FICHA TÉCNICA 1998

 

Carnavalesco     Oswaldo Jardim
Diretor de Carnaval     Paulo Varelli
Diretor de Harmonia     Vladimir Candimba
Diretor de Evolução     Vladimir Candimba e Paulo Varelli
Diretor de Bateria     Mestre Ciça
Puxador de Samba Enredo     Serginho do Porto e David do Pandeiro
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Vanderli e Juju Maravilha
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Maurício e Janaína
Resp. Comissão de Frente     Marcelo Misailidis
Resp. Ala das Baianas     Marisa Fernandes Pinto
Resp. Ala das Crianças     Maria Cecília de Souza (Lia)

 

SINOPSE 1998

De Gama a Vasco a epopéia da Tijuca

          Quem é Vasco da Gama? De que trono procede? Há homens que derivam de seus antepassados, todo o mérito. Estes são os que só valem pelo sangue dos avós, sangue já sem glóbulos vermelhos, sangue obscuro, inerte, incapaz de grandes feitos. Outros homens há, qual à semelhança do Nilo para os antigos, não se acerta dizer donde procedem e principiando em berço nevoento, aos poucos vai assombrando com seu nome e dominando assim com sua irresistível superioridade uma inteira civilização. Assim como o rio caudaloso do Egito, inundando os campos com a sua corrente impetuosa, derrama o seu manteiro fecundíssimo na região por onde corre já distante das nascentes ignoradas. Estes homens são ao mesmo tempo tronco e rebento. A si mesmo se coroam. Fazem acontecer sem que importe quem antes ou depois deles existiram. São como os Bonapartes, os Newtons e os Shakspeares. E assim é Vasco da Gama.

“Cessem do sábio Grego e do Troiano
as navegações grandes que fizeram;
cale-se de Alexandre e de Trajano.
Afama das vitórias que tiveram;
que eu canto o ilustre peito lusitano,
a quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a musa antiga canta,
que outro valor mais alto se alevanta”

