FICHA TÉCNICA 2002

 

Carnavalesco     Edgley Cunha
Diretor de Carnaval     Orlando Oliveira
Diretor de Harmonia     José da Silveira (Zeca)
Diretor de Evolução     José da Silveira (Zeca)
Diretor de Bateria     Mestre Flávio
Puxador de Samba Enredo     Rixxa
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Bagdá e Patrícia
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     Charles Nelson
Resp. Ala das Baianas     Júlia Costa de Oliveira
Resp. Ala das Crianças     Cláudia

 

SINOPSE 2002
 De Minas Para o Brasil – Tancredo Neves – O Mártir da Nova República

               Seu nome significa MINAS GERAIS, isto é, de toda espécie, e, conseqüentemente, mina de ouro, prata, cobre e ferro, encontradas dentro de seus limites, além de muitas pedras preciosas.
MINAS de Igrejas magníficas que pasmam os fiéis com o brilho de seus adornos, em suas fachadas e interiores luxuosos, realizados por mestres do barroco mineiro.
               MINAS de Ouro Preto, São João del Rey, Congonhas e Sabará, verdadeiros monumentos artísticos.
               MINAS GERAIS, onde começa a liberdade, tão sonhada por nossos Inconfidentes e, sobretudo o alferes Xavier, o Tiradentes que ao juntar seus esforços, defenderam a bandeira, e adotaram como lema um verso do poeta latino Virgilio que se inicia dizendo: ”Libertas, quae sera tamen...” Liberdade ainda que tardia.
               MINAS de grandes políticos como Juscelino Kubitschek, conhecido por suas realizações econômicas, e o nosso grande e eterno, Tancredo neves, que será nosso triunfal enredo para o carnaval de 2002.
               Tancredo de Almeida Neves integrava a especialíssima linhagem de políticos cujas ações não só ajudam a torna viável às transformações do Brasil nas últimas décadas como, suas freqüentes demonstrações de maleabilidade e guinadas oportunas (eventualmente oportunistas), permitiram desvendar o caráter sinuoso dos meandros da política. Disposto a retroceder sobre os próprios passos, aliar-se com os inimigos, perdoá-los e esquecer suas ofensas, Tancredo foi político mineiro, calado sempre que possível, reticente quando necessário, corajoso em momentos chaves, torno-se um especialista em caminhar no fio da navalha.Tais habilidades de malabarismo político não o impediram de ser eventualmente forçado a descer do muro – ora à esquerda, ora á direita. Depois de ir ás ruas pedindo eleições diretas-já, rendeu-se ás evidências de que o período mais nebuloso da vida pública brasileira estava atrelado ao ”entulho autoritário“ e candidatou-se à presidência da República em pleito indireto.
               Em 1985, aos 75 anos, seria eleito presidente, mas morreria antes da posse. Tragédia de tal proporção, levou Tancredo ao patamar reservado aos mártires nacionais e impediu que sua vida e obra fossem analisadas sob o ângulo frio dos fatos concretos. Mais do que se tornar o presidente que não foi, Tancredo Neves passou a historia como o presidente que poderia ter sido no sentido da expressão.
Descendente de açorianos, Tancredo Neves nasceu em 4 de março de 1910 em São João del Rey (MG) quinto dos 12 filhos de Francisco Neves e Antonina de Almeida. O pai, vereador, morreu aos 48 anos, mas inoculou no filho o gosto pela política. Em 1932, Tancredo, tornou-se advogado. Três anos depois, elegeu-se vereador pelo Partido Progressista.
               Com o golpe do Estado Novo, em 1937, Tancredo Neves perdeu o mandato. Em 1945, com a queda da ditadura, novos ventos o levaram ao Partido Social Democrata (PSD). Elegeu-se deputado em 1946 e apoiou a candidatura de Dutra à presidência. Em 1953, tornou-se ministro da Justiça de Vargas (que o cassara 15 anos antes). Foi ignorado pela “República do Galeão”, que investigou por si o atentado a Lacerda, e assistiu da ante-sala do poder ao dramático desfecho da madrugada de 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas “deixou a vida para entrar na história”. Depois de atacar duramente o novo governo chefiado por Café Filho, Tancredo foi um dos maiores articuladores da campanha de JK de quem se tornou conselheiro.
               Em 1961, quando a turbulência de um golpe de Estado já se desenhava nos céus do país, Tancredo foi encarregado de negociar com João Goulart as condições para que os militares aceitassem a posse do vice-presidente, após renúncia de Jânio Quadros . Graças ao êxito da missão, assumiu como primeiro-ministro do governo parlamentarista. Quando o governo Goulart começou a perder para a esquerda, Tancredo se demitiu. Mas o golpe era página já escrita, quando ele eclodiu, Tancredo se manteve no posto de deputado federal. Da trincheira no MDB, equilibrou com rara eficiência papéis antagônicos com a negociação e a oposição a um regime militar de ferocidade crescente, função que o fez manter-se calado inúmeras vezes e o impediu de ser cassado. Senador em 1978 aliou-se ao seu inimigo histórico Magalhães Pinto para formar o Partido Popular (PP), que se fundiu com o PMDB quando Tancredo se tornou, junto com Ulysses Guimarães, uma das principais figuras da campanha das diretas e o “candidato natural” à presidência da República, ainda que por caminhos indiretos.
               Os brasileiros despertaram cedo naquele 15 de março de 1985, sobressaltados pela saudável expectativa de assistir à posse de um presidente eleito – ainda que indiretamente. Acabaram tendo uma desagradável surpresa ao ligar a TV e assistir à posse de José Sarney, um vice que parecia ter entrado na chapa como mero complemento. Àquela altura, Tancredo Neves embarcava numa viagem sem volta num leito do Hospital de Base, em Brasília.
               Internado às pressas, estava destinado a jamais assumir a condição de ocupante do Palácio do Planalto. As dores se manifestavam havia vários meses, mas apesar da insistência de sua mulher, Risoleta, e de amigos e assessores mais próximos, Tancredo estava decidido a levar até o fim o papel do candidato viável – o que naquele momento significava alguém de perfil liberal o suficiente para canalizar as esperanças da retomada da democracia, e conservador o bastante para não cutucar demais a moribunda ditadura militar.
               Em 15 de Janeiro de 1985, o congresso elegeu Tancredo Neves o 34° presidente do Brasil, conferindo-lhe 480 votos, contra os 180 dados a Paulo Salim Maluf. A herança do regime militar incluía a maior inflação da História, uma dívida de US$100 bilhões e uma lista de incontáveis escândalos financeiros.Tancredo carregava o sonho dos brasileiros de ver o país ingressar num período de liberdades políticas, transparência da administração pública e crescimento econômico sustentável.
               O sonho de Tancredo de conduzir o processo, no entanto, não chegou a se concretizar. Em 13 de março, a dois dias da posse, submetido a exames, foi informado pelo médico da existência de um processo infeccioso no abdômen. Precisava ser operado com urgência. ”Os senhores precisam saber até o dia 17, às 5 horas da tarde, eu não posso me submeter a essa cirurgia”, disse taxativamente. Para o dia e horário citados, estava marcada a primeira reunião ministerial do novo governo. A partir dali, imaginava, sua internação já não provocaria turbulências graves e os militares não iriam intervir no processo de redemocratização.
               Na noite do dia 14, o quadro clínico indicava possibilidade de parada cardíaca, parada respiratória e morte. Mesmo alertado dos riscos, Tancredo Neves só concordou em ir ao hospital para tomar soro. Foi o truque encontrado pelos médicos para interná-lo. Começava a longa agonia de Tancredo e de todos os brasileiros. Enquanto se iniciava a cirurgia, numa sala reservada do Hospital de Base, alguns dos caciques da “Nova República“, entre os quais os novos ministros Marco Maciel, Aureliano Chaves, Leônidas Pires Gonçalves e Affonso Camargo e o senador Fernando Henrique Cardoso decidiram que era preciso preparar com rapidez a posse do vice-presidente eleito José Sarney. Havia temores de que a linha dura não aceitasse a posse de Sarney e aproveitasse o pretexto para criar uma nova crise institucional de conseqüências realmente imprevisíveis.

