FICHA TÉCNICA 1979

 

Carnavalesco     José Alves do Rio e Roberto Bastos
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1979

O Rio de Janeiro em tempo de Debret

Introdução: A missão artística Francesa

          Quando D. João VI foi elevado à categoria de príncipe real do Reino Unido de Portugal e Algarves, compreendeu que o Rio de Janeiro, sede da monarquia, necessitava de estabelecimentos de educação que completassem os melhoramentos levados a efeito na América Portuguesa desde 1805. Dentre tantos melhoramentos, encontramos o da vinda da Missão Artística Francesa de 1816 que tanto veio favorecer às artes plásticas brasileiras. Resolve assim contratar na Europa em 1815, um grupo de artistas e artífices que aqui viesse fundar uma escola de ciências, artes e ofícios, aproveitando idéia sugerida por D. Antônio de Araújo Azevedo, Conde de Barca.
          Assim sanados todos os entraves, inclusive as dificuldades impostas pelo governo ante a imigração de tantos artistas de incontestável valor, ficava a Missão Francesa constituída da seguinte forma:

  • Joaquim Lebreton (1760-1819) – chefe

  • Jean Baptiste Debret (1768-1830) – pintor-histórico

  • Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) – pintor de paisagem

  • Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (1766-1850) – arquiteto

  • Auguste Marie Taunay (1768-1848) – escultor

  • Charles Simon Pradier (1786-1848) – gravador

  • Segismund Neukomm (1778-1858) – compositor, organista e mestre-de-capela

  • Nicolas Moolion Ekout, Jean Baptiste Level, Louis Joseph Rovefilho – Artífices

          Recebendo recomendações especiais na embaixada em Paris, embarcaram os componentes da Missão no veleiro norte-americano “Calpe” partindo do Havres a 22 de fevereiro de 1816 com destino ao Brasil.

A vida de Debret

          De todos os componentes da Missão Francesa o que mais nos chama a atenção é Jean Baptiste Debret.
          Nasceu em Paris a 18 de abril de 1768.
          Após regresso de uma viagem a Itália, conseguindo aí um prêmio com o quadro “Régulo voltando a Cartago”, ingressou em 1785 na Academia de Belas-Artes. Depois cursou a Escola Politécnica lecionando posteriormente a cadeira de Desenho.
          Em 1814 perdeu seu único filho de 19 anos, caindo em estado de total desânimo acabou seguindo para o Brasil, na missão com Lebreton.
          Permaneceu no Brasil de 1816 a 1831. Lutou sempre pela melhoria do ensino da pintura de que foi um grande renovador. Diante das dificuldades encontradas para o início do curso na Academia, Debret, juntamente com Montigny abriu um curso de pintura em sua própria casa. Entre seus discípulos podemos citar: Francisco Pedro do Amaral, Manuel de Araújo Porto Alegre, Simplício Rodrigues Sá, José da Silva Arruda, Guilherme Muller, etc.
          Observador profundo, desenhista e colorista extraordinário, fez uma obra notável. “Voyage Pittoresque et Artistique au Brèsil” abundantemente ilustrada em 3 volumes.
          Nela ele retrata bem os costumes do povo e da sociedade da época, as artes, ofícios, comércio, arquitetura, além de aspectos e hábitos dos índios e da flora.
          Foi ainda gravador, água-fortista e heraldista, sendo de sua autoria as armas e a Bandeira do Império do Brasil assim como as belas insígnias da Ordem da Rosa e do Cruzeiro do Sul.
          Participando desde sua chegada ao Rio de Janeiro de importantes atividades artísticas Debret teve, de fato, inúmeras ocasiões, durante sua permanência no Brasil, de pôr a prova essa qualidade.
          Desde as soleníssimas festas que marcaram a Aclamação de D. João VI, o desembarque da princesa Leopoldina, os principais acontecimentos políticos do Reino Unido até os do Primeiro Reinado foram fixados em várias de suas telas.
          Século e pouco passados, a dedicação do artista valeu-lhe a honrosa expressão “Tempo de Debret” , quinze anos em que começou a ser plasmado com mais intensidade a nacionalidade brasileira.

Tempo de Debret

          A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, além do documentário iconográfico contém como explicou o autor na Introdução, precisas informações sobre acontecimentos, usos, costumes, dados etnográficos e estatísticos relativos em geral ao período em que Debret aqui residiu.

