FICHA TÉCNICA 2006

 

Carnavalesco     Ricardo Machado e Jairo de Souza
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     Lotar
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     Robson Luiz Moreira (Mestre Orelha)
Puxador de Samba Enredo     Edimilton de Bem
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Marcos e Gláucia Ferreira
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Luis Paulo e Selma Regina
Resp. Comissão de Frente     Comissão de Carnaval
Resp. Ala das Baianas     Tia Iracy
Resp. Ala das Crianças     Tânia

 

SINOPSE 2006

Luiz Gonzaga - Lua Viajante
(Reedição do Samba da Escola em 1982)

Justificativa

          Trata-se de uma reapresentação do enredo da Unidos de Lucas no Carnaval de 1982, Luiz Gonzaga – Lua Viajante, de Autoria de Carlos D'Andrade, tendo como compositores do Samba enredo os consagrados Zeca Melodia, Dagoberto de Lucas e Dona Gertrudes, esta, uma das pioneiras como compositoras de Samba Enredo no Carnaval Carioca. O Samba Enredo de autoria desses renomados compositores foi condecorado como melhor Samba Enredo do grupo de acesso “A”, tendo sido premiado pela crítica. Com o Prêmio Estandarte de Ouro. Devido ao grande sucesso que representou o Enredo Luiz Gonzaga – Lua Viajante bem como o sucesso alcançado pelo Samba Enredo e pela forma como é sempre lembrado nos ensaios da Escola, e de outras agremiações, optou a Unidos de Lucas pela reapresentação. A decisão tomada pela diretoria da Escola foi referendada por todos os amigos, simpatizantes e componentes da agremiação e também pela crítica especializada. Ademais, trata-se de uma homenagem ao inesquecível Lua Viajante um Astro da Nossa Música Popular, que à época participou da gravação do Samba Enredo tocando o seu Fole Prateado e também cantando com Abílio Martins intérprete da Escola e renomado no mundo do samba. O nosso Lua, indo além, também honrou a Unidos de Lucas e brindou a Passarela do Samba com a sua participação no desfile. Muitíssimo honrada a Unidos de Lucas registra e carrega consigo esse fato inédito, essa “DÁDIVA DO CÉU” que sem dúvida, merece lugar de destaque nos anais do Carnaval e do Samba da Cidade do Rio de Janeiro. Tudo isso porque “Vale um tesouro o que fez por merecer” como registra a letra do Samba Enredo, e não poderia ser diferente Lua, “Hoje a vermelho e ouro” emocionada e honrada novamente “Vem cantando pra você”.

Sinopse

          Nas pesquisas realizadas pela Comissão de Carnaval da Unidos de Lucas encontramos:
          Palavras dele o nosso homenageado Luiz Gonzaga – Lua Viajante.

          “Gostaria que lembrasse muito de mim, que sou filho de Januário e de Santana, que decantei os pássaros, os animais, os valentes, os covardes, os pobres, os beatos e o Nordeste. Gostaria que lembrasse que esse sanfoneiro amou muito seu povo e o seu Nordeste."