* “(...). A nação interia comunga deste ato de esperança, reencontramos, depois de ilusões perdidas e pesados sacrifícios, o bom e velho caminho democrático. Não há Pátria onde falta democracia. Esta memorável campanha confirmou a ilimitada fé que tenho em nosso povo. Nunca, em nossa Historia, tivemos tanta gente nas ruas, para reclamar a recuperação dos direitos da cidadania e manifestar seu apoio á um candidato. Em todo o país foi o mesmo entusiasmo. De Rio Branco a Natal, de Belém a Porto Alegre, as multidões se reuniram, em paz, cantando, para dizer que era preciso mudar, que a Nação cansada do arbítrio, não admitia mais as manobras que protelassem o retorno das liberdades democráticas. Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos, há quase duzentos anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, podemos fazer deste País uma grande Nação.
Vamos fazê-la”.

               * (Trecho do discurso perante o Congresso Nacional, logo após sua vitória no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985).
               Vamos juntos cantar e mostrar, aplaudir e enaltecer o homem Tancredo Neves, seu tempo, sua trajetória política, suas iniciativas. Recordaremos em grande homenagem ao Presidente Tancredo Neves, o mártir da “Nova República”.

Edgley Cunha

 

SAMBA ENREDO                                                2002
Enredo     De minas para o Brasil” – Tancredo Neves, o mártir da Nova República
Compositores     Gugu das Candongas e Pardal

Vai brilhar
Uma luz sobre a Ponte
Surge um belo horizonte
O sol da liberdade vai raiar
Anunciando um novo dia
O filho da democracia
Quantas saudades nos traz
O mártir de Minas Gerais!

Oh! Minas Gerais
Oh! Minas Gerais
Tancredo de novo, nos braços do povo
Não te esquecerei jamais

De braços dados vai lutar
E caminhando vai traçando a própria história
O pacato mineiro toma a decisão:
Ser a voz das diretas,
Com as indiretas nas mãos.
O estadista de São João Del Rey
Tem barroco e riquezas
Pelas Minas que passei
O presidente escolhido
Que nunca foi - poderia ter sido

Liberdade! Ainda que tardia
Leva o nosso herói
Para transformá-lo em estrela guia