Ontem,
Hoje e Sempre Cinelândia - O Samba Entra em Cena na Broadway Brasileira
Justificativa:
Há
um quê de sonho e magia, mistério e sedução mas principalmente de resistência
nas quatro sílabas que formam o nome deste luminoso, febril, múltiplo
vivo bairro do Rio de janeiro. Vivo sim, pois ele atravessou a inevitável
degradação pelo tempo e resistiu a governos alienados 'a preservação
da história e da memória desta cidade.
Múltiplo
por uma rica fauna - boêmios, intelectuais, políticos, artísticas, cinéfilos,
camelôs, mulheres, travestis, malandros, pregadores, malabaristas, saltimbancos,
sambistas, poetas de rua e tantos mais que a vista se perde e a mente
confunde no passa-passa dos Joões-Ninguém.
Acima de tudo a Cinelândia é emoção, é feérica, talvez não tão luminosa
e cinéfila como fora antes mas suas luzes ainda brilham nos olhares
'as vezes indiscretos ou fugazes dos que nela param ou apenas
passam como o sangue quente e agitado do coração do Rio.
Ela é carioca, misturada de maneiras e gírias como se todos os tipos
passantes se fundissem em um só, ela é intrigante, é inspiradora pois,
o sonho nela mora desde quando Francisco Serrador imaginou criá-la -
colorida e iluminada de alegria e festa.
Relembrar os velhos tempos? Não exatamente. O que esta breve história
procura sugerir é que a Cinelândia sobrevive à propalada decadência
da cidade, aos castigos do tempo e enfrenta modas e modismos, investindo
no futuro, abrindo caminhos para novos sonhos – de vê-la reconstruída,
ressuscitada, nova e moderna onde as marcas de seu passado sejam uma
lembrança viva uma cidade feliz.
A Portela, através deste enredo, apresenta em curta metragem, um pouco
da Cinelândia e , pela brevidade que nos permitem, não conta todas as
histórias nem joga luzes em todos os personagens, focaliza não os principais
mas talvez os favoritos – as cenas que se revelam nos cinema, nos bares,
cafés, dancings, teatros, nos acontecimentos políticos, na cultura e
arte guardadas em seus majestosos prédios e na saudosa alegria dos memoráveis
carnavais.
Vamos sonhar sambando e devolver a Cinelândia um grande espetáculo.
Hoje somos todos, somos um, somos anônimos na multidão como aqueles
da praça que continuam a contar esta história para que ela não seja
breve como a nossa e que breve não faça tão somente dela uma Cinelândia
nova, mas uma Cinelândia eterna.
A praça é do povo como hoje o céu é da Águia da Portela!
P.S.:
Este texto foi baseado no belíssimo livro “Cinelândia – Breve História
de um Sonho” de João Máximo

Sinopse:
Hoje a Águia reluz as estrelas ao se iluminar a grande tela e roda o
filme da memória onde o samba versa em sonho a Portela que em cenas
conta uma história.
História
que também nasce de um sonho, da imaginação fértil de um menino e sua
cidade de brinquedo – idéia iluminada de Francisco Serrador que com
mãos de maestro regeu a construção de um “reino encantado”, colorido
de luzes de néon, um lugar mágico, uma cidade dentro da cidade, como
poesia a se casar com uma linda melodia naquela que um dia se fez “Cidade
Maravilhosa”.
Era
o tempo de um Rio feliz que sonhava “no escurinho do cinema” entre pipocas,
balas e amendoins, com as fitas que traziam o mundo ao alcance da vista,
saltando aos olhos, em cartazes e vitrines, dos “palácios” cinematográficos
e nas elegantes novidades dos grandes magazines. Tempo de passar o tempo,
nos passeios das tardes das descobertas de estilos e sabores, dos “almofadinhas”
engravatados, nas chiques noites de estréia, da educação que escondia
a malandragem que rolava depois da sessão, onde a boa vida se estendia
noite adentro até o dia, “Night and Day”.
Cinelândia
iluminada, “chão de estrelas”, “ Brodway Brasileira” a divertir platéias
nas Comédias e Revistas, do bom convívio nos cafés e nos bares, do flerte
entre troca de olhares e no convite a dançar com seu bem, mas dancings
a meia-luz, a meia-voz, à meia noite, num beijo roubado de alguém.
Na
“praça do povo”, tudo passa, o tempo e os fatos, a moda passa, passa
a banda, um bando passa; desfilam tropas, bandeiras, heróis vivos, “in
memoriam”, o protesto, o manifesto, a massa em marcha, passa “Cem Mil”,
passeata, passa o Brasil mal ou bem.