Histórico e Justificativa do enredo: Luiz Gonzaga – Lua Viajante

          Sertão de Pernambuco, Cidade de Exú, madrugada de 13 de dezembro de 1912. Diante da expectativa do nascimento de seu filho, Januário, um humilde lavrador, mas também um sanfoneiro muito conhecido e respeitado na região, observa da varanda de sua casa, cruzar no azul violeta do céu de Exú, uma zelação, estrela cadente que simboliza para o sertanejo proteção e boa sorte.
          Para Januário era o prenúncio da brilhante carreira de um filho da terra que acabara de nascer e mais tarde, abençoado, viria a se tornar um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, um ídolo e o principal representante e defensor da música Nordestina no Brasil.
          Luiz Gonzaga, instrumentista, cantor e compositor conseguiu com seu inegável talento estampado em cada uma das suas canções e através de sua vasta discografia retratar a vida, os costumes e o folclore do nordeste brasileiro.
          Sua voz consagrada pelo seu povo como a “Voz do Sertão” superou preconceitos, rompeu todas as fronteiras revelando um repertório verdadeiramente simples e autêntico que até hoje conduz o nordestino as suas origens àquela terra de um solo vermelho-alaranjado, rachado pelo sol escaldante a terra dos cangaceiros, vaqueiros, terra das caatingas, mandacarus, carcarás e gaviões, e da asa branca, a pomba cinzenta do sertão. Tudo isso contado e cantado com amor, orgulho e alegria, e com uma identidade cultural com o sertanejo, com o lavrador, com o vaqueiro do sertão, enfim, com o homem do campo em geral. Luiz Gonzaga
foi esculpindo em notas musicais a cara e revelando a alma do povo nordestino. Cantou as dores, as alegrias e os amores de um povo que ainda não tinha voz, escreveu Luiz Gonzaga, com suas canções, a epopéia do nordeste de forma simples, colorida, bonita e grandiosa, mostrando assim, do seu jeito simples, natural e verdadeiro, a realidade daquela região. A identidade cultural do nordeste e de seu povo se entrelaça com a vida e a obra de Luiz Gonzaga o menino filho de Januário e de Santana que desde cedo despertou a curiosidade pela sanfona, instrumento típico daquela região que também era tocado pelo pai Januário. Assim Luiz Gonzaga passou a toca-la, abraçando-a com todo o amor e afeto. Luiz Gonzaga aprendeu a tocar a sanfona de oito baixos de seu pai Januário passando a acompanha-lo, cantando e tocando nas feiras, festejos e forrós. Então esse sanfoneiro, ainda muito jovem, fugiu de casa, foi para o Crato, daí para Fortaleza onde matriculou-se na Escola do Pobre tendo, em seguida, ingressado nas fileiras do exército isso na década de 30. Por força da Revolução de 30 percorreu muitos lugares tendo chegado a Juiz de Fora (MG). Quando deixou o exército em 39, comprou sua grande companheira, uma sanfona prateada (fole prateado) e assim, determinado, tocado pela e esperança, Luiz Gonzaga decidiu seguir para o Rio de Janeiro, onde para sobreviver, passou a se apresentar nas ruas, nos bares da zona de prostituição carioca, nos cabarés da Lapa e nos inferninhos da Praça Onze, tocando boleros, valsas e tangos para os marujos e prostitutas e também para os irmãos nordestinos que nesses lugares se reuniam. Sentindo no olhar dos irmãos nordestinos, a carência que eles tinham de ouvir coisas da terra, passou então a cantar, com grande sucesso, xaxados, xotes, chamegos e cocos.
          Com muita fé, garra, determinação e esperança, Luiz Gonzaga foi levado a tentar uma vaga no Programa de Calouros de Ary Barroso, na Rádio Nacional, principal emissora de rádio na década de 40.
          E foi nas ondas da Nacional, no Rio de Janeiro, que Luiz Gonzaga, tocou pela primeira vez uma canção de sua autoria, “Vira e Mexe” sendo ovacionado delirantemente pela platéia do programa, conquistando também a admiração e simpatia do rígido apresentador Ary Barroso. E de tudo isso resultou um contrato assinado com a Rádio Nacional e a gravação de dois elepês de 78 rotações. Assim, em retribuição ao seu povo que por ele nunca fora renegado, procurando sempre ser um artista ligado as suas raízes, deixou de lado o terno e a gravata, traje usado pelos artistas da época, e foi buscar na figura de Lampião uma forte marca nordestina, doravante passando a se apresentar com trajes típicos de cangaceiros do Nordeste brasileiro.
          Por seu inegável e reconhecido talento, foi galgando os degraus da fama, conquistando a simpatia de muitos e do ator Paulo Gracindo, carinhosamente, ganhou o apelido de Lua em razão do seu rosto arredondado. O nosso Lua passou a percorrer o Brasil realizando diversos shows consolidando a sua carreira como instrumentista, cantor e compositor. Luiz Gonzaga, dentre outros, foi parceiro de Humberto Teixeira, de Zé Dantas sendo responsável pela criação de um ritmo, estilo e temática de uma nova categoria musical, o Baião do qual o nosso Luiz Gonzaga – Lua Viajante se tornou o rei.
