FICHA TÉCNICA 1990

 

Carnavalesco     Rosa Magalhães
Diretor de Carnaval     Waldemir Paes Garcia (Maninho)
Diretor de Harmonia     Renato Fernandez de Assis (Renatão)
Diretor de Evolução     Renato Fernandez de Assis (Renatão)
Diretor de Bateria     Lourival de Souza Serra (Mestre Louro)
Puxador de Samba Enredo     Rico Medeiros
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Élcio PV e Dóris
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Vanderli Silvares Rodrigues e Tânia A. Accioly (Taninha)
Resp. Comissão de Frente     Suzana Braga
Resp. Ala das Baianas     Ivone Bonifácio Lima e Lecy Souza de Oliveira (Tia Ciça)
Resp. Ala das Crianças     Regina Bordallo

 

SINOPSE 1990

Sou Amigo do Rei

Sinopse:

          Carlos Magno, Rei da França, no inicio do período medieval, tornou-se uma lenda, sendo seus feitos de bravura, cantados em festas, que se tornaram muito famosas.
          O ideal medieval era a honra, a bravura, a justiça. Isto é, a admiração e dedicação a idéias de grande dignidade.
          A história de Carlos Magno e dos cavaleiros que o acompanhavam em suas aventuras, chamados de “pares” (os Dozes Pares de França). Foi sendo desenvolvida pela imaginação de seus autores e tornou-se tema de inúmeros versos, canções e livros.
          Ele e seus pares, ou nobres que o acompanhavam, são personagens cantados pelo menestréis e cancioneiros.
          E nesta evolução, chegou-se a um livro muito popular no Brasil. Não havia casa do interior, em que as pessoas não o tivessem lido. Difundido desde o século XVIII, “a História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França e a Cruel Batalha, que teve Oliveros com Ferrabras. Rei de Alexandria e filho, do grande Almirante Balão”, marcava as aventuras do rei Carlos Magno, em luta contra os mouros, cujo chefe era Balão, pai de Floripes e Ferrabras.
          Havia a luta do bem contra o mal, supostamente os mouros, pois os anjos protegiam os cristão e os diabos, ajudavam os muçulmanos.
          Ora, no Brasil, este livro tão conhecido, deu origem a festas folclóricas e folguedos, contando histórias heróicas, de batalha e amores tão nobres.
          Os Congos, Congadas ou Congados, folguedo popular que, feito durante o ano todo, em várias regiões do Brasil, e que tem início com a coroação do Rei Congo, sendo um auto popular conta, através da representação, a luta de Carlos Magno aos Doze Pares de França, contra o gigante Ferrabras e os personagens são extraídos do livro sobre Carlos Mango.
          As Caleiras ou TaIeiras, espécie de Congada, também, em algumas regiões, utilizam-se da representação da mesma história.
          Outra manifestação popular, baseado neste tema, são as cavalhadas, sendo a de Pirenópolis, uma das mais famosas, em que, em torneio equestre, representa-se a luta de cristão contra os mouros, sendo os cavaleiros em números de doze, e levando os cristãos, o emblema da cruz, enquanto que os muçulmanos, são representados pela lua crescente.
          Esses folguedos são representados em praças publicas ou em pátios, de fronte das igrejas, tal qual na Idade Média.
          A influencia da história do Rei Carlos Magno não se estendeu apenas as manifestações folclóricas, a literatura de Cordel. Esta influencia vai mais além. “A Pedra do Reino”, romance armorial-popular brasileiro, de Ariano Suassuna, trata de uma visão sertaneja do fenômeno medieval .
          Dom Pedro Dinis Quaderna ( personagem da história), é o herdeiro da coroa real, a verdadeira, no sertão nordestino. Notamos uma grande mistura de símbolo no seu romance epopéico, em que ele mesmo diz em certos trechos:

          “Meu sonho sempre foi o der ser um daqueles grande senhores. Cangaceiros e Príncipes que apareciam no folhetos”.