E,
também, passa na praça a fantasia ao abraçar a folia que embala o meu
coração, na inocência alegre do Corso nas ruas, nos Ranchos e Sociedades,
abrindo alas e dando passagem para os Blocos e Cordões. Era o Carnaval
que ali fazia, com a mais pura alegria o seu “Quartel-General” e o balanço
do bonde trazia ao Bola Preta, que sempre cabia mais um folião; templo
do samba verdadeiro e da alegria geral, tempo de “sambar na pista” e
a Escola cantar por inteiro, enredos de heróis e feitos, fazendo bater
no peito, o coração do sambista.
Cinelândia,
“Luzes da Ribalta”, das grandes galas do Municipal, palco iluminado
do Canto, da Dança e Sinfonia, de Dramas e tramas da vida a emocionar
platéias entre “bravos e vivas”, na boca de cena, és sucesso, de maestros,
atores e divas.. Cenário da cultura no saber contido da Biblioteca Nacional,és
Poesia e Literatura, livro aberto do dia a dia, és Arte, obra-prima
emoldurada de beleza, tela viva da Capital Cultural.
És,
enfim, um oásis, linda paisagem ou mera passagem de quem vai e vem nesta
lida. E tudo passa nesta praça e hoje, até mesmo a Portela, a tentar
brevemente resumir tua vida; descobre que o tempo parece que para ou
apenas passa despercebido por ti, Cinelândia, em meio a esta “Babel”
de tipos e esta gama de cores, és um arco-íris de esperança entre alegrias
e dissabores, nesta cidade que ainda sonha ao lembrar do bonde que jaz
nos trilhos do progresso que urge, mas sempre te trazendo alguém.
És
estação, uma lembrança que fica, luz que brilha nos olhos daqueles que
como nós da Portela, hoje na praça Floriano, a “praça do povo”, entre
pombos brancos, mestiços, sonhamos ao ver o “Amarelinho”, baluarte,
fervilhando e um ou outro cinema ou teatro anunciando: Breve! Te sentimos
e te amamos – Cinelândia Eterna.

Desenvolvimento:
1ª
cena: Cinelândia – Terra do Cinema
Neste setor abordaremos aquela que foi a maior atração da Cinelândia,
imperando da década de 20 a 70 nas suas luxuosas salas de projeção.
As grandes estrelas, companhias cinematográficas e todo o clima que
envolvia o “ escurinho do cinema”.
2ª
cena: Cinelândia – Night and Day
Neste quadro revelamos outro aspecto da Cinelândia como grande centro
de entretenimento as confeitarias, ponto de encontro das tardes, da
“Brasileira”, do requinte do chá das três, os lanches e novidades como
Hot-Dog e Milk Shake da “Americana” que reunia a juventude da época
antes ou depois das matinês. Também mostramos a boemia que rolava noite
adentro nos bares, cafés, dancings e teatros que divertiam o povo em
comédias, revistas e nos shows que revelavam grandes nomes da nossa
música.
3ª
cena: Cinelândia – Tribuna Livre
Nesta parte mostramos a Cinelândia como palco de protestos e acontecimentos
políticos da chegada dos gaúchos a cavalo quando da ascensão de Getúlio
ao poder, o desfile dos pracinhas no heróico retorno da guerra, a passeata
dos “Cem Mil” nos “Anos de Chumbo” até os “Caras Pintadas” pelo Impeachment.
4ª
cena: Cinelândia – Quartel General do Carnaval
Neste setor, a nostalgia dos memoráveis carnavais é mostrada através
do Corso, Ranchos e das Grandes Sociedades. Também homenageamos o Cordão
do Bola Preta que até hoje, resiste firmemente como Quartel General
do carnaval, bem como relembramos os belos desfiles de Blocos e Escolas
de Samba na Avenida Rio Branco.
5ª
cena: Cinelândia – Luzes da Ribalta
Nesta parte falamos do importante e majestoso Teatro Municipal
- palco dos grandes espetáculos que encantaram e encantam até hoje o
público com Óperas, Balés, Concertos e Peças Teatrais, trazendo ‘a Cidade
maravilhosa grandes nomes das artes cênicas.
6ª
cena: Cinelândia – Acervo de Cultura e Arte
Neste quadro retrataremos a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes
que juntamente com o Teatro Municipal formam um grande monumento à cultura
e à arte do Brasil e do mundo.
7ª
cena: Cinelândia – Eterna Babel
Por fim mostra,os a Cinelândia de hoje que, assim como fora antes, é
uma mistura de tipos, sabores, sons e cores ou melhor, um grande arco-íris,
retrato do espírito carioca e da boemia que não morre, a resistir entre
um chopp e outro, nas mesas do eterno Amarelinho.
Alexandre Louzada
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