          A parceria com Humberto Teixeira, rendeu à Luiz Gonzaga, grandes sucessos como: “Meu pé de serra”, “Baião”, "Assum Preto”, “Respeita Januário”, e entre outras a consagrada composição “Asa Branca” , considerado por muitos um hino que narra a trajetória nacional do Nordestino e sua saga.
          Já com Zé Dantas, ficaram mais identificados os costumes e a cultura nordestina, como o “Xote das Meninas”, “ABC do Sertão” , "Cintura Fina”, “Vozes da Seca” entre tantas outras.
Mas seria com o parceiro Hervê Clodovil que ele comporia a canção que se tornaria o retrato de sua própria vida, “A Vida do Viajante”.
Luiz Gonzaga, o Lua Viajante, serviu ainda de intérprete para outros compositores cantando diversas canções que falavam de amor e saudade do sertão, emprestando seu estilo próprio a diversas cantigas compostas para os festejos juninos que fortemente marcam o folclore nordestino.
          Luiz Gonzaga, o “Gonzagão” como mais tarde também veio a ser chamado em razão do surgimento do sucesso musical do seu filho Gonzaga Júnior, o “Gonzaguinha”, com suas canções levou para as apresentações e registrou em discos ritmos e batidas sensacionais com destaque para o Baião, aperfeiçoando a linha melódica desse maravilhoso e eternizado estilo musical, e por isso, foi considerado o Rei do Baião, criador desse gênero musical que até hoje faz parte do repertório de diversos cantores de sucesso e que simboliza o que se tem de melhor da musicalidade regional nordestina. Ele foi e sempre será a representação máxima da alma do povo nordestino, página eterna na história de sua gente, orgulho de todo povo brasileiro. Foi ele que apaixonadamente abraçado ao seu fole prateado, ostentando seu tradicional chapéu de couro, quem abriu a porta para tantos outros artistas nordestinos hoje consagrados, como nosso Lua, no Brasil e no Exterior. Em 1989, quando do seu falecimento, Gonzagão marcava a música, a cultura e o folclore brasileiro de forma incontestável e brilhante, com uma carreira consolidada e reconhecida também no exterior. Sua obra como compositor é tão vasta que nem ele próprio conseguiu o seu exato controle. Por isso, como de forma simples e autêntica revela o Samba Enredo da Unidos de Lucas: Vale um tesouro o que fez por merecer, ele, o Luiz Gonzagade sempre e de todos nós, nos legou um vasto acervo musical em verde, amarelo, azul e branco que realmente vale um imenso tesouro.
          O nosso “Lua Viajante” é até hoje o maior expoente da música que representa a cultura nordestina, sendo a referência e identificação do povo do sertão que marca presença por esse nosso Rincão Brasileiro em diversos movimentos musicais. E o nordestino tem na obra de Luiz Gonzaga o retrato da própria vida, por isso, segue levando-a em frente e sem medo de vive-la intensamente, visto que, por obra do Divino, vez por outra, cruza o céu da cidade grande e do agreste uma zelação como sustentáculo de fé e esperança.
          Inegável a identidade do Rio de Janeiro e do povo carioca com o Nordestino que tem seu marco inicial no bairro de São Cristóvão onde chegavam os “paus de arara” que transportavam para a cidade grande a esperança dos retirantes do sertão. Pelos nordestinos que ali se reuniam foi criada a Feira de São Cristóvão a capital do Nordeste na nossa Cidade Maravilhosa. Hoje passados 60 anos, todo esse elo e acervo cultural, foi consolidado, abrigado em monumento, magnificamente batizado de Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga que se tornou mais um ponto turístico da Cidade do Rio de Janeiro.
          E assim, a Unidos de Lucas, no seu desfile contará pequena parte da imensa história do imortal Luiz Gonzaga – Lua Viajante.
          Realmente "Somente as dádivas do céu poderiam ofertar tanta grandeza", como muitíssimo inspirados disseram, para sempre os compositores do samba enredo da Unidos de Lucas, os saudosos Zeca Melodia, Dagoberto de Lucas e Dona Gertrudes.

Ricardo Machado e Jairo de Souza

 

SAMBA ENREDO                                                2006
Enredo     Lua viajante
Compositores     Dagoberto de Lucas, Zeca Melodia e Dona Gertrudes

Vale um tesouro
O que por merecer
Hoje a vermelho e ouro
Vem cantando pra você

Somente as dádivas do céu
Poderiam ofertar tanta grandeza
Àquela terra iluminada pela própria natureza
Em Exu, madrugada linda !
O vento soprou pro mar
Ao ver Zelação passar
Januário delirou

(ô delirou)

Rogando uma boa sorte
Pr'um cabra-macho do norte o
Sanfoneiro e cantador

Vindo de uma terra quente
Onde viveu Lampião
Foi no Rio de Janeiro
Que o famoso sanfoneiro
Tornou-se rei do baião
Com seu fole prateado
Quando voltou ao sertão
Lá no seu pé de serra
Onde deixou seu coração
Já cantava "Asa Branca"
Assum Preto, mula preta
Como se dança o baião

Alô Luiz...
Luiz, respeita Januário
Respeita os "oitos baixos"do seu pai