          Destes folhetos havia dois que sempre me impressionaram muito, eram a “História de Carlos Magno e os Doze Pares de França” e “O Rei orgulhoso na hora da refeição”.
          Os vintes e quatro cavaleiros que iam tomar parte na cavalhada estavam lá. Entreguei a todos as roupas, os mantos, as selas, as lanças e demais apetrechos de boniteza.
          Os zodíacos, as cartas de baralho, bandeiras, brasões, santos com cruzes e crescentes eram insígnias de minha monarquia.
          A saga dos homens parecia-me agora, como uma cavalgada, bem organizada, realizada por Reis, Valetes, Rainhas, Peões e Bispos, montados a cavalos na cavalgada bela, e bandeiras.
          Essa cavalhada do mundo, do qual Deus era o chefe, rei e cruzado. Por isso, o mundo era como um sertão glorioso. Esse sertão não era somente o sertão que todo mundo via, mas o reino que eu sonhava, cheio de cavalos e cavaleiros, de frutas vermelhas de mandacaru, reluzentes como estrelas, estrelas de metal ostentadas nos estandartes cavalhadas ou nos chapéus dos Vaqueiros e Cangaceiros, Fidalgos de minha casa real.
          O sertão selvagem, duro e pedregoso vira o Reino da Pedra do Reino e enche-se de Condes e Princesas encantadas. Eles vestidos como os Pares de França da Cavalhada e elas, Rainha de auto-guerreiros.
          O tabuleiro sertanejo vira um enorme Tabuleiro de Xadrez ou Mesa de Baralho, dourado pelo Sol.
          Havia cavalhada exatamente aqui, no Reino do Sertão e no Reino da Normandia.
          Os heróis, Carlos Magno e os Doze Pares de França, vivem, amam e combatem no Brasil.

Rosa Magalhães

Bibliografia Consultada:

  1. O Divino, O Santo e A Senhora de Carlos Rodrigues Brandão. Campanha de defesa do Folclore Brasileiro - Funarte – 1978.

  2. Revista Geográfica Universal – Volume 164 – julho de 1988 – páginas 46/47/48/49/50/51/52.

  3. A Festa do Santo de Preto de Carlos Rodrigues Brandão – Fundação Nacional de Arte – Universidade Federal de Goiás - 1975.

  4. O Folclore do Litoral Norte de São Paulo – Tomo I – Congada de Rossini Tavares de Lima et Alli – Campanha de Defesa do Folclore – 1969.

  5. Folclore Brasileiro – Paraná – de Roselys Vellozo Roderjan – Funarte – 1981.

  6. Folclore Brasileiro – São Paulo – de Hélio Damante – Funarte – 1980.

  7. Revista Geográfica Universal - nº 10 - março 1976 – artigo – Festa de Cangos na Lapa – páginas 66 a 77.

  8. Caderno de Folclore – nº 19 – Congada Paranaenses – de José Loureiro Fernandes – 1977.

  9. Revista Quatro Rodas – artigo Três Dias na Idade Média em Goiás – sem data.

  10. Revista Geográfica Universal - maio 1979 – As Congadas de Sambari – textos: Antônio Callado de Paiva.

  11. Atlas Folclórico do Brasil – O Espírito Santo – Funarte 1982.

  12. Cadernos de Folclore nº 18 – Congos da Paraíba – de Roberto Benjamim – 1977.

  13. Revista Cultura – MEC nº 23 – out/dez/ 1976 – páginas 78 à 93.

  14. Nome e Número dos Pares de França – Theo Brandão - páginas 341 a 355 – Antologia do Folclore Brasileiro – Pellegrini Filho.

  15. Literatura de Cordel - A História de Carlos Magno e os Doze Pares de França - João Gomes Freire - Biblioteca Amadeu Amaral.

  16. Cinco Livros do Povo - Câmara Cascudo - páginas 441 a 447.

  17. Brasil no Folclore - Edson Ribeiro - páginas 289 a 305 - Biblioteca Amadeu Amaral.

  18. As Congadas no Brasil – páginas 11 à 20/63 a 64 /72 à 80/133 à 155 Biblioteca Amadeu Amaral.

  19. Os Pares de França – Edison Carneiro – páginas 73 à 83 – Biblioteca Amadeu Amaral.

  20. Caderno de Folclore – nº 4 – Jaieira – Beatriz G. Dantas – 1976.

  21. Romance d’ A Pedra do Reino – Ariano Suassuna – Editora Jose Olympio – 1976.

 

SAMBA ENREDO                                                1990
Enredo     Sou amigo do rei
Compositores     Alaor Macedo, Arizão, Demá Chagas, Pedrinho da Flor e Fernando Baster
Vim... (meu amor)
De uma era medieval
Para brincar o carnaval
A folia tomou conta da cidade
A ordem do rei é cantar
Sou menestrel do divino
A poesia já vem me contagiar
Os doze pares de França
Se trançam em busca do mesmo ideal
Cristãos e mouros se lançam
Na luta de bem e o mal

Lagedo sagrado
O rei congo aqui chegou
Pra ser coroado
Neste "Reino de Xangô"

Tumba lá e cá, é Moçambique
Tumba lá e cá, rainha ginga

Hoje os sertões
Se manifestam
Cariri, pageú, siridó
É de couro e prata a coroa
Fidalgos de minha casa real (o luar é divinal)
Tabuleiro de xadrez
Mesa de baralho
Zumbi, louvado seja o ritual
Pastorinhas brilham neste festival
E as bandeiras colorindo o visual

O Salgueiro é pra quem tem fé
No gingado das baianas
Vem, meu povo, diz no pé