1ª Parte: O Estado selvagem do povo brasileiro

“O Índio”

          Quando a Missão chegou ao Brasil, a população indígena ia sendo tangida para o interior ou desaparecida, vencida irremediavelmente pela assimilação ou pelo extermínio decorrente da marcha da civilização.
          Todo este sofrimento é representado por Debret pela expressão do rosto de um chefe Camacã Mongoió, traduzindo esse sentimento de preocupação. Já a índia desta mesma tribo apresentava formas roliças e enfeites tradicionalmente usados eram de natureza mais delicada predominando a utilização de flores e colares, havendo aí, um singular contraste com a exuberância muscular dos índios afeitos às duras lides da caça e da guerra.
          A vida dos índios era uma sucessão de guerras e festas.
          Durante o combate o chefe ficava sempre num ponto elevado de onde sempre pudesse dominar o campo de batalha para observar a luta ou dar as ordens necessárias.
          Segundo Debret dava-se o nome de caboclo a todos os índios civilizados ou aos que já haviam sido batizados. Estes índios ajudavam aos ricos proprietários da região em suas tarefas em troca de gêneros alimentícios e de aguardente.
          Já os borenos além de serem exímios no arco, flecha e tacape, atacavam as habitações inimigas com tições ardentes feitos de galhos de pinheiros envolvidos por fibras e resinas combustíveis.
Os selvagens chardos utilizavam-se de cavalos selvagens que inclusive faziam parte de sua alimentação. Os civilizados se destacaram na venda de animais aos brancos. Eram também freqüentemente utilizados como guias de caravanas que seguiam para o interior. Sua valentia era tradicional. Faziam-se pagar com dinheiro que desperdiçavam nas tabernas em fumo, cachaça e jogo.
          Os guaicurus possuíam hábitos tradicionalmente diferentes das demais tribos do país. Sabiam domar com habilidade os cavalos selvagens. Possuíam um padrão de vida sensivelmente superior aos outros selvagens, mas mantinham-se fiéis ao uso da tatuagem.
          Outros índios civilizados procuravam imitar em suas tatuagens a indumentária militar européia. O penteado era levantado como uma espécie de diadema como as mulheres brancas usavam. Em suas danças usavam apenas o tambor para fazer o acompanhamento musical.
          Os índios depois de civilizados faziam diversas atividades inclusive a lavagem de roupas, que ficava a cargo das mulheres. Essas roupas, eram lavadas nas águas do rio que descia das Laranjeiras e desaguava na Praia do Flamengo (Carioca). A roupa lavada e engomada era entregue na porta dos fregueses, conduzindo-na à cabeça em grandes trouxas como ainda hoje as lavadeiras fazem.
          Os índios guaranis cuja atividade era especialmente dedicada à cultura da uva e à fabricação do vinho, tinham nos seus usos e costumes características acentuadas dos povos hispano-americanos especialmente nas vestimentas.
          Eram também empregados no Rio de Janeiro como artilheiros. Suas mulheres provinham da catequização jesuítica e seguiam à risca os rituais da igreja católica.

2ª Parte

          Entra em cena o colonizador: o branco e o negro africano ao qual dedica o autor a quase totalidade de suas gravuras.