Os Lusíadas, Luís de Camões

          O G.R.E.S. Unidos da Tijuca muito honrosamente decidiu abordar como tema para o Carnaval de 1998 A Epopéia de Vasco da Gama, uma vez que em 98 se comemora os 500 anos da viagem deste Almirante as Índias, e os 100 anos do Clube de Regatas do Vasco da Gama do qual ele é o patrono.
          Ao pesquisarmos a fundo toda a sua história tanto do corajoso Almirante quanto do clube que leva honrosamente seu nome, concluímos que ninguém melhor para narrar-lhes que o próprio Vasco da Gama. Portanto com a palavra o Almirante Vasco da Gama:
          Fazem 500 anos e parece que foi ontem. Desde menino os Oceanos me fascinavam. Muito cedo comecei a me interessar pelos estudos astronômicos e pelas navegações de meu país. Me lembro que nessa época (1422 à 1487) os Portugueses tinham descoberto e explorado toda a Costa Ocidental Africana e Bartolomeu Dias dobrado o Cabo da Boa Esperança. Porém, um sonho enchia de inquietude o grande D. Manuel: Dobrar o Cabo das Tormentas e seguir em direção às Índias. Paralelamente sem nada imaginar sobre o que me aguardava de tamanha inquietude meu peito também se enchia. Como um grande poema que precisava nascer de dentro do artista.
          Hoje não tenho mais dúvida de que fui escolhido. Escolhido pelos antigos deuses para executar uma grande missão de estreitar as relações dos homens de minha época. Unindo Portugal as Índias. Foi como unia grande Profecia quando o Astrólogo Judeu Abraão Zacuto procurou D. Manuel e disse-lhe: “Trago boas novas, meus astros não só disseram que é possível mas também obterás sucesso. A Índia será “descoberta” por dois irmãos portugueses”.
          E assim começou realmente a minha vida e a de meu irmão. Partimos a 8 de junho de 1497 de Lisboa da praia do Restelo rumo ao desconhecido mas com a certeza de que daríamos tudo para cumprir com honra e sucesso o nosso destino.
          Muitos meses se passaram. Costeamos toda a África Ocidental conhecendo povos travando contatos com civilizações que certamente nunca haviam visto um homem branco. Corremos muitos riscos mas valeu a pena.
          Agora se aproxima a parte mais difícil da batalha. Dobrar o Cabo das Tormentas, o encontro do Atlântico com o Índico. Muitas Lendas eram narradas por antigos navegadores. Diziam que neste ponto Poseidon encontrava-se de tempos em tempos no auge de sua ira. Que sempre se lançava em ondas gigantescas como fábrica de espuma sobre as Naus que tentassem ali atravessar. Neste momento senti que realmente tinha uma missão determinada pelo Alto. Como o antigo poeta grego narra me pareceu que a mesma espuma produzida pela cólera de Poseidon fez com que ele se acalmasse. A sensualidade e a doçura de Afrodite neste momento conseguiu atenuar até o mais impetuoso dos Deuses que os Romanos chamavam de Netuno.
          Três meses de grande agonia e desespero nos sucederam variados entre fortes tempestades e densos nevoeiros. Num ponto da Terra onde o dia durava não mais que seis horas. A moral de meus homens estava baixa, muitas vezes tive que ser enérgico com eles para que não caíssem em desânimo nos levando à todos ao fracasso da viagem. As recomendações do astrólogo Zacuto não me saiam da cabeça. Ele recomendam que jamais nos dividíssemos pois isto seria ponto fundamental para o sucesso da expedição.
          E assim com determinação e segundo uma orientação divina que vinha de dentro de mim, às vésperas do dia de Santa Luzia enfrentamos a mais forte e perigosa tempestade desde que do Tejo saímos. As vozes a Deus pediam misericórdia. Somente os capitães afrontavam heroicamente o perigo da borrasca, esforçando-se e repreendendo os marinheiros de ânimo descaídos da antiga fortaleza.
          Serenada a tempestade avistamos a aguada de São Brás e ali folgamos da tremenda tormenta. Dali para o rio D. Infante de lá para o rio do Cobre, deste para o rio dos bons sinais, Moçamba, Melinde e finalmente Calecut. Eu e meus homens na certeza que gozávamos da proteção dos céus guiados pelo sol dourado do Oriente.
          As conseqüências de minha viagem foram um enorme quadro de progressos. A reformulação da economia de toda a Europa. Em Calecut afloravam os grandes temperos e preciosidades do Oriente tão almejadas pelos Europeus. Ali se encontrava em grande cópia e variedade de pimenta, cravo, canela, maçã, noz-moscada, aljôfares, pérolas, a mais preciosa pedraria; a cânfora, o almíscar, os fragrantes lenhos de águila e de sândalo, porcelanas, marfins e os artefatos do mais formoso valor do Grande Oriente. Calecut era a grande feira universal. Porém mais do que isso minha viagem marcava o cruzamento de culturas. O mundo conhecia então novos mundos.
          Acho que meu nome sempre esteve fadado a surpresas para mim mesmo. Já começo a me acostumar com o inesperado. 400 anos mais tarde me vejo renascer, não mais como um homem apenas mas como um ideal. Venho renascer num país tão jovem quanto eu era quando saí do Tejo em busca das Índias, e com tanta esperança e prosperidade quanto eu e meus homens tínhamos. Venho a renascer no Brasil em meio a jovens sem antepassados ilustres como eu, mas com um grande ideal de união entre dois povos: o português e o brasileiro.
          Agora eu sou o Clube de Regatas Vasco da Gama.
          No Rio de Janeiro nesta época, os clubes tinham a função principal de serem o ponto de encontro da juventude que começava a descobrir o gosto pelas atividades esportivas. Primeiro as regatas que arrebanhavam a princípio as altas classes e depois tomando conta da parte menos favorecida pela população.
          Como se fosse hoje me relembro dos saraus dos piqueniques que se sucediam as competições náuticas. Graças a Deus sempre com muitas vitórias.
          A velha barca da cantareira e os lindos dias de passeios festivos pela Baía de Guanabara até a Ilha do Engenho.
          Sem nunca abandonar o velho mar nas competições comecei agora com o grande Clube Vasco da Gama a me dedicar ao futebol que com certeza ao longo do tempo trouxe muitas alegrias ao povo brasileiro.
          Meu quadro de troféus é sem dúvida o meu grande orgulho bem como a rara taça Thereza Herrera que pela primeira vez após vários anos de disputa saia da Europa para o Brasil pelas minhas mãos.
          Devo este meu segundo sucesso. agora como Clube de Regatas Vasco da Gama aos meus dirigentes, que tal como meus antigos capitães sempre valorizaram os seus atletas. Não pelos seus ancestrais nobres de origem, mas pelo valor individual de cada homem; independente da cor ou posição social que eles ocupassem. Com isso fiz muitos amigos, homens simples e homens simplesmente brilhantes como o Ex-Presidente da República o Sr. Getúlio Vargas, o qual anunciou as bases da nova lei trabalhista na Tribuna de Honra do Estádio de São Januário - então minha nova casa na Terra.
          Como toda a minha existência foi de lutas, não continuo diferente ainda luto por vitórias para a alegria do meu povo que agora não se restringe mais apenas a Portugal mas também a este imenso país chamado Brasil.
          Olhando aqui do alto onde hoje moro vejo com graça a grande Terra azulada. A grande bola pela qual eu andei navegando durante toda a minha vida. E para terminar nossa prazerosa conversa devo dizer que a bola sempre foi a razão da minha existência. Antes andava em torno dela procurando continentes e prosperidade para os homens. Hoje ponho a bola para rolar nos verdes campos da Terra trazendo a partir de disputas alegrias para os homens deste Planeta Bola que tanto ainda me ponho a amar.

