombo.
            O samba adquiria seu ritmo próprio e envolvente. Surgia no Estácio a “Deixa Falar”, com idéia diferente dos ranchos, na coreografia e na organização.
            O aparecimento das Escolas de Samba, decretou a decadência dos ranchos. Copiam-se suas características e modelos.
            Enquanto dançava-se o charleston, cantava-se:

Taí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
O meu bem
Faz assim comigo não
Você tem
Você tem
Que me dar seu coração.

            Desde a melindrosa e o almofadinha, até o negrinho batuque, cantarolando um samba no gabinete do Ministro, o grande sucesso era “Gosto que me enrosco”. A cuíca, o surdo, o tamborim, o pandeiro, o ganzá e o reco-reco, foram tocados pela primeira vez nos estúdios, para a gravação de “Na Pavuna”. Os gatos vadios, para a vitória dos tamborins, foram sacrificados para a renovação dos ritmos de carnavalescos.
            Na década de 30, publicidade era “reclame”. Tomava-se banho com “Carnaval um amor de sabonete”. Ia-se, “Ao samba que você me convidou com roupas da Casa Mathias”. Entrava no ar “O Programa Casé”. O cinema falado, estava em todas as telas. As rádios tocavam a música popular brasileira, que vivia a sua época de ouro, com seus intérpretes e autores. Nos salões, “O teu cabelo não nega”. Na Praça Onze, o primeiro desfile das Escolas de Samba. Começava uma tradição no carnaval carioca: a do grande “Baile de Gala do Teatro Municipal”. A “Deixa Falar” desaparece. Por coincidência, nesse primeiro carnaval sem a escola pioneira, o povo cantava:

“Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela”

            Sucessos como: “Agora é cinza”, “O orvalho vem caindo” e “Linda a lourinha”.
            Acontecia a primeira de tantas vitórias da Portela. Surgia a marcha “Cidade Maravilhosa”. Passou à história como hino oficial da Cidade do Rio de Janeiro.
            O grande sucesso alcançado pelas músicas de carnaval na “fase de ouro”, era em conseqüência à fidelidade aos problemas do dia-a-dia do povo. Crítica aos políticos, até a descrição das dificuldades da vida. A censura atinge o auge. Transformam-se letras como: “O bonde São Januário leva mais um otário / sou eu que vou trabalhar”, em “Leva mais um operário”.
            Nos primeiros anos do pós-guerra, o rádio sofre uma invasão de autores improvisados e intérpretes de segundo time, atraídos pelo lucro do carnaval. Inicia-se a frase da caitituagem.
            A música de carnaval, hoje, deixa de unificar a cidade. Não existem mais as letras que permitam um diálogo entre os foliões. Os sambas e marchinhas deixam de significar alguma coisa...
            Tem razão, nesse sentido a “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”:

“Acabou nosso carnaval
ninguém ouve cantar canções
...E no entanto é preciso cantar”

“Vão acabar com a Praça Onze
Não vai haver mais Escola de Samba, não vai...”

            Sacrificaram o reduto pioneiro do samba, para a abertura da grande avenida. Choraram os tamborins, chorou o morro inteiro, mas o samba continuou.

A Escola de Samba não morreu, nem morrerá” (Sérgio Cabral)

            Já vai longe o tempo em que um grupo se reunia na casa da Tia Ciata. Aí nasceu o primeiro samba gravado.
            Resta o consolo de que, o carnaval vale pela descontração e consiste em criar um ânimo novo. Com pessoas acreditando mais nas coisas e nos homens. As Escolas de Samba, ainda estão aí: luxuosas, coloridas, desfilando os amores pomposos, os mundos encantados e misteriosos, como o povo gosta.
            A sua antiga pureza desapareceu, industrializadas ou não, o fato é que elas continuam sendo o grande, talvez o único, espetáculo desse nosso antigo carnaval de rua.
            É preciso cantar e alegrar a cidade. As Escolas de Samba não se deixaram abater pelos modismos de cada época. Adaptaram-se. Levantaram, sacudiram a poeira e deram a volta por cima.

“...Por tudo isso, e muito mais, as Escolas de Samba são uma fatalidade histórica neste universo de influências, transmutações, conceituações estéticas e evocações que constituem a contribuição do negro africano à miscigenação da cultura brasileira...
...a magia do domingo, fazem das escolas legítimas herdeiras da sensação que invadia o negro quando exclamava ao se preparar para os festejos dos congos: É HOJE!”

(trecho do livro “É hoje “, de Haroldo Costa)

EVOÉ CARNAVAL

José Felix

Bibliografia:

ALENCAR , Edigar de. O carnaval carioca através da música. Livraria Francisco Alves Ltda, 1979
ARAÚJO, Mozart de. O Zé Pereira. Jornal do Comércio, 1965.
GUIMARÃES, Francisco. Na Roda do Samba. Funarte, 1978.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Editora ltatiaia, 1984.
ALENCAR, Edigar de. Nosso Sinhô do Samba. Funarte, 1981.
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Funarte, 1983.
EFEGE, Jota. Ameno Resedá - o Rancho que foi Escola. Letras e Artes. 1965.
LELRIS, Michel, DELANGE, Jacqueline. África Negra, La Creación Plástica. Aguilar, 1967.
CABRAL, Sérgio. Escolas de Samba. Fontana, 1974.
EDMUNDO, Luís. O Rio de Janeiro de meu tempo. Xenon Editora, 1987.
ENEIDA. História do carnaval Carioca. Editora Civilização Brasileira, 1958
RIO, João do. A Alma encantadora das ruas. Secretaria Municipal de Cultura - Prefeitura Cidade Rio de Janeiro, 1991.
EFEGÊ, Jota. Maxixe, a dança excomungada. Conquista, 1974.
LIRA, Matiza. Chiquinha Gonzaga. Funarte, 1978.
THEREZA, Maria, SOARES, Mello. São Ismael do Estácio - o sambista que foi rei. Funarte, 1985.
EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas do carnaval carioca. Funarte, 1982.
BARBOSA, Orestes. Samba. Funarte, 1978.
JR., R. Magalhães. Dois séculos de folia. Revista Manchete, 1972.
COSTA, Haroldo. E Hoje - As Escolas de Lan. Irmãos Vitale S.A., 1978.

 

SAMBA ENREDO                                                1995
Enredo     Gosto que me enrosco
Compositores     Noca da Portela, Colombo e Gelson
É carnaval
O Rio abre as portas pra folia
É tempo de sambar
Mostrar ao mundo a nossa alegria
Veio bailando pelo mar
E de lá pra cá nasceu essa magia
Samba, que me faz feliz
Em sua raiz tem arte e poesia
Bate o bumbo, lá vem Zé Pereira
E faz Madureira de novo sonhar
A Portela não é brincadeira
Sacode a poeira, faz o povo delirar

Gosto que me enrosco de você, amor
Me joga seu perfume, hoje eu tô que tô

Praça Onze, berço das nossas fantasias
Deixa Falar deixou no peito a nostalgia
Dos ranchos, blocos e cordões
Dos mascarados nos salões
Pierrot beijando a Colombina
Chuva de confete e serpentina
Dos bondes ficou a saudade
Ah! Que saudade do luxo das Sociedades

Abram alas, deixa a Portela passar
É voz que não se cala
É canto de alegria no ar