O Negro Africano

          A simples observação das estampas escolhidas nos dá uma clara idéia do enorme papel desempenhado pelo negro na sociedade da época.
          Era a força de trabalho por excelência em qualquer setor da atividade que exigisse movimento, lá estava ele com seus músculos retesados gemendo, mas suportando a parte pior de todo o serviço.
          As ruas se enchem de vendedores ambulantes com seus enormes cestos que serviam para o transporte na cabeça de qualquer carga. As aves transportadas aos ombros ou dentro dos jacás eram vistas de longe e os vendedores de samburás e palmitos, davam curiosa nota pitoresca á vida da cidade.
          Pássaros e beija-flores, o curioso “Regresso dos negros e de um naturalista”, gravura que Debret tão bem representa a natureza de nosso país que parecia não ter limites no que respeitava à variedade da flora e da fauna.
          O carvão também era vendido nos jacás por negros que o iam apanhar à beira do cais ou nos pontos de chegada das tropas do interior. Espigas de milho eram assadas ou cozidas e vendidas nas ruas e praças da cidade.
          As negras livres procuravam ganhar a vida trabalhando como costureiras em casas francesas ou como quitandeiras vendendo, legumes e frutas. Eram vendidos também o aluá (bebida feita a base de arroz), os limões de cheiro, a cana, o manoé (pastel de carne) e o sonho, que ainda hoje constitui doce de fabrico obrigatório nas confeitarias.
Haviam também as negras vendedoras de angu que começavam cedo suas atividades que duravam o dia inteiro.
          Os catadores de rua faziam as delícias dos escravos que perambulavam por todas as partes da cidade. O pão-de-ló era um dos doces de maior consumo no Rio de Janeiro e seus vendedores saíam de casa pela manhã para correr a freguesia e vender nas ruas e voltavam a tarde às suas ocupações costumeiras.
          Era hábito o emprego de flores para traduzir sentimentos de amor.
          Vendiam-se também nas ruas o sapê e o capim seco utilizados na fabricação de colchões e travesseiros.
          A lavagem de roupas ocupava um grande número de escravos e era feita em geral, à beira dos rios. Essa atividade era também exercida nos chafarizes da cidade principalmente nos da Carioca e Campo de Santana sendo que este último chegou a ser apelidado “Chafariz das Lavadeiras” pela quantidade de mulheres que dia e noite trabalhavam junto dele.
          Os vendedores de arruda eram os que mais lucravam com sua venda, pois era uma das ervas mais usadas, possuindo a virtude segundo se acreditava, de evitar o mau-olhado, encostos e outras superstições. Dizia-se “toma arruda que ela remedia tudo”.
          Mas a vida no Rio de Janeiro naquela época não se limitava apenas aos vendedores ambulantes, também os negros tinham seus momentos de prazer e poesia.
          A poesia tão brasileira do passeio nas tardes de domingo de mistura com uma antevisão das serestas do violão e cavaquinho é captado (foi) pelo pincel de Debret. Nasce assim a escola de samba que hoje se transformou numa organização extremamente festiva.
          Nas brincadeiras de carnaval predominavam o emprego de limões-de-cheiro que eram, na realidade bolas ocas de cera contendo um líquido perfumado. Os negros divertiam-se jogando uns nos outros grandes quantidades de polvilho. Os moleques usavam seringas cheias de água para dar nos companheiros verdadeiros banhos. Este tipo de festa era chamado de Entrudo que hoje chamamos de Carnaval.
          A malhação do Judas era um sinal de alegria, anunciando o Sábado de Aleluia. A queima dos bonecos ocorria simultaneamente com as salvas de artilharia.
          Nas festas de Natal e da Páscoa muitos negros aproveitavam para ir à roça para visitar os parentes. As mulheres vestiam-se com suas melhores roupas além de levarem presentes para seus compadres e afilhados.
          O batismo dos negros constituía cerimônia um tanto o quanto bárbara pois dava-se um verdadeiro banho forçado nas crianças provocando por parte delas enorme berreiro.

O Branco

          Já o homem branco segundo Debret levantava-se antes do sol percorria com a aragem uma parte da cidade, entrava na primeira igreja aberta, rezava e continuava o seu passeio até às seis horas da manhã. Almoçava então, jantava ao meio dia e fazia a sesta até às três horas da tarde. Vida boa essa ein?
          Por vezes à tarde juntavam-se os homens de todas as classes sociais capitalistas, capitães de navios, embarcadiços, funcionários, oficiais das tropas, comerciantes em geral, religiosos e até desocupados para tomarem refrescos e comerem doces oferecidos pelas negras doceiras.
          Os domingos e dias santificados davam oportunidade às esposas e filhas dos homens da classe média de exibirem seus vestidos para as amigas ou no caso das meninas tentarem começar até um namoro com algum rapaz de boa família. Nestas ocasiões as cadeirinhas eram utilizadas comumente para conduzir as senhoras à missa.
          As cadeirinhas e serpentinas das damas eram fechadas com portinhas e cortinas ou postigos de maneira que elas podiam arriscar um rabo de olho para fora sem contudo serem vistas. Casamentos e batizados eram feitos também neste veículo. Nos casamentos a noiva era transportada para igreja numa delas, à frente do cortejo. O noivo, os padrinhos e convidados seguiam logo atrás a pé. Nos batizados era a babá quem desfrutava a honra de ir de cadeirinha com o bebê ao colo e o resto, pais, padrinhos e convidados seguiam ao lado a pé.
          Nos domingos ou dias de passeio, era comum se observar cenas de um funcionário público ou chefe de família saindo de casa fazendo-se observar uma rigorosa ordem de precedência. Ele, naturalmente rompendo a marcha. Seguem os filhos com os novos à frente, a mulher já esperando outra criança, sua criada de quarto, as amas, o criado do patrão e mais alguns escravos de serviço doméstico e por vezes até o cachorrinho.
          No primeiro domingo da Semana Santa, a procissão de Ramos era um acontecimento na vida da cidade. Não faltavam anjinhos tradição que continua até hoje. Aos escravos conduziam as palmas bentas pertencentes ao seu amo, é de muito uso por ocasião das fortes trovoadas de verão.
          A festa do Imperador do Divino Espírito Santo era também uma nota pitoresca. Era precedida um bando ruidoso de jovens tocadores de violão, de pandeiros e de ferrinhos. Um tambor e um porta bandeira completavam o quadro de acompanhantes, a que não faltavam os pedintes e dois irmãos da Irmandade que escoltavam o jovem monarca.