Vasco da Gama 1998

          Depois de tudo o que ouvimos e vivemos, nós da Unidos da Tijuca, em nome de todos os portugueses e brasileiros só temos a lhe agradecer por tudo o que fizestes não só por nós, mas com certeza por toda a humanidade com tua coragem e determinação. Aproveitamos a ocasião em que completas 100 anos de tua nova existência na Terra - como Clube de Regatas Vasco da Gama - para te desejar Parabéns! Muitas Felicidades. Pedindo que daí do final do arco-íris onde moras sempre possas nos orientar pelos vários caminhos que nos aguardam a vida.

“Podei-vos embarcar, que tendes vento
e mar tranqüilo para pátria amada.”
Assim lhe disse. e logo movimento.
Fazem da ilha alegre e namorada.
Levam a companhia desejada
das Ninfas, que hão de ter eternamente.
Por mais tempo que o sol o mundo aquente.

Os Lusíadas, Luís de Camões.

Oswaldo Jardim

 

SAMBA ENREDO                                                1998
Enredo     De Gama a Vasco, a epopéia da Tijuca
Compositores     Adalto Magalha, Serginho do Porto, Márcio Paiva e Adilson Gavião
Através da mão divina (amor)
Naveguei, naveguei
O meu sonho de menino
Quis assim o meu destino
Portugal e toda a Europa encantei

Naveguei
E novos povos encontrei
Por tempestades e lendas eu passei
Para um almirante a coragem é a lei

Por tantos mares viajei
Na Índia, eu então cheguei
Veio o progresso nessa aventura
Descobertas e culturas

É nessa onda que eu vou
O povo vai recordar
Vem com a Unidos da Tijuca festejar

Rio de Janeiro brasileiro meu irmão
Sou Vasco da Gama tantas vezes campeão
Quando entra no gramado me alucina
Esse clube da colina, centenário de paixão

Estrela no céu a brilhar
Que faz essa galera delirar

Vamos vibrar meu povão (é gol, é gol)
A rede vai balançar, vai balançar
Sou Vasco da Gama, meu bem
Campeão de terra e mar