3ª Parte: Reinado e Império

A Corte

          O último tomo do livro de Debret foi dedicado à apreciação de nossa histórica política e religiosa.
          O autor esteve no Brasil numa época marcada por acontecimentos decisivos pra os nossos destinos. Aqui ele chegou quando ainda festejávamos a elevação do país à categoria de Reino Unido a Portugal. Contribuiu com seu trabalho pra as solenes festividades com que se celebrou a Aclamação de D.João VI no Rio de Janeiro, cuja estampa vale um instantâneo da solenidade histórica da ascensão de Dom João VI, antigo Príncipe-Regente do Brasil à condição de rei. Focaliza o momento dos aplausos assim como a vista exterior da galeria da Aclamação de D. João VI.
          Retratou com exatidão também o Cortejo do Batismo da Princesa Real D. Maria da Glória, as esposas dos monarcas que governaram o Brasil durante o período em que aqui viveu como A arquiduquesa Leopoldina, a rainha D. Carlota Joaquina e a princesa Amélia, segunda esposa de D. Pedro I.
          Debret retratou com exatidão uma das mais famosas cenas históricas brasileiras, O desembarque da Princesa Real D. Leopoldina pouco tempo antes da Aclamação de D. João VI que movimentou a cidade inteira pela imponência das solenidades. Arcos de triunfo são erguidos, ruas e casas enfeitam-se fogos de artifícios são queimados.
          Como parte das comemorações relacionadas com a Aclamação do Rei D. João VI, houve a exibição de um bailado. Debret pintou o pano de boca do teatro.
          Assim como Debret representou tão bem os costumes e roupagens dos mais humildes, soube também retratar o fausto, as grandes vestimentas e retratos das damas da corte e os uniformes dos oficiais e ministros com bordados na gola e nos enfeites.
          Outros acontecimentos importantes da corte foram observados por Debret, como o regresso da Corte a Portugal, a Jornada do Dia do Fico, A Independência com suas grandes figuras como: José Bonifácio e José Clemente Pereira, a Aclamação de D. Pedro I, foram episódios ocorridos durante a permanência de Debret entre nós.
          Essas são as deliciosas gravuras de Debret disputadíssimas nos dias de hoje dado o seu caráter espontâneo e vivo, destituídas de pretenções excessivas de técnica chegam elas aos nossos dias sem o ar avelhantado das coisas seculares, mas trazem á hora atual a presença dos velhos tempos de “Rio de Janeiro em tempo de Debret”.

José Alves do Rio

 

SAMBA ENREDO                                                1979
Enredo     O Rio de Janeiro em tempo de Debret
Compositores     Altair, Erodilson e Joãozinho

Sonhei com a beleza do meu Rio
Despertei no momento de lhe exaltar

Abracei as asas da poesia
Me inspirei com alegria
Neste tema espetacular

Debret vindo de terra distante
Com a missão importante
Do nosso Brasil retratar

Pintou a tribo de índios guerreiros,
Desenhou no cativeiro
Negros no tronco a penar

Que maravilha!

Lucas apresenta neste carnaval
Lindos quadros de pintura
Obras-primas deste gênio imortal

A corte engalanada,
Na alegria do seu esplendor!
O desembarque da Princesa Leopoldina
E a coroação do nosso Imperador

As mulheres na Liteira,
A folia do divino,
O passeio da nobreza
Oh! que cortejo